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Os pioneiros do turismo rural e de natureza

Obrigado a todos pela vossa presença neste encontro que visa debater e cimentar ideias para continuar a afirmação do turismo rural nos Açores, como peça-chave da nossa oferta, já de si, diferenciada, permitam-me que use uma pequena história, que, vou de seguida, entre aspas, plagiar, adaptando ao assunto que aqui nos traz.
Conta-se, com fontes credíveis, que há cerca de um século um senhor padre oriundo dos Altares ilha Terceira era tão famoso pela eloquência das suas homilias que um dia foi convidado para pregar na Sé Catedral de Lisboa perante o povo e altos dignitários da igreja portuguesa, incluindo o Cardeal Patriarca.
O sacerdote começou o seu sermão dizendo:
“Maldito seja o Pai, maldito seja o Filho e Maldito seja o Espírito Santo”. E, fez uma pausa estratégica, enquanto toda a assistência ficava com os cabelos em pé e se ouvia um burburinho de desconforto.
Padre Rocha, acho eu que era o nome dele, deixou passar esse momento e continuou:
“Isto dizem os hereges, eu cá digo bendito seja o Pai, bendito seja o Filho e Bendito seja o Espírito Santo”.
De alguma forma, plagiando, como já atrás referi, enquadrando na essência deste nosso encontro, mais um contributo para o desenvolvimento do turismo no arquipélago, apeteceu-me dizer-vos:
Maldita seja esta terra, malditas sejam as suas paisagens, malditas sejam as suas gentes.
Dizem os Velhos do Restelo, os falsos profetas da nossa desgraça.
Sem qualquer pausa, eu digo: bendita seja esta terra e tudo o que a natureza nos legou, do mar às serras; benditos os que acreditam nas suas potencialidades, e assumem o desígnio de preservar este maná que não tem dono nem preço; bendito seja este povo, que, de forma franca e desinteressada, faz gala em saber receber e partilhaas suas experiências e rasga novos horizontes, nessa comunhão com outras culturas.
Aqui chegados, vamos assumir algum pragmatismo.
Quando iniciei o meu percurso nesta aventura, acreditava plenamente que esse seria o futuro do turismo nos Açores. Não só pela minha convicção, mas por, na minha função de agente de viagens até então, ser confrontado por inúmeros dos poucos turistas que visitavam os Açores e particularmente a ilha Terceira sobre a existência de alojamentos, espaços gastronómicos e de convívio espontâneo com pacatas e interessadas populações que tornariam a experiência de uma permanência nas ilhas, inolvidável.
Percebi o potencial, arrisquei, mas tive logo a noção de que uma gota não faz o oceano.
Por isso, não tive dúvidas em perceber que todo esse potencial estava espalhado por todas as ilhas e que, era necessário encontrar gente, em todas elas, que acreditassem que este era o caminho para uma oferta diferenciada, com poder de atração por pessoas interessadas em experiências únicas.
Levou algum tempo até assimilar algumas sinergias, poucas devo dizer, mas verdadeiramente empenhadas. A esses, chamo, sem qualquer pejo, os pioneiros do turismo rural e de natureza nos Açores.
Felizmente esses exemplos frutificaram, e muita gente foi aparecendo com novos e inovadores projetos.
A certa altura, sentimos todos, que era necessário juntar todas essas sinergias para criar uma força que defendesse os princípios de qualidade, autenticidade, bem receber, que resultou na fundação das Casas Açorianas.
Falando em causa própria, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que, na forma e no conteúdo, com altos e baixos como é natural, construímos uma associação, que é referência, hoje, no panorama da atividade turística nos Açores, um reconhecimento que é público e notório, sendo até distinguido com galardões regionais, nacionais e internacionais.
Quero dizer, que, até agora mantivemos um rumo. Não isento de percalços, alguns erros, mas no essencialo objetivo e a paixão que nos move.
Há cerca de duas dezenas de anos estivemos reunidos neste mesmo espaço, a debater o tema Turismo nos Açores – que rumo? Hoje, passadas tantas experiências tanta aquisição de conhecimentos tanta vontade de consolidar o turismo rural na Região como parceiro principal, vimos aqui propor uma discussão subordinada ao tema “Não perca o Rumo”.

por Gilberto Vieira*

*Presidente da Casas Açorianas – Associação de Turismo em Espaço Rural. Texto lido na sessão de abertura do Encontro das Casas Açorianas, que decorreu no fim de semana em S. Jorge

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