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Romeiros de São Miguel: um legado a (re)conhecer

Estive, em Agosto, de férias, junto com a minha mulher e os nossos filhos, na bela ilha do Arcanjo São Miguel. Foi um regresso a uma terra abençoada pela Providência e que tão bem nos acolheu ao longo de mais de uma década de vida. São Miguel é, para todos quantos a conhecem, um pedaço de Céu na Terra.
A passagem na Vila Franca do Campo, antiga capital, foi obrigatória. Ali (re)visitamos e (re)vimos inúmeros amigos: alunos, colegas professores, funcionários das escolas, antigos vizinhos e demais comunidade com quem tivemos o privilégio de contactar quando ali vivemos.
São Miguel foi a terra que viu nascer os nossos filhos e que este ano visitaram a sua terra natal com o maior agrado e máximo interesse. Apesar de terem saído dos Açores em tenra idade (o mais novo tinha apenas 9 meses), como eles costumam dizer, e com honra, são «micaelenses a viver no continente». Dizem isto em todos os lugares por onde passam.
Estes dias, em São Miguel, foram um regresso, uma Graça e uma bênção. Uma Graça para os adultos e uma bênção para as crianças. Foi bom regressar a uma terra de muitas e boas gentes que primam na arte de bem receber e ainda melhor tratar quem ali se dirige, seja para ficar ou apenas de passagem.
Nos dias que por ali estivemos, tivemos o privilégio de estar numa região que também foi, é e permanecerá, permitam-nos a ousadia, «nossa». Sentimo-nos em casa. Sentimo-nos num verdadeiro e acolhedor lar que está aberto a todos. Sentimo-nos em Família.
Além de passarmos pelas ruas e espaços que fazem da Vila um espaço único no panorama açoriano, foi-nos dado a conhecer um livro maravilhoso: «500 Anos de História, Romeiros de São Miguel Arcanjo», da autoria do Amigo Carlos Vieira. E será a este livro que dedicaremos atenção, se nos permitem, nas próximas linhas.
O Carlos Vieira, de quem fomos vizinho dos senhores seus pais, ao longo de vários anos, e do seu irmão mais novo, o Rafael, antigo aluno da disciplina de História, oferece-nos, ao longo destas páginas, num livro único e maravilhoso, transformado em verdadeira obra de arte, que nos leva da Terra ao Céu, uma extraordinária viagem pela História dos Açores. A História do Passado, a do Presente e sem esquecer de apontar ao Futuro. Uma História sui generis. A História da verdadeira Identidade Açoriana. A História de quem a viveu, de quem a vive e de quem a sente e ama.
Logo nas primeiras páginas, uma ideia fica clara: não foi a Igreja que impôs as romarias. Foram as romarias que se impuseram à Igreja.
As romarias são uma secular tradição que faz parte da alma e da identidade açorianas. Foi do Passado, é do Presente e será para os que, com a Graça de Deus, hão-de vir. É isto que o Carlos nos revela da primeira à última página.
O Carlos é, além de autor, um protagonista de todo o legado que ali transcorre em cada folha que se abre. Um legado que ele protege e divulga como um verdadeiro arauto das romarias. Um legado que ele assume, por inteiro, e que sabe ter o dever de deixar aos vindouros. Uma História carregada de uma espiritualidade e identidade que se torna mais fácil de compreender para quem vive(u) naquelas terras e as (re)conhece.
O Carlos, (ainda) sem ter formação na área da História, mostra-nos, num verdadeiro amor à historiografia, como se faz, num invejável exercício como auto-didacta, a narrativa da identidade açoriana. Um exercício que a História bem deve aproveitar e as gentes dos Açores agradecer. A História das romarias terá de fazer-se, no futuro, com uma referência obrigatória para este precioso volume. E oxalá, que este livro seja um incentivo para que o Carlos avance no caminho da formação historiográfica e académica regional. Competências não lhe faltam e qualidades também não. Oxalá haja essa disponibilidade.
Estes «500 Anos de História» é um livro que bem devemos agradecer, não apenas pelo que nos revela do passado, mas, acima de tudo, pelo que nos ajuda, neste percurso diário, de alguém que aponta para o Futuro e, fundamentalmente, para o essencial: a transcendência da vida.
Aqui chegados, Obrigado e Parabéns, Carlos!
Obrigado pelo livro! Parabéns pela inspiração que o volume nos mostra e que tu, como autor, nos revelas em todas e em cada uma das páginas.
Finalmente, que este maravilhoso livro, além do sucesso nas terras açorianas, e nas terras onde há açorianos, como na diáspora, onde já lançaram a edição bilingue e outra apenas em inglês, consiga uma distribuição no Portugal continental. Não é por mim, não é pelo Carlos, que não precisa, mas sim por todos os Portugueses, que bem necessitam de ser «(re)descobertos» na sua identidade patriótica, católica e espiritual. Especialmente numa época em que se fala tanto de «identidade(s)» e ela(s) tanto falta(m).
Este livro é, assim, um precioso tesouro a guardar, num volume que é, ao mesmo tempo, um livro de História, de devoção de piedade e secular identidade.
Afinal, este «Romeiros de São Miguel» é um legado a (re)conhecer e que deve permanecer.

8 de Setembro, Solenidade da Natividade de Nossa Senhora, do Ano da Graça de 2024

José de Carvalho*

*Professor e Investigador de História

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