“É sinal de que Francisco é um referencial de humanismo, de diálogo e compreensão, de paz, em defesa de povos atingidos por longos conflitos regionais, desencadeados por grupos dirigidos por interesses que afrontam os direitos humanos fundamentais, geram a mortandade de populações inocentes e a instabilidade social e política.”
A quadra carnavalesca não conseguiu minimizar a crise internacional provocada pelas mudanças diplomáticas e comerciais implementadas pela nova administração norte-americana, nem a incerteza resultante do estado de saúde do Papa Francisco, cuja liderança tem promovido a renovação da ação da Igreja Católica baseada na sinodalidade, a atenção às periferias humanas e um especial cuidado com a mãe-natureza.
Tem sido impressionante ver o interesse e envolvimento de tantos fiéis e não só no estado de saúde do Bispo de Roma. É sinal de que Francisco é um referencial de humanismo, de diálogo e compreensão, de paz, em defesa de povos atingidos por longos conflitos regionais, desencadeados por grupos dirigidos por interesses que afrontam os direitos humanos fundamentais, geram a mortandade de populações inocentes e a instabilidade social e política. Desses conflitos decorre o enorme número de deslocados, de refugiados, de exilados e toda a sorte de discriminações e de condições de vida infra-humanas, como a fome e a morte a que a comunidade internacional não consegue ou não quer dar resposta.
Mais grave é atribuir-se a esses povos espoliados os males e a insegurança com que as sociedades mais desenvolvidas se vêem confrontadas. Na verdade, as causas do problema estão no seu próprio seio e derivam de condições de vida desumanas que alimentam desigualdades e estados de pobreza permanentes.
Na sua mensagem quaresmal, D. Armando Domingues, refere “ameaças e tragédias deste nosso mundo dividido, radicalizado, cheio de discursos prepotentes e ameaçadores, próprios de quem quer ”ser grande e poderoso”, pouco se importando com os passos trémulos do pequeno e frágil”, solicitando as preces dos fiéis.
Numa referência indireta às decisões da nova americana o Bispo de Angra acrescenta: “Há um mundo em guerra ou a preparar-se para ela, alterações no quadro político e social global que lança medo onde era preciso a esperança. Muitos pobres e irmãos nossos correm o risco de perder apoios de projetos humanitários suportados por “países ricos” adivinhando-se problemas acrescidos como o aumento da pobreza, das doenças, do isolamento…”
Perante esse cenário D. Armando convida “todos os homens de boa vontade a efectuarem uma “leitura atenta e actualizada das pobrezas existentes para se equacionar em quê e quem pode socorrer e ser “dador de esperança”.” Recorrendo à Bula “A esperança não desilude”, do Papa Francisco, o Bispo reafirma a necessidade de uma “aliança social” que tenha como prioridade os presos, os doentes, os migrantes, exilados, deslocados e refugiados, os idosos, os milhões de pobres e os jovens. “Se cada comunidade souber cuidar e todos a começar pelos seus pobres, então podemos contribuir para bloquear o crescimento da pobreza e não deixar ninguém a viver “sem esperança”.” 1
Num mundo carregado de incertezas face ao ressurgimento de teorias geoestratégicas há muito abandonadas, teme-se que antigos blocos militares se desagreguem e que novos parceiros se aliem. Aparentemente, são interesses conjunturalmente comerciais, embora com propósitos de domínio planetário, não cuidando do direito dos povos à soberania e às liberdades individuais e coletivas.
Esse é um perigo que os Açores também correm com o novo inquilino da Casa Branca.
Era já tempo de a diplomacia portuguesa e as entidades regionais interrogarem o governo norte-americano (se já o fizeram comuniquem aos açorianos) sobre que papel estratégico atribui à Base das Lajes, e que irá acontecer às várias centenas de trabalhadores portugueses.
A administração republicana afirma ter territórios preferenciais de domínio estratégico e, se for necessário, de ocupação forçada.
Espera-se que os Açores não integrem essa lista. Se isso acontecesse, na fronteira mais ocidental da Europa, haveria, certamente, um grave foco de tensão entre os dois continentes.
A notícia do eventual encerramento em Ponta Delgada do mais antigo consulado dos EUA no mundo indicia que a diplomacia portuguesa tem uma atuação lenta. Essa decisão não dignificaria nem o muito antigo relacionamento do Arquipélago com os EUA, que remonta ao tempo das baleeiras norte-americanas e à independência da nação, nem a numerosa comunidade açoriana lá residente.
Perante tanta incerteza e indefinição, só nos vale a Esperança que não desilude e dá força à convicção de que melhores tempos virão. 2
1 Mensagem para a Quaresma de D. Armindo E.Domingues, março,2025
2 Foto: https://setemargens.com/
José Gabriel Ávila*
*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com