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Ponta Delgada, nas Flores, perde habitantes desde 1950

Policena Vasconcelos é catequista há mais de 60 anos.
Irmã de uma religiosa e tia de um sacerdote diocesano e familiar de outro jovem sacerdote na diáspora, já viveu várias visitas pastorais, desde o tempo de D. Manuel Afonso de Carvalho, o primeiro bispo que se paramentou na casa da família, onde reside ainda, sozinha mas sem se sentir só, descreve o sítio Igreja Açores.
“Tenho sempre muito que fazer. A minha vida é ocupada em vários serviços, desde logo na paróquia onde integro o grupo coral, na preparação das celebrações e na catequese” refere com a voz mais embargada pois agora já nem escola há porque não há crianças.
“É tudo muito diferente” refere. “A freguesia, tal como a ilha, tem perdido população. Os que ficam são os mais velhos porque os mais novos saem para estudar e são poucos os que regressam” diz com um ar entristecido mas como que rendido à mobilidade inevitável dos dias de hoje.

Não é como há 20 ou 30 anos

“Não se pode viver como se vivia há 20 ou 30 anos, quando habitavam aqui mais de 1500 pessoas e havia duas missão ao Domingo. A igreja enchia. Hoje é o que se vê”.
“Eu costumo dizer: o coro canta de costas para o povo , virado para o altar. Por isso tanto dá cantar para pouca gente como para muita gente, mas, na verdade, entusiasmamo-nos mais quando há mais gente” refere reforçando que mesmo sozinha, na Igreja, “está sempre acompanhada”, até porque a oração que prefere “é quando está em silêncio junto do Santíssimo”.
Ponta Delgada é uma freguesia rural do concelho de Santa Cruz com 280 habitantes. É a terceira paróquia mais antiga da ilha das Flores. Foi elevada, tendo como orago São Pedro, ainda no século XVI.
A paróquia ocupa o extremo norte da ilha, estendendo-se por uma zona aplainada voltada a nordeste, sendo a última localidade açoriana a dispor de acesso rodoviário, em 1966.

P. Delgada: 280 habitantes

No entanto, foi nesta zona da ilha que funcionaram as principais instalações técnicas da Base Francesa das Flores, com destaque para os sofisticados radares de controle de mísseis balísticos na Europa.
É também na freguesia que está localizado o Farol da Ponta do Albernaz, o mais potente dos Açores. Mas, a realidade impõe-se uma vez mais à história e a frequência da Igreja é prova disso.
“A fé ainda é grande mas não há tanta participação. Talvez nas festas as pessoas apareçam, mas é sempre só no dia. É difícil arranjarmos pessoas para ajudar na preparação” refere Joana Pessoa, professora, natural de São João da Madeira, a residir de forma apaixonada na freguesia e na ilha.
“Aqui é tudo mais calmo. O tempo rende mais para fazermos aquilo de que gostamos, é uma paz”, mas “reconheço que nem sempre é fácil”.
É professora em Santa Cruz, está no Conselho de Assuntos Económicos da Paróquia, está também na Junta de Freguesia, e lamenta que tenha de ser assim “porque parece que somos sempre os mesmos”.

A relação com a Igreja

“É preciso chamar e insistir” acrescenta Policena Vasconcelos.
“As famílias hoje entendem a relação com a Igreja de uma forma diferente e a liberdade parece que é tudo: os filhos são inscritos na catequese mas só vão se quiserem; os pais não vão à missa e os filhos vão se quiserem… Enfim, é tudo diferente” refere a catequista que se diz cansada mas renova o entusiasmo quando se lhe pede um olhar sobre o futuro.
“A sociedade tem de ter valores e hoje ter valores não é só ter instrução, um curso superior ou estar bem financeiramente na vida. Quanto maior for a formação moral das pessoas, melhor será a sociedade. Apesar de vivermos tempos diferentes tenho de ter esperança”, refere.
“Os principais problemas prendem-se com a juventude, parece que deixaram de acreditar”, refere Joana Pessoa lamentando que haja dificuldade em “assumir compromissos”. Até nos Impérios. A paróquia tem cinco coroas de Espírito Santo e organizar a festa não está a ser fácil.
A questão ganha importância porque as festas são “o ganha pão” para angariar fundos para manter a paróquia: fazer face a pinturas, limpezas e outras necessidades que surjam. O que vale são os emigrantes, que ainda ajudam “generosamente”.

Bispo presente na missa

Na missa dominical, na Igreja de Ponta Delgada, que tem em São Pedro o seu padroeiro, o bispo de Angra falou de migração e do contributo dos imigrantes nas Flores.
“O mundo mudou e hoje é móvel, tal como a Igreja é peregrina. Não estejamos instalados, procuremos caminhar todos juntos e adaptemo-nos aos tempos de hoje. Sejamos esta Igreja peregrina, que caminha, cada um com o seu dom, aproveitando o melhor que cada um quer e pode dar, cientes de que Deus é parceiro deste mundo em mobilidade”.
O bispo de Angra esteve em Santa Cruz, onde visitou o cemitério, um dos pontos recomendados para uma Visita Pastoral.
Fez uma intenção pelos fiéis defuntos e procedeu a uma bênção própria, conclui o sítio Igreja Açores, cujas fotos são da resoectiva autoria.

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