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Uma Silly Season Tramada nos Açores

“Começamos por dizer que, erradamente, continuamos a apostar numa política de monocultura, desta feita o turismo, como salvação de ‘toda a nossa economia’.

Silly Season, como todos sabem, é uma expressão inglesa que designa o período do ano de menor intensidade informativa nos Órgãos de Comunicação Social, geralmente, no período de verão. Pode ser traduzida por “estação ridícula”, a estação onde nada acontece.
Nos Açores, como não podia deixar de ser, tal como o tempo imprevisível cada vez mais previsível, deixa de ser ‘Silly’ para ser ‘Séria’. Muito Séria, mas, aparentemente, ninguém dá conta, ou melhor ninguém quer saber, ou ainda, todos fingem que não se passa nada… quanto temos um dos mais ‘quentes verões’ das últimas décadas, em todos os sentidos… Senão vejamos:
1-Começamos com o nosso HDES numa ‘Odisseia’ que me parece que vai, ainda no Canto I, deste poema épico.
2-Passamos à história ‘inenarrável’ da discriminação no acesso às Creches, história que ainda vai dar que falar, dado que já houve ameaças, por parte de quem fez a proposta, de retirar o tapete ao governo, afirmando, com todas as letra, não ter medo de eleições e ir a votos (pelos vistos, vão a votos, quando ‘eles’ querem, não quando está consignado ou o povo determina… enfim), concluímos, então, que estamos na eminência de nova instabilidade governativa, se é que tivemos, nos últimos anos, alguma.
3-Falemos agora de ‘transportes’. Só esta matéria daria para escrever um romance, com histórias principais e secundárias, digna de um Eça de Queiróz, mas sem grande pontuação, à Saramago, para ver se deixamos passar alguma linha, sem dizer algum impropério. Não falarei numa rede de transportes terrestres, inexistente; nem falarei na rede de transportes marítimos, visivelmente deficitária, falarei, por alto, dos transportes aéreos, recordando duas questões: o facto de determinadas ilhas ficarem, inexplicavelmente, isoladas, durante dias, quer por mar, quer por via aérea (felizmente sem consequências fatais, porém com prejuízos quer no comércio, quer nas diversas produções regionais), terminando na inusitada decisão de fechar as lojas da SATA e , no meio de um processo de privatização, passar a vender os bilhetes nas lojas RIAC, como se já não tivessem múltiplos serviços de utilidade pública a oferecer aos cidadãos. Tomar esta decisão, neste momento, abusando, mais uma vez, dos serviços públicos, só nos leva a pensar em ‘desnorte completo’ e podemos, então, deduzir que ‘esta privatização’ está mal e, como dizem os mais antigos, ‘o que mal nasce, tarde ou nunca se endireita’, vaticinando, mais uma vez, um negócio ruinoso para a nossa Região.
4-Refletamos, agora, um pouco na política de desenvolvimento turístico, no nosso Arquipélago, até porque estamos na dita época alta, coincidente com a ‘silly season’. Ainda muita tinta vai correr sobre esta matéria. Começamos por dizer que, erradamente, continuamos a apostar numa política de monocultura, desta feita o turismo, como salvação de ‘toda a nossa economia’. Há 2 séculos, pelo menos, sabemos que isto é errado, mas persistimos no erro: foi o ciclo da laranja, foi o ciclo da pecuária, foi o ciclo do leite, foi o ciclo da imobiliária… e agora, saltando alguns ciclos, estamos no ciclo do turismo, de tal forma que, desenvolvido como está, vai ter o mesmo fim dramático dos outros todos, com prejuízos económicos incalculáveis para todos, só que desta vez, com consequências irreparáveis para a nossa vida, para a nossa saúde e para a nossa natureza, que tanto gostamos e que tanto nos projeta no mundo. Nós não precisamos, nem podemos ter um turismo de massas, corrosivo, destrutivo e altamente desgastante. Ficaremos, por agora, no que concerne ao turismo.
5-Atendamos, agora, brevemente, à brava notícia do ‘Cabo Google’ que, mais uma vez, nos vai salvar da inoperância da República e de quem lá depositamos para nos defender. Sem cabos submarinos não há comunicações, pelo menos como as entendemos e precisamos. Mais uma vez, ficaremos dependentes do ‘amigo americano’, enquanto lhes der jeito, além de que este cabo, aclamado pela nossa governação, é propriedade de uma entidade privada e estrangeira, naturalmente, com a sua agenda própria. Faz-me pensar naquele homem que, não resolvendo os problemas, quando deveria, de forma certa e segura, empurra-os com a barriga até ver o que acontece… ou não acontece.
6-Vamo-nos centrar num problema, aparentemente local e irrisório: As obras no Mercado da Graça. Ou citar um senhor que ouvi na RTP Açores: Penso que o aeroporto de Lisboa se vai resolver mais cedo… Este problema não é menor, nem irrelevante. É a ponta de um icebergue que revela como, ano após ano, quem nos governa, seja na Assembleia Legislativa, seja nos municípios, pouco ou nada faz, de facto pela população, atrás do Mercado da Graça, vem a Cadeia de Ponta Delgada; a Estação de Camionetas; os Aeroportos e Cais de Embarque Marítimos; os acessos às diversas comunidades e freguesias, como Povoação, em São Miguel; Freguesia do Raminho, na Terceira, e tantas outras vias necessárias para a segura e livre circulação dos cidadãos que pagam, e bem, os seus impostos.
7-No dealbar do novo ano letivo, não podemos deixar de refletir na política educativa da Região. O ‘mais’ nem sempre resulta em ‘melhor’ e isso é o que se vem observando nesta área. A digitalização abrupta e integral dos manuais escolares é uma perfeita aberração, porquanto sabemos, especialmente quem é agente direto do processo educativo, que já revela consequências tremendas nos resultados na aquisição de conhecimentos: o cansaço; a falta de concentração; a falta de estruturação e ordenação do conhecimento estão fortemente abalados, para não falar dos problemas que advêm da exposição excessiva ao ecrã, quer de postura corporal, quer de visão, quer, também, de questões do foro psicológico e até de função social. Se não soubéssemos o que acontece a norte e a ocidente, onde este processo foi iniciado, onde já existem estudos que comprovam de tal forma o que foi dito anteriormente, que os governos deram um passo atrás, compreenderíamos a experiência, mas não. Como sempre, entramos num comboio sem freios e não importa se embatermos numa parede de betão armado. Os nossos governantes não mudam. Muito ainda se dirá, também, sobre esta matéria. Mas na educação, apraz-nos referir, ainda 2 assuntos: Primeiro, a falta de professores, cujo políticas para colmatar são erradas ou inexistentes (não é aliciando quase ‘mortos vivos’ com alguns euros que vamos lá. A solução não será para já, mas é percetível para quase toda a gente: É valorizando, incentivando e aliciando os jovens) e, em segundo, o início do ano letivo cada vez mais cedo, como se mais tempo na escola com temperaturas e humidades elevadas, em salas com 25 alunos (em alguns casos mais), fosse o melhor para toda a comunidade educativa. A escola NÃO é um depósito de crianças e jovens e mais tempo, mais horas, na escola, não vão resolver os problemas económicos, sociais e educacionais da nossa Região. A Escola é, SIM, uma forma de alavancar as populações, mas tem de ser de forma correta e em associação com múltiplos parceiros da comunidade envolvente, onde se destaca a função primordial dos pais e encarregados de educação.
Muito mais haveria para dizer, mas já vou para lá das mil palavras e dos quatro mil caracteres e, não nos esqueçamos, estamos na ‘SILLY SEASON’, onde nada se passa e nada se faz… por isso ninguém leva a mal.

Judite Barros *

  • Professora
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