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As armadilhas da inteligência artificial para quem escreve

Refletindo a nossa capacidade de pensar, estruturar ideias e comunicar, a escrita sempre foi um processo profundamente humano. No entanto, com o avanço da inteligência artificial (IA), esta prática milenar está a passar por mudanças significativas. Seja no contexto académico, profissional ou pessoal—por prazer ou até terapia—uma multidão crescente recorre agora a ferramentas de IA para melhorar a clareza e a eficácia dos seus textos.
Na verdade, a IA já influencia a escrita há mais tempo do que muita gente provavelmente imagina. Aplicações como o Microsoft Word e o Google Docs utilizam sistemas inteligentes para corrigir erros ortográficos, sugerir sinónimos e até prever palavras antes de as digitarmos. O que antes considerávamos simples auxiliares tornou-se um mecanismo ativo na construção do discurso escrito. Estes programas não apenas corrigem, mas também influenciam a escolha de vocábulos e a organização das frases.
Nas últimas semanas, comecei a experimentar o ChatGPT como uma ferramenta complementar ao meu processo de escrita. Em vez de simplesmente deixar a IA escrever por mim, usei-a para tornar os meus textos mais informativos e apelativos, tanto em termos de estilo como de investigação, garantindo ao mesmo tempo maior clareza. O meu método habitual, fundado no treino que recebi na minha formação como psicólogo, envolve pesquisar o tema, organizar as ideias em tópicos e estruturar o texto de forma sequencial. Depois de concluir um rascunho, peço ao programa para analisar a precisão da informação e sugerir melhoramentos. Ainda assim, a decisão final sobre o conteúdo permanece minha.
Conversando sobre esta experiência com um amigo de reconhecida estatura académica, ele alertou-me para uma questão preocupante: algumas ferramentas de deteção de plágio, todas com elevada margem de erro, poderiam interpretar as melhorias sugeridas pela IA como conteúdo copiado. Até então, pensava ter encontrado um método eficaz para aumentar a qualidade dos meus textos, mas de repente vi-me confrontado com um dilema inquietante. Poderia negar que certas frases ou mesmo parágrafos provinham de uma fonte externa? A resposta é não.
Este problema levanta questões importantes sobre autoria e originalidade. Segundo alguns especialistas em ética digital, a IA não deve ser vista como uma mera ferramenta passiva, pois o seu impacto na escrita é significativo. O filósofo Luciano Floridi, da Universidade de Oxford, observa que «a inteligência artificial não pensa nem cria da forma como os humanos o fazem, mas a sua capacidade de gerar textos coerentes levanta novos desafios sobre a autoria e a criatividade».
O meu amigo fez uma distinção relevante: ainda que o texto final tenha recebido sugestões da IA, a estrutura, o conteúdo e a intenção continuam a ser meus. Fui eu quem guiou o processo, fornecendo as ideias e organizando o material, mas a IA desempenhou um papel ativo na reformulação de certas partes. Esta constatação levou-me a refletir sobre a melhor forma de lidar com tal influência.
Deveremos regressar aos métodos tradicionais, recusando qualquer interferência da IA? Esta opção pareceu-me excessivamente conservadora porque ignoraria a realidade de um mundo onde a tecnologia está profundamente integrada no nosso dia-a-dia. Em vez disso, talvez o mais sensato seja apostar na transparência e na adaptação—afinal, é esta flexibilidade que impulsiona a cultura e o conhecimento.
Enquanto eu ponderava sobre aquelas questões, o meu amigo enviou-me, alguns dias depois, o rascunho de um artigo que pretende submeter para publicação. No final do texto, lia-se a indicação: «Assistido por IA». Esta solução parece-me razoável, porque reconhece o contributo da inteligência artificial sem comprometer a integridade do autor.
Se há algo que a história nos ensina, é que a tecnologia raramente retrocede. A IA não substituirá a criatividade humana, mas pode ajudar muito no aperfeiçoamento da comunicação escrita. Já está silenciosamente integrada na redação de publicações respeitáveis, auxilia na elaboração de relatórios governamentais e corporativos e dá voz aos assistentes virtuais na internet. Em vez de temer esta nova realidade, a alternativa aceitável é compreender os seus limites, usá-la com responsabilidade e garantir que a autoria e a originalidade sejam sempre preservadas.
Aos leitores e à equipa editorial deste jornal, sinto que devo esta explicação. A escrita assistida por IA não serve para evitar o esforço intelectual, mas constitui uma ferramenta que, quando utilizada de forma adequada, favorece o aumento do conhecimento e do progresso.

Manuel Leal

(Texto assistido por IA).

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