As plataformas gigantes da comunicação digital estão sem controlo.
A recente decisão da Meta, dona do Facebook, em retirar os filtros sobre a verificação de factos, é apenas mais um sinal da informação descontrolada que se vai apoderando das grandes redes sociais, sem que os governos se imponham face ao poder dos magnatas, que até já integram os gabinetes da administração americana.
O modo aviltante como já actuam face aos meios de comunicação tradicionais, roubando os seus conteúdos sem respeito pelos direitos autorais, já era mais do que suficiente para os Estados de direito colocarem estas empresas em sentido, em vez da legislação dúbia e incapaz, por exemplo, da União Europeia.
Trata-se de uma luta desigual, que esmaga os média tradicionais e promove a desinformação e o discurso do insulto e do ódio.
Os danos já são visíveis em todo o lado e sem uma moderação, ou regras e regulação como existem para os meios tradicionais, vamos ter um ‘farwest’ na comunicação global, se é que ela já não está em vigor.
Como diz Volker Turk, Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, “regular cuidadosamente o discurso de ódio online e moderar os conteúdos para evitar danos reais não é censura; é um pilar essencial da integridade na era digital e uma responsabilidade das plataformas de redes sociais”.
É neste contexto, de combate desigual, que se encontram os jornais, como o “Diário dos Açores”, e todos os outros meios tradicionais de comunicação.
Se não forem dados a estes meios os recursos suficientes para desempenharem o seu papel de reguladores da verdadeira informação, a esfera pública vai continuar a ser dominada pela desinformação e pelas campanhas de ódio, em que as redes sociais são férteis.
Como ainda alertou, há poucos dias, Josef Trappel, diretor do Departamento de Estudos de Comunicação da Universidade de Salzburgo e do programa de Mestrado conjunto Erasmus Mundus Comunicação Digital e Liderança, os média tradicionais tinham um modelo de negócio onde eram únicos no mercado, mas com o aparecimento desregulado das plataformas, o modelo ficou ameaçado.
E o que diz este especialista internacional?
Ora vejamos: “Não há uma solução mágica para isso, mas precisamos de compreender o processo e depois podemos pensar em políticas para ajustar este processo às necessidades de uma democracia” (…) “uma necessidade da democracia é que tenhamos jornalismo independente. Isso não é feito pelas plataformas de maneira nenhuma, nenhuma dessas plataformas emprega um único jornalista”.
As plataformas pegam no conteúdo jornalístico dos ‘sites’ jornalísticos e redistribuem aos utilizadores, aponta o professor, alertando para que se se ‘secar’ a fonte do jornalismo, “não haverá jornalismo nas plataformas de todo no futuro” e esse “é o perigo”.
“Numa democracia, “precisamos de jornalismo de investigação independente. Por outras palavras, precisamos de apoiar a fonte desse tipo de jornalismo e esse apoio já não vem inteiramente da economia porque a economia mudou”, prossegue.
O investigador insiste na necessidade de “novas fontes de receitas e rendimentos para o jornalismo de investigação”, e isso pode passar, entre muitas outras coisas, por “subsídios públicos provenientes do Estado para apoiar o jornalismo que é tão importante para toda a população”.
Este debate faz-se, hoje, como se vê, a nível global, por ser uma necessidade urgente, pelo que, até nos Açores, já chegamos tarde e com algumas vozes políticas disparatadas e ignorantes sobre o assunto, como ainda agora assistimos em pleno debate parlamentar.
Muitos jornais açorianos, mais do que centenários, já desapareceram de circulação, e os que ainda sobrevivem correm o risco de serem ‘engolidos’ neste combate desigual, onde os gigantes da comunicação querem impor um conhecimento único.
O “Diário dos Açores”, que hoje completa 155 anos de existência, mantém-se nesta luta com os seus parcos recursos, à sua dimensão, mas continua íntegro, graças aos seus leitores, anunciantes e colaboradores, sempre na linha fundadora de dar voz a todos e em defesa das causas regionais.
A presente edição é bem o espelho desse pluralismo de colaboradores, de ideias, de diferentes pontos de vista, de todos os quadrantes políticos, mas sempre em defesa da Democracia e da nossa Autonomia.
Aqui os factos são verificados, nunca desmentidos, obedecemos à regulação da ética e dos valores da tolerância, nunca do ódio, do insulto e da desinformação.
É esta a diferença.
Mesmo numa luta desigual.
Obrigado pela confiança!
Osvaldo Cabral
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