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A mortalidade infantil, o aborto e o H5N1

“De acordo com um estudo publicado na Acta Médica, em 2024, foi em 2020 e em 2021 que se alcançaram os valores mais baixos de que há registo, de mortes de bebés até 1 ano de idade.”

O tema da semana: A mortalidade infantil, em Portugal, aumentou… assim como o número de abortos “por opção da mulher”

Na semana passada o jornal Público relatou que em 2024 morreram 261 crianças abaixo de 1 ano de idade, o que é o valor mais alto desde 2019. A taxa de mortalidade infantil em 2023 foi de 2,6 óbitos por cada 1000 nados-vivos (morreram 219 crianças e nasceram 85699), quando no período pré-pandemia era de 3,1. Agora, aumentou de novo.
Durante a pandemia de COVID-19 houve menor exposição das crianças a vírus e bactérias, desde logo por causa das restritivas medidas de saúde pública adoptadas durante a pandemia, como o uso obrigatório de máscara, o distanciamento social e o encerramento de escolas, assim como os cuidados na higienização, o que terá sido decisivo para que a taxa de mortalidade infantil atingisse os valores mais baixos de sempre em Portugal, nessa altura. De acordo com um estudo publicado na Acta Médica, em 2024, foi em 2020 e em 2021 que se alcançaram os valores mais baixos de que há registo, de mortes de bebés até 1 ano de idade.
Outro dado a reter é que, em 2023, mais de 20% dos bebés nascidos em Portugal são filhos de mães de nacionalidade estrangeira; no ano passado, 18734 das 85699 crianças nascidas em Portugal eram filhas de estrangeiras residentes no país, indica o Instituto Nacional de Estatística (INE). Há 10 anos representavam menos de 9% do total dos nados-vivos.
Por outro lado, soube-se que em 2023 foram realizados, em Portugal, 17124 abortos. 2023 é assim o segundo ano consecutivo em que este número aumenta, alterando definitivamente “a tendência decrescente que vinha a verificar-se desde 2011”, diz o “Relatório de Análise dos Registos da Interrupção Voluntária da Gravidez de 2023”, publicado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).
O número anual de abortos realizados em Portugal, tanto “por opção da mulher” como “por motivos relacionados com a saúde do nascituro ou da grávida”, apresentou uma tendência decrescente até 2021, atingindo nesse ano os 14 348. Em 2022 e em 2023 este número subiu, à custa do número de abortos realizado por vontade da mulher. Olhando apenas para os abortos por vontade da mulher, foram registados 16559 em 2023, o que representa 96,7% do total de abortos realizados nesse ano.
Ora, se em 2023 nasceram 85699 nados-vivos de mães residentes em Portugal, isto significa que em Portugal, em 2023, realizou-se 1 aborto por cada 5 crianças que nasceram.

A homenagem da semana: as preocupações com a saúde, para 2025, da Diretora de Saúde Pública do Canadá

A Dra. Theresa Tam, Diretora de Saúde Pública do Canadá, na semana passada, revelou que em 2025 olhará com especial atenção para a gripe aviária H5N1, um vírus emergente que teve o seu primeiro caso humano no Canadá em 2024.
Ao mesmo tempo, a responsável máxima pela saúde pública do Canadá, está a acompanhar atentamente o sarampo, vírus eliminado do Canadá há mais de duas décadas, mas que agora está a ressurgir rapidamente.
O H5N1 tem aumentado globalmente. Dizimou criações avícolas no Canadá, e infectou gado leiteiro em vários Estados do EUA. Mas, o que é preocupante é a sua propagação nos humanos, pois este vírus demonstrou capacidade de produzir desde infecções assintomáticas até casos (raros) de doença grave.
O único paciente confirmado com H5N1 no Canadá, um adolescente da Colúmbia Britânica, ficou gravemente doente e foi hospitalizado em Novembro, não tendo ainda sido possível às autoridades de saúde determinar como é que ele foi infectado.
Embora o risco para o público em geral ainda seja considerado baixo, 65 casos humanos foram confirmados nos EUA, em 2024, a maioria trabalhadores agrícolas.
A generalidade dos casos foi de gravidade leve. Mas, há 2 semanas, as autoridades de saúde anunciaram o primeiro caso de doença grave nos EUA: uma pessoa com mais de 65 anos, no Louisiana, que esteve em contacto com aves doentes no seu quintal.
Ora, isto diz-nos para estarmos atentos não só às produções “industriais” de aves, mas também a quem cria galinhas, ou outras aves, nos seus quintais, pois as aves no quintal estão expostas a aves selvagens, que transportam o vírus H5N1.
A Dra Tam salientou que a educação para o uso de equipamentos de proteção individual, e a existência de medidas de biossegurança, são importantes para todos os que criam aves, e não apenas industrialmente, e que está na hora de aumentar a consciencialização do público em geral para a gripe aviária. “Precisamos lidar com qualquer ave ou outro animal doente, ou morto, com muito cuidado”, disse. “Em caso de dúvida, não mexa e ligue para o veterinário local (municipal) ou para a autoridade de saúde pública (delegado de saúde) para saber o que fazer, se encontrar pássaros ou animais mortos no seu jardim ou quintal”.
Mas, a Dra Tam não está preocupada apenas com as novas doenças. “Há um aumento da circulação de uma série de doenças evitáveis por vacinação, como o sarampo”: houve 170 casos de sarampo no Canadá, em 2024, em comparação com os 59 casos em 2023. A maioria das pessoas infectadas não tinha sido vacinada. Uma criança, com menos de 5 anos, morreu no Ontário.
O sarampo tinha sido eliminado do Canadá, em 1998. A maioria dos pais nunca viu sarampo, e não percebem a gravidade da doença porque “vacinas muito eficazes” protegem as crianças há décadas. Mas, é uma doença grave.
Quanto à COVID-19 a Dra. Tam disse que é possível um aumento repentino neste Inverno, e que as pessoas mais velhas e com doenças crónicas permanecem especialmente vulneráveis a doenças graves. Lavar as mãos, usar máscara e ficar em casa quando estiver doente, bem como ter as vacinas atualizadas, continuam a servir como “camadas de proteção” contra os vírus circulantes, todos, recorde-se.

Mário Freitas*

  • Médico, Coordenador Regional da Saúde Pública dos Açores
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