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Entre marido e mulher, todos temos de meter a colher

O Dia Internacional da Mulher celebra as mulheres, as suas conquistas e, sobretudo, as suas lutas. No caso das mulheres açorianas, uma das grandes lutas será com certeza a da violência doméstica – não fossem os Açores a região do país com o maior índice de violência doméstica.
A violência doméstica envergonha, traumatiza e mata. Mesmo que crime público, continua a ser um tema tabu. Isto porque expor pessoas próximas, seja por vergonha ou protecção, é sempre uma tarefa difícil. Apesar disso, quando se tem a coragem de abordar o tema, logo se percebe que a violência doméstica é um mal recorrente em muitas casas açorianas.
Os relatos que me chegam são horríveis. Desculpas adiantadas ao leitor pela leitura gráfica, mas necessária. Há casos de homens que amarram as filhas no quintal, que espancam mulheres grávidas e que chicoteiam as esposas até lhes partirem as costelas. Como se não bastasse – e aludindo ao infame femicídio da Lagoa do Fogo – há casos de maridos que cortam as mulheres aos pedaços e despejam-nas como se fossem lixo. Como é que formamos tamanhos monstros numa microssociedade como a nossa é uma questão preocupante.
Para combater este problema, existem vários pontos fundamentais. O primeiro é deixarmos de o considerar um tema tabu. É também essencial investir na educação e na sensibilização desde cedo. É preciso reforçar, de forma contínua, a ideia que nenhuma forma de violência pode ser tolerada. As escolas, as famílias, as instituições e o Estado têm um papel fundamental nesse sentido.
Muitas mulheres continuam presas a relações abusivas por falta de alternativas. Para combater isso, é imperativo a mobilização rápida de apoio psicológico, jurídico e financeiro. O Estado e a sociedade civil devem reforçar redes de apoio e de proteção eficazes para garantir que nenhuma mulher se sinta desprotegida.
Por fim, é fundamental que os agressores sejam responsabilizados e reeducados. A sanção penal é necessária e urgente, mas deve ter um caráter reabilitador, pois só por meio da conscientização e reabilitação é possível quebrar o ciclo da violência.
A violência doméstica não é um problema privado, é um problema social. Enquanto continuarmos a ignorá-lo, continuaremos a perpetuar o sofrimento de muita gente. Por isso, mudam-se os tempos, mudam-se os ditados: entre marido e mulher, todos temos de meter a colher.

João Bernardo

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