O tema da semana: Quais os alimentos que são os “mais processados”?
Os supermercados oferecem-nos múltiplas opções, nos seus corredores. Lá encontramos uma enorme diversidade de alimentos, disponíveis em diferentes formatos e sabores. Porém, se lermos a lista de ingredientes desses alimentos vemos que não há muita escolha. Um estudo publicado na “Nature Food”, no mês passado, mostra que a maioria dos produtos nas prateleiras do supermercado têm uma coisa em comum: são altamente processados.
As mercearias e pequenos supermercados são a principal fonte de alimentos ultraprocessados, nas dietas dos EUA. Por cá não será muito diferente. Esses alimentos são feitos usando processos industriais e ingredientes que não temos em casa.
Para medir o quão prevalentes esses alimentos são nas prateleiras, os investigadores usaram um algoritmo para analisar mais de 50.000 itens, em três grandes lojas dos EUA: Whole Foods, Walmart e Target. Os resultados, publicados a 13 de Janeiro na “Nature Food”, revelaram que as opções altamente processadas dominam os stocks, destes 3 players do mercado.
Ter uma grande variedade de marcas nas prateleiras dá aos compradores a “ilusão de escolha”, salientou a coautora do estudo Giulia Menichetti. Apesar da variedade de embalagens, a maioria dos alimentos ultraprocessados partilha uma fórmula comum: são ricos em açúcar, sal e óleo e normalmente contêm aditivos que melhoram o seu sabor, cor e prazo de validade. Certos processos industriais também alteram a textura dos ingredientes, e isso pode retirar nutrientes aos alimentos.
Dietas ricas em alimentos ultraprocessados têm sido associadas a problemas de saúde, incluindo maior risco de obesidade , diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Mas, nem todos esses alimentos são igualmente maus. Um estudo de 2024, feito por investigadores da “Harvard TH Chan School of Public Health”, descobriu que dietas ricas em bebidas açucaradas e carnes processadas estavam associadas a um maior risco de doenças cardiovasculares, do que dietas pobres nesses alimentos. O oposto é verdadeiro para pães, cereais, iogurtes e sobremesas lácteas. Embora estes alimentos possam fazer parte de uma dieta saudável, as novas descobertas mostram que as opções dentro dessas categorias são limitadas. Nos pães, por exemplo, as escolhas do consumidor são frequentemente dominadas por variedades estáveis na prateleira, que contêm açúcar adicionado e outros aditivos, ao invés de pão de trigo integral, sem aditivos, um tipo de pão que é minimamente processado.
Culpar apenas o ultraprocessamento dos alimentos simplifica o problema, em demasia. Dietas ricas em alimentos ultraprocessados são frequentemente dominadas por gorduras saturadas, sal e açúcar adicionado, o que sugere que alguns danos podem vir deste desequilíbrio nutricional, e não apenas do processamento.
Enquanto os investigadores aprendem mais sobre os danos específicos dos alimentos ultraprocessados, o desafio para os consumidores está nas alternativas limitadas disponíveis. Em algumas categorias de alimentos, os consumidores têm pouca ou nenhuma possibilidade de escolha real. Certos produtos — como batatas fritas, pão e pizza — são quase sempre ultraprocessados, em quase todas as lojas. Em contraste, outras categorias, como cereais, leite e barras para o lanche, oferecem mais opções, que variam de minimamente processadas a altamente processadas.
Os cereais da Whole Foods, por exemplo, tinham uma gama mais ampla de processamento, e tinham menos açúcar e menos aditivos de sabor, em comparação com os cereais das outras duas redes, que tinham muito maior probabilidade de conter xarope de milho.
A acessibilidade complica o quadro. Geralmente, quando o nível de processamento aumenta, o preço por caloria diminui — uma tendência ainda mais pronunciada em sopas, bolos, massa com queijo e gelados. Em média, alimentos ultraprocessados custam cerca de metade do preço dos seus equivalentes minimamente processados, uma prática que reforça as desigualdades nutricionais. Isto leva a que os mais pobres se alimentem mais de alimentos ultraprocessados.
A regra para o futuro é permitir às pessoas que façam opções informadas, conscientes, com rótulos entendíveis e adequados à literacia da população. Só isso poderá levar a que, apesar dos orçamentos que cada um tem, se possam escolher os alimentos mais saudáveis, para cada um de nós, e para as nossas famílias.
A homenagem da semana: Ao Dr. Eduardo Albergaria Leite Pacheco, um médico exemplar.
Faleceu, na semana passada, o Dr. Eduardo Albergaria Leite Pacheco.
O Dr. Eduardo Pacheco nasceu em Ponta Delgada (São José), no dia 15.11.1951, e foi de facto um daqueles homens extraordinários, que aparecem de forma rara. É uma honra podermos conhecer, na nossa breve passagem por este lado da Existência, pessoas como o Dr. Eduardo Pacheco.
Médico (nefrologista), conheci-o quando ele liderava a Ordem dos Médicos na Região Autónoma dos Açores. Impressionou-me, de forma muito marcada, a firmeza com que ele defendia – incansavelmente – a boa Prática Médica, sempre em prol das pessoas.
O Dr. Eduardo Pacheco era um cavalheiro, ou citando alguns colegas muitos respeitáveis, um “médico à antiga”, com uma educação e um trato superiores, incapaz de permitir (entre colegas) uma palavra menos adequada, de quem quer que fosse, sobre quem quer que fosse. Mas, acima de tudo, o que se destacava no Dr. Eduardo Pacheco era a dedicação ao seu trabalho, aos doentes, e o seu profundo Humanismo.
Para os Açorianos, em geral, a partida do Dr. Eduardo Pacheco é uma perda dolorosa, por verem partir um dos seus melhores, deste tempo. Para os médicos, é uma perda irreparável: parte mais um daqueles que, com o seu exemplo, nos recordava porque abraçamos esta profissão.
Apresento aqui sentidas condolências à família do Dr. Eduardo Pacheco. Deus o acolha na Sua infinita Glória. Demonstrou merecê-lo.
Mário Freitas*
- Médico, Coordenador Regional da Saúde Pública dos Açores