A morte faz parte do processo de vida do ser humano e simboliza o fecho daquela que é a nossa passagem pelo mundo físico. Com ela vem o luto, uma resposta natural e intrínseca à perda, que se manifesta a nível emocional, físico, comportamental, social e espiritual. Mas o luto só se inicia pós-morte, ou é possível experienciá-lo antes?
Numa situação de doença terminal, por exemplo, onde a perda deixa de ser uma possibilidade e passa a assumir-se como uma inevitabilidade, os familiares podem começar a evidenciar respostas de luto: o denominado luto antecipatório. Este surge como uma resposta prévia à perda, abrangendo um conjunto de processos de coping, interação, planificação e reorganização psicológica. O processo de luto tem, então, início a partir do momento do diagnóstico de doença terminal, onde se experienciam sentimentos de exaustão, desamparo, desespero, solidão, culpa e impotência.
A morte de um ente querido provoca alterações no modo de viver (p.e., papéis, tarefas, obrigações) e a dor pela perda é influenciada pela natureza do vínculo partilhado. Assim, quando uma família é confrontada com a perda iminente de um dos seus membros, sofre alterações ao nível da sua estrutura e funcionamento, tornando necessária uma reorganização.
O luto antecipatório surge como algo natural e necessário, permitindo que a pessoa comece a preparar-se emocionalmente para a perda, a aceitar essa realidade e concretizar a despedida. Algumas das tarefas adaptativas a adotar aquando do processo de doença e preparação para a perda, que auxiliam a aceitação desta realidade, passam por: i) manter o envolvimento do doente nas vivências familiares; ii) manter a independência face ao doente, compreendendo que cada membro da família mantém a sua própria identidade, bem como as próprias necessidades; iii) adaptar-se às alterações nos papéis e nas rotinas, tentando antecipar as mudanças futuras e necessidade de redistribuição de tarefas; iv) gerir as emoções provocadas pela perda, aceitando-as e favorecendo a sua expressão; v) e concretizar a despedida, de forma concreta ou simbólica.
Vale a pena realçar que o luto é um processo individual e o apoio de significativos ou profissionais de saúde mental pode ser fulcral para fazer face à perda e caminhar em direção à cura emocional. Este luto, se vivenciado de forma funcional, poderá tornar-se um fator protetor ao luto complicado.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Leandra Rocha Rebelo *
- Psicóloga – Cédula Profissional n.º 28989
Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde (Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto)
Ocupação Profissional Atual: Psicóloga na Equipa Técnica Local da Ribeira Grande do Programa Novos Idosos (Lar Augusto César Ferreira Cabido)