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Que mudanças nos trouxeram as direitas nos Açores?

11 600 açorianos à espera de uma cirurgia. Números impressionantes, especialmente quando espelham os resultados desastrosos do trabalho que fazem com a saúde nos Açores, há 4 anos, as governações das direitas (com o apoio da extrema-direita) compostas por gente que antes não se cansava de denunciar estes mesmos números (também muito maus, diga-se) das listas de espera cirúrgica dos governos de maioria PS.
Os Açores, apresentam uma evolução muito insatisfatória (de cerca de 27% para cerca de 22%) desde 2019, no que diz respeito à taxa de abandono escolar precoce, mantendo-se a segunda região da Europa com a maior taxa deste índice de atraso no desenvolvimento. O valor é quase três vezes superior à média nacional (8%), segundo o INE. Um em cada quatro jovens da região, entre os 18 e os 24 anos, está hoje em situação de abandono escolar precoce.
A taxa de pobreza aumentou nos Açores, em 2023, de 21,9% para 25,1%. O mesmo documento dá nota que a taxa de privação material e social severa desceu em todas as regiões de Portugal entre 2021 e 2022, à exceção dos Açores. Em 2022, nos Açores uma em cada dez pessoas estava em situação de privação material e social severa. Os Açores (9,8%) é a região do país em que esta taxa é mais alta (por exemplo, no Alentejo ela não chega aos 4%).
Em 2023, os Açores continuam a ser a região mais desigual do país. A região com maior desigualdade de rendimentos (medida pelo chamado coeficiente de Gini), foi também aquela em que essa desigualdade mais aumentou face ao ano anterior.
O salário regular bruto médio nos Açores em final de 2022 era de 1.086€, o que entrando em linha de conta com a inflação significou uma perda 2,3% do seu valor real, em relação ao ano anterior. Na mesma altura a média nacional era de 1.411€ e a média na União Europeia era de 2.393€.
Em termos de desenvolvimento global, o índice de competitividade regional (ICR, da União Europeia) diz-nos que os Açores estão na cauda da Europa e que, de 2016 para 2022, o ICR dos Açores apresentou uma subida ridícula de 65,3% para 65,5% da média europeia, enquanto esses valores dispararam nas outras regiões do país.
A única alteração estratégica positiva de fundo, com a chegada das direitas ao poder regional, foi a tarifa única inter-ilhas de 60€, logo “compensada” pelo fim das ligações marítimas de passageiros entre todas as ilhas. Conjunturalmente positivas: a antecipação na contagem do tempo de serviço dos professores e as quebras na precariedade laboral em alguns sectores. As tão propagandeadas “descidas de impostos” muito pouco ou nada beneficiaram a esmagadora maioria dos açorianos e das sua empresas, tendo apenas favorecido os mais ricos e setores económicos de maior dimensão.
Se as governações anteriores do PS, em particular as últimas, foram (com razão) consideradas globalmente negativas pelo eleitorado açoriano, de muito pouco se pode orgulhar quem veio para o seu lugar trazendo consigo a panaceia das grandes mudanças. A realidade está aí: insistimos em marcar passo quando o que precisamos com urgência é de vencer gravíssimos atrasos que persistem no desenvolvimento regional, na coesão entre ilhas e na justiça social.
Nota de rodapé. Relatório semanal de Gaza (5-11 novembro) – Pelo menos 160 mortos pelas bombas e balas israelitas (33 crianças). A limpeza étnica dos palestinianos prossegue no Norte de Gaza, totalmente destruído e com os seus restantes (estimados) 100.000 habitantes isolados de tudo e todos. Desde outubro de 2023, 43.603 mortos (70% mulheres e crianças), 80% abatidos nas suas casas, tendas ou outros tipos de habitação e 85.000toneladas de bombas descarregadas pelo Estado terrorista de Israel sobre todo o território.

Mário Abrantes

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