De acordo com o “Ciência Vitae”, (Plataforma Europeia de Registo Científico), a minha Grande Área e “Domínio de Atuação” é: “Ciências Sociais – Ciências da Educação” e “Humanidades – Filosofia, Ética e Religião”.
(Conclusão)
- Da Educação: questões e dimensões
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- Dos Valores
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Nesta parte do texto teremos como referência principal o livro Lições de Axiologia Educacional, da autoria do Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício.
Ora, em educação é fundamental a teoria, a prática e a interação entre ambos. Em toda a circunstância é inevitável pensar, e pensar bem, pensar para o Bem, pensar para sermos melhores, para termos uma melhor educação; pensar é, deve ser, uma atividade muito peculiar em que todos se devem empenhar. A atividade de pensar, entre outras faculdades conexas, devem contribuir para construir e dar sentido, também doar sentido. Afirma Manuel Ferreira Patrício:
“Procurámos mostrar que debaixo da prática está sempre uma teoria. Devemos agora mostrar que por debaixo da teoria está sempre uma prática. Que prática? A prática de pensar. Com efeito, o pensar é um fazer: é um fazer pensamento(s). É um fazer a linguagem que o pensamento é, ou em que se concretiza, em que ganha forma. Pensar é transformar: é transformar a realidade da consciência. Com o pensar ou a consciência passa do informe `a forma ou de uma forma a outra forma.” (Patrício, 1993, pp: 101-102). E adiante escreve: “Uma prática cega é, talvez, agitação, ou redunda inevitavelmente em agitação. Só se foge a isso com a prática pensada”. (Patrício, 1993, p. 103). Manuel Ferreira Patrício põe em ligação a definição de “fins” e a “vontade”, que é, em si, um valor. E escreve: “Croce viu bem, na sua filosofia da prática, que a ação supõe a vontade” (Patrício, 1993, p. 105). Depois de explicitar as “Ordens de Valores a considerar pela Educação”, Manuel Ferreira Patrício explicita e desenvolve os “Valores Estéticos” (“educação estética”), os “Valores lógicos” (valores de Conhecimento ou de Verdade) os “Valores Éticos” (“a educação ética), depois explicita a “Deontologia Educacional”, que pressupõe todos os valores; depois desenvolve “A problemática dos Valores e da Cultura na Filosofia dos Valores”, “A Problemática dos Valores e da Cultura na Pedagogia dos Valores”, e, finalmente, o último capítulo tematiza “A Organização Pedagógica da Escola Axiológica”. Impõe-se pensar a educação e a escola como uma comunidade de pessoas, em interação, aprendizagem e desenvolvimento.
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3- Da Complexidade
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Um Autor que há muito desenvolve e tematiza o Pensamento Complexo é Edgar Morin. A Complexidade é um conceito chave na ação, Obra e Pensamento de Edgar Morin. O Pensamento Complexo é apresentado como contraposto ao pensamento binário, que caracterizou historicamente e filosoficamente o Pensamento de René Descartes. A Lógica cartesiana é dual, simplifica a realidade, enquanto que a Lógica de Edgar Morin é multifacetada e multivariada, a Lógica da Complexidade é da natureza da vida, enraíza-se na (in)certeza dos fenómenos. Num sentido epistemológico, afirma Edgar Morin: “Existe a inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os nossos saberes, partidos, compartimentados entre disciplinas e por outro lado as realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, globais «, planetários.”. (Morin, 2002, a), p. 13,). O Pensamento de Edgar Morin visa “A escola de vida e a compreensão humana”. (Morin, 2002,,a) p. 52,). Estará a verdade presente na Teoria da Complexidade? Sim, na Valoração da vida, bem expresso no pequeno grande livro de Edgar Morin, intitulado: “Amour, Poesie, Sagesse”, (1997). Edgar Morin recorre a múltiplos registos, incluindo o “romance” e o “filme” onde a verdade se dá em intensidade. Muitos são os recursos para ensinar e aprender com Sabedoria. É preciso recuperar a Sageza como Sabedoria e buca da Sabedoria, mais busca e caminho do que posse. Daí a importância os Métodos que, segundo Manuel Ferreira Patrício “são multivários e multiviários”.
A vida é liga, é ligação, é conexão, interligação, natural e concetual. Ora, Edgar Morin demarca-se do paradigma de Descartes, (2002 b, p. 31), que cinde: (sujeito/corpo; alma/corpo; mente/matéria; qualidade/quantidade; finalidade/causalidade; sentimento/razão; Liberdade/determinismo; existência/essência), e, noutra dimensão, Edgar Morin, partindo das conceções do Conhecimento, enraizado na vida, e de uma gnoseologia de conjunto, de síntese e de unidade, sem prejuízo das análises de compreensão, abre novas aportações e caminhos para a educação, em geral, e para a educação escolar (em todos os níveis de ensino). Assim, tendo como fundamento a “Inter-polidisciplinaridade” (Morin, 2002 a), o Grande Filósofo e Epistemólogo Edgar Morin dá-nos em Saber e em Educação o livro: “Os Sete Saberes Para a Educação do Futuro” (Morin, 2002, Lisboa, Edições Piaget). Os Grandes saberes são os seguintes, que se enraízam e ramificam nas nervuras dos conhecimentos: 1- “As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão”, 2- “Os princípios de um conhecimento pertinente; 3- “Ensinar a condição humana; 4- “Ensinar a identidade terrestre”, 5. “Enfrentar as incertezas”, 6- “Ensinar a compreensão”; 7- “A ética do género humano”.
Toda a epistemologia de Edgar Morin, as suas conceções de educação enraízam-se numa profunda Cultura e Compreensão da Natureza Humana, da realidade humana. É tempo para voltamos, ainda e sempre, a percorrer, os caminhos do Amor, da Poesia e da Sageza. Neste tempo de cansaço de um proposicionalismo vazio da Verdade, urge recomeçar com a razão na busca do sentido, sem nunca desfalecer, na busca do amor, da poesia e sageza. Mas, em bom rigor, toda a vida e a vida toda é Amor, Poesia e Sageza. Mas esse Amor, poesia e sageza também se dão e revelam na forma de Ensaio, mas um novo sentido de Ensaio, que integra todas as formas de saber, de expressões e manifestações do Humano, um Ensaio que manifesta afirmação, suscita interrogação e revela Arte. O Ser Humano Revela-se e manifesta-se de diversos modos. Embora distinguindo os géneros de expressão, só enquanto um Todo tem a Força e a Luz da Verdade. É desta Verdade, na sua Essência, plural, de Ser Pessoa, que a Educação e o Mundo tem fome e sede. Para além da Diversidade, a Educação tem de Recuperar a sua Essência, o seu “eidos”, – termo fenomenológico -, essência de Ser Educação, também como Projeto. Em Educação, e na sua Complexidade, há uma identidade perdida, “um paradigma perdido”, – que urge resgatar.
E no final deste texto, evocamos, também para outros escritos, que já realizámos, e outros a que nos propomos, em intertextualidade, a bela publicação do Saudoso Professor Doutor José Enes, com a Obra intitulada Fenomenologia da religião – apontamentos para um curso na Universidade Católica Portuguesa em 1970.
Eis que um livro publicado em junho de 2024, tem o Grande Mérito de ligar passado, presente e futuro, ontem, hoje e amanhã, numa Nova Aurora de Luz, tão presente no Lema da Universidade dos Açores, escolhido, por José Enes, tirado do livro de Eclesiastes: SICUT AURORA SCIENTIA LUCET.
Já no dia 25 fevereiro de 2014 (num projeto científico-pedagógico que vinha de 2013) sentindo, profundamente, que os meus Geniais Professores queriam falar ao Mundo, eu proferi, no antigo Anfiteatro C, uma Conferência Inaugural que intitulei deste modo, com esta formulação exata: “SICUT AURORA SCIENTIA LUCET. Uma leitura metafórica e hermenêutica do lema da Universidade dos Açores, à luz da Ontologia e da Fenomenologia: interpelações educacionais ao Pensamento de José Enes e de Gustavo de Fraga”. Foi, por tantas e tantas Razões, uma Conferência verdadeiramente premonitória, num lance de Luz, em Ser e Conhecer, entre o Passado, o Presente e o Futuro. Depois dessa data – bem mais tarde-, temos assistido à Organização de Colóquios sobre as Figuras, Pensamento/s e Obras do Professor Doutor José Enes e do Professor Doutor Gustavo de Fraga. Razão que o Futuro vai explicar,de modo cada vez mais claro, à luz do Dia.
É bíblico: “Nada há encoberto que não venha a descobrir-se nem oculto que não venha a conhecer-se. Por isso, tudo quanto tiverdes dito nas trevas ouvir-se-á em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os telhados. “ (Lc, 12, 2-3).
Quem tem medo da luz?
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Bibliografia:
AEPEC (1991). Educação Pluridimensional e Escola Cultural. Évora.
Bíblia Sagrada. (1982). Versão dos Textos Originais. Lisboa: Difusora Bíblica. 10ª Edição.
Cabanas, Quintana (1995) Teoria de la Educacion. Concepción antinómica de la educación. Madrid. Editorial DYKINSON, S.L.
Carvalho, Adalberto Dias de (2026) [Coordenador]. Dicionário de Filosofia da Educação. Porto: Porto Editora.
Enes, José (2024). Fenomenologia da Religião – apontamentos para um curso da Universidade Católica Portuguesa em 1970. Lisboa: MIL e DG Edições.
Medeiros, Emanuel Oliveira (2005). A Filosofia como Centro do Currículo na Educação ao Longo da Vida”, Lisboa, Edições Piaget.
Morin, Edgar (1999).a) Les sept savoirsnécessaires à l’éducation du futur.Paris: UNESCO. Trad. port. (2002).a) Os sete saberes para a educação do futuro. Lisboa: Instituto Piaget.
Morin, Edgar (1997). Amour, Poesie, Sagesse. Paris, Éditions du Seuil.
Patrício, Manuel Ferreira (2010). A Ontologia da Educação e a Ontologia da Cidadania: Axiologia dos Desafios da Relação. In Medeiros, Emanuel Oliveira (2010). A Educação como Projeto. Desafios de Cidadania. Lisboa: Edições Piaget.
Patrício, Manuel Ferreira (2002). Filosofia da Educação e Inovação Educativa. Que Paradigmas na Formação de Professores? In Medeiros, Emanuel Oliveira (2002). [Coordenação de]. Utopia e Pragmatismo em Educação: Desafios e Perspetivas. Atas do II Colóquio de Filosofia da Educação. Ponta Delgada: Universidade dos Açores.
Observação: Este texto foi, e está, publicado, na íntegra, na Revista “Nova Águia”, Revista de Cultura para o Século XXI, nº 34 – 2º semestre 2024. pp: 203 – 209.
Emanuel Oliveira Medeiros*
Professor Universitário
Universidade dos Açores
- Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação
Centro de Estudos Humanísticos da Universidade dos Açores
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas