Ouvir o PS hoje a falar dos problemas sociais em que vivem os Açorianos, é algo caricato que roça o ridículo. Não fosse a hipocrisia sinónimo de jacobice, eu até estranharia. A farsa sempre foi uma hábil prática da esquerda.
Recordando um passado ainda tão próximo, todos sabemos que o problema não vem de agora e que este discurso só engana os incautos.
Devemos, de forma honesta, reconhecer que a mudança política à direita foi um sinal de descontentamento. Afinal, as pessoas votaram em José Bolieiro com a esperança de uma mudança. Nessa altura já se sentia um agravamento do custo de vida e os resultados erráticos das políticas de esquerda sentiam-se no bolso – com um discurso de manifesta falta de memória, o PS/A é visto com desconfiança.. e não convence.
Mas a esquerda sabe que este ano é crucial para José Bolieiro e há que tirar proveito da insatisfação:
- Sucintamente, sabemos que ainda não há resultados sólidos que convençam os Açorianos. Assuntos (como a Sata) que já deviam estar resolvidos e onde não se apresentaram medidas eficazes, arrastam-se para descrédito da governação. É preciso coragem política para tomar medidas que invertam a sobrevalorização dos imóveis. É preciso conter as intenções dos monopólios e garantir que todos os Açorianos beneficiem de um efectivo e real crescimento económico. É necessária fiscalização em diversas áreas.
Ademais, novos problemas surgem que podem provocar desgaste político… como o HDES. E outros vão surgir e já se adivinham.
Simultaneamente, no seio da coligação, erros graves expõem projectos pessoais em prol do serviço público. A legitimidade dos partidos da coligação também está posta em causa, dada a questionável utilidade de nem constituírem maioria e de, na ausência ética, comprometerem o acordo assumido. Com parceiros claramente encostados, alguns sociais-democratas fundamentam a razão de concorrer sozinho.
O ano vai ser difícil. Diria mesmo fulcral para José Bolieiro. O Açoriano passa realmente dificuldades e sente que os Açores são para estrangeiros. A esperança desvanece um pouco e anseia por um sinal forte. É verdade que a qualidade de vida do açoriano se degenera.
A continuidade do governo é incerta, o Chega dá vários tiros no pé e ainda não convence como parceiro de estabilidade.
Obviamente, por tudo isto, é tempo propício à esquerda para iniciar a sua marcha do “bota-abaixo”, mas não sejamos ingénuos: ainda subsiste a memória de uma péssima gestão e também a apresentação de uma fraca equipa do PS/A não entusiasma ninguém.
Finalmente, recordar que este é o ano para as comadres zangarem-se. As autárquicas serão o ringue de luta, dentro e fora dos partidos, mas essencialmente entre PS e PSD, que detêm forte implantação local.
Junto com umas presidenciais sem importância, o povo irá cansar-se do circo. O Chega irá, no meio disto, tentar corrigir os seus erros e tirar dividendos do desalento geral.
Embora com realidades diferentes entre a república e o nosso arquipélago, a continuar assim e na ausência de bons resultados, daqui a um ano o PS e o Chega monopolizam o jogo político. O PSD/A tem de se lembrar que para se atingir o máximo, não se pode fazer o mínimo. - Filipe de Mendonça Ramos