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Árvores, gatos ou medidas?… Apenas noções?

  Afinal, que é a realidade? Que linguagem melhor se lhe refere? Apenas existem construções mentais? Ou até estas são falsas? Não há filósofo que não se interrogue nem cientista que não encontre respostas. Para cada época o mesmo problema com um feixe de interrogações novas. Porque a ignorância aumenta quanto mais se julga saber. Nem sempre a humildade está presente quando se encontram respostas. 

George Berclkey, (1685- 1753) não teria afirmado que “Uma árvore faz barulho ao cair se ninguém estiver lá para escutar? (Sem ninguém por perto que ouça não faz ruido) Porém, historicamente, Berclkey foi o filósofo do idealismo extremo. O seu subjectivismo (imaterialismo) negava as teorias de Locke e a sua “Tábua rasa” que afirmava nascermos sem dados do conhecimento e advogava o empirismo de todo o conhecimento. Berclkey defendia a não existência das ideias abstractas argumentando contra as teses de Newton acerca do espaço, tempo e movimento que explicados pela” atracção geral dos corpos” não esclareceriam nada. A linguagem é o instrumento que permanece nas suas mudanças e não o sujeito. Berclkey defendia que todas as ideias que temos das “coisas sensíveis são aquelas que são imediatamente percebidas pelos sentidos”.

A árvore faz ruído ao cair? Sem ninguém não faz.

  Assim, se não houvesse ninguém por perto da árvore, não havia perceção, logo não havia ruido. Sem observador, nada existe! Afinal, é pelos sentidos que construímos as ideias. O mundo constrói-se apenas assim e não por “coisas sem nós”. Não há nada exterior, “Esse est percepit” Ser é ser percebido. A linguagem fala sempre de construções de ideias nunca de coisas em si, mas apenas do exterior. Uma maçã só se entende pelos sentidos e depois pela construção mental. A realidade em si não tem existência. O idealismo afirma que a realidade, como os humanos podem conhecê-la, é fundamentalmente intelectual construída ou imaterial. Pelos sentidos temos perceções mas, sem sujeitos, os objectos em si não existem. Como sustentar uma teoria destas, apenas através da linguagem, sem poder transformar em teorias matemáticas?  Apelando para a presença de Deus em toda a parte.  A existência de um quarto, por exemplo, quando de lá saímos, continuaria a existir pois tudo depende do Ser Divino. Retomaria ao Idealismo de Parménides negaria o Nada agora porque Deus seria a perceção de tudo. As coisas por si mesmas não existem. Kant, para defender a Metafísica, adoptou a noção de “fenómeno” para a percepção de um objecto, e colocou aí o conhecimento científico, a “coisa em si” ou “númeno” se era impossível de conhecer seria possível de pensar. Afinal seguiria logicamente o idealismo, agora transcendental pois admitia que se podia pensar, sem conhecer, nas coisas em si. A generalidade de um raciocínio servia de base à ciência. Afinal é pela repetição que se pode generalizar e nunca ter uma certeza absoluta, pois não se pode tornar a probabilidade em absoluta. 
Em parte, seguia Berkeley mas quebrou a unidade da vida intelectual. O sujeito tem, pela ciência, o conhecimento parcial dos fenómenos que seriam percebidos e nunca os númenos que só a Metafísica pode estudar. Ideias como Deus ou a liberdade não podem ser do âmbito do conhecimento. Mas “nós é que mandamos” e afirma a existência do sujeito epistemológico. Todos estes problemas são problemas de linguagem e defensáveis nas linguagens e no observador. Curiosamente o problema das cores que tanto interesse levantou ao famoso Goethe, ou o injustamente esquecido psicólogo Fechner, levaria ao problema da Luz, e já suscitara a Berclkey fortes reflexões. Hoje há uma “medida” imprescindível na cosmologia científica e no micro cosmos quântico. 

Agora, após tantos séculos, a física foi forçada a reavaliar o papel do observador, tanto na relatividade como na mecânica quântica. Na relatividade, os absolutos da física newtoniana foram banidos, e as observações, obtidas pelos observadores em diferentes pontos de referência, tornaram relativas a tudo aquilo que estava disponível. Mas o papel privilegiado do “observador” desaparece pela sua subjectividade. Não se pode eliminá-lo e também não se limita “quem” poderá ser o observador. Se os problemas da linguagem vêm os gregos, a física continua a falar grego porque colocar em termos científicos, ou equações matemáticas, o que antes não se conseguia explicar noutras linguagens, mas não altera o problema central.
A veracidade dessas afirmações é credibilizada por qualquer tipo de pesquisa revisada por cientistas. O “observador torna-se “medida”. Como exemplo dessas afirmações, F. Capra declarou: “A característica crucial da Física atómica reside no facto de o observador humano não é necessário apenas para a observação das propriedades de um objeto mas, igualmente, para a definição dessas propriedades. Pelo contrário tais “medida” referem-se apenas a processos físicos.
O cientista Werner Heisenberg admite: “ É claro que o aparecimento do observador não deve ser interpretado como implicando que atributos subjetivos de algum tipo venham comparecer na descrição da Natureza.
A função do observador é apenas o registo de decisões, isto é, processos no espaço e tempo, e não importa se o observador seja uma máquina ou um ser humano; mas esse registo, isto é, a transição do “possível” ao “real”, é aqui absolutamente necessário e não pode ser omisso da interpretação na teoria quântica. O caso da árvore que cai sem ruído ou a impossibilidade de saber se o gato de Schrödinger está vivo ou morte, e a pipa que explode ou não explode de Einstein põem o observador alheio aos acontecimentos. Igualmente, Asher Peres alega que os “observadores” em mecânica quântica são (novamente, numa tradução livre) […] similares aos omnipresentes “observadores” os quais enviam e recebem sinais na forma de luz na relatividade restrita. A omnipresença do Ser, de Deus ou de uma racionalidade absoluta do Cosmos, afirma-se de muitas maneiras
O ser tem muitas maneiras de se apresentar em todas as linguagens. A questão “Por que existe o Ser em vez do Nada?” não tem sentido nem no materialismo mais completo, nem no idealismo absoluto e só uma parcela do que nos rodeia pode ser conhecido. O silencia e a ignorância estão por todo o lado. A árvore de Berclkey ou a pipa de Einstein, ou o gato de Schrödinger em que ambas as possibilidades são verdadeiras e reais, por que vemos apenas uma? remetem para o princípio… que era a Luz, e a humildade da ignorância caminha, como uma gigantesca sombra sobre o que é a realidade? Quando um cientista aponta para o Mistério, está a referir-se à sua ignorância.

Lúcia Simas

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