“Somos a favor da criação imediata de um programa de desenvolvimento conceptual para um novo Hospital, construído de raiz, para trabalhar e articular intimamente com a unidade existente, num conceito de Centro Hospitalar e de Integração de Cuidados”.
- Porquê um novo Hospital e não um recauchutado como parece ser a intenção de muitos, desde a actual Administração do HDES ao Governo?
É absolutamente factual que o HDES sofreu um processo de construção arrastado no tempo (1991-1998) e cheio de vicissitudes, com paragens prolongadas e comprometedoras. Deste processo resultou uma estrutura cheia de limitações arquitectónicas e de natureza construtiva, desde os materiais elementares da estrutura física aos acabamentos e funcionalidades relativas ao ambiente e conforto dos interiores dos serviços clínicos.
O nosso Serviço (Reumatologia) foi um dos 5-6 Serviços que primeiro se instalaram na nova e inacabada estrutura, em 1998, um ano antes da chegada do “restante hospital” que, na altura, já possuía para cima de 40.
Foi possível constatar as incontáveis fracturas de tectos e paredes – não pequenas linhas de rotura de reboco fino e tinta – falamos de fendas longitudinais, transversais, oblíquas, a toda a largura de tectos e paredes, de vários milímetros de espessura, por todo o hospital. O piso dos corredores e de enfermarias, revestido de ladrilhos de má qualidade, com interstícios e rodapés acumuladores de sujidade inamovível, perigosa e inadmissível para uma exigente Unidade de Saúde, rapidamente começou a partir e levando à substituição permanente de ladrilho-a-ladrilho (“…oh senhor doutor!! já vamos em mais de 15.000 substituídos…”). Várias fossas dos pisos térreos cederam pelo afundamento (previsto?) do edifício e o cheiro (im)próprio e insalubre destas canalizações inundam frequentemente vários sectores do hospital, desde baixo até cima.
Não foi previsto nem posteriormente desenvolvido nestes 25 anos um sistema generalizado de climatização AVAC (Aquecimento, Ventilação, Ar Condicionado) do hospital, nomeadamente das enfermarias e das salas de consulta, de tratamentos, do Serviço de Urgência (SU) e dos vários sectores administrativos; apenas uma insuflação forçada do ar da rua, sem extração ou renovação deste a não ser, de forma passiva, pela abertura de portas e janelas para o exterior.
Péssima “Eficiência Energética“ – é o que se deve concluir -, hoje termo absolutamente sacralizado no conceito de “Sustentabilidade Climática e Ambiental”. Uma das várias deficiências congénitas do HDES.
Como disse, tudo isto é factual e pode ser testemunhado por centenas de trabalhadores que durante todo este tempo, apesar de tudo, deram corpo e alma à eficiência e humanização dos cuidados. É com estas deficiências estruturais, e outras do HDES, que os seus trabalhadores e os milhares de doentes atendidos (con)vivem, não de agora, mas desde o seu início. Não são problemas resultantes do incêndio, estavam lá bem tipificados. Tornaram-se agora absolutamente evidentes à opinião pública porque não é mais possível escamoteá-los depois deste grave incidente.
É este hospital que querem reabilitar, renovar e redimensionar (o plano 3Rs) para ser uma “Unidade de referência a nível nacional”? Por onde vão começar? Quanto tempo vai durar de sucessivas perturbações de funcionamento? Quanto vai custar (“…40% mais barato do que um novo”, já foi gratuitamente afirmado pela Senhora Secretária!)? O que se ganha efectivamente com esta estratégia? Primeiro, na perspectiva de estabilização do nível de cuidados pré-incêndio (nível intra-hospital). Segundo, na perspectiva de resposta em cuidados integrados e diferenciados às exigências crescentes que demandam dos Cuidados Primários de Saúde (CPS) (nível extra-hospitalar), que não vão parar ou diminuir, como é evidente. Nada de verdadeiramente imprescindível!
O argumento mais aduzido, aparentemente forte e convincente, é – “não podemos esperar pelo tempo de desenvolvimento e construção de um novo hospital, precisamos de renovar este JÁ!”. Como se este JÁ fosse de curtíssimo-prazo. Curioso que é a mesma sustentação argumentativa que refere que a recauchutagem deste servirá as populações “para os próximos 30-50 anos”. Um pensamento de curto-prazo que se transforma miraculosamente num pensamento profundo de longo-prazo. Nada mais contraditório, superficial e demagógico. E caro, que se traduzirá para JÁ (?) na construção da dita Estrutura Modular (cerca de 20 milhões, no final). E o que mais estaremos para ver.
(cont.)
Guilherme Figueiredo*
- Ex-Director do Serviço de Reumatologia do HDES/
Dir. Executivo da CAL-Clínica