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Sem Dados,Não Há Avaliação

Aplicar políticas económicas sem dados estatísticos é como tentar pilotar um avião sem apoio cartográfico: podemos ir seguindo algumas tendências com base na nossa intuição, mas, no final, apenas nos guiamos pela linha de vista.
Na Iniciativa Liberal, gostamos de nos guiar por números de fontes oficiais como o SREA, o INE ou o EUROSTAT e, a partir daí, definir um plano e as políticas que melhor se enquadrem em cada contexto.
É por este motivo que acreditamos que estas instituições devem primar pela isenção e pela disponibilização de dados atualizados e em bruto, permitindo uma interpretação livre por terceiros. Caso contrário, ficamos dependentes dos resumos de informações que o governo decide divulgar — numa versão moderna do clássico orwelliano 1984.
A título de exemplo, ainda este mês de fevereiro, surgiram notícias de que o salário médio regional ilíquido nos Açores, em 2024, foi de 1.742,00€. Os mais incautos poderão pensar que metade dos açorianos aufere esse montante. No entanto, apenas com recurso à mediana ou a séries de dados por intervalo conseguimos perceber qual o valor auferido por metade dos açorianos. Num mundo em que a economia muda à velocidade de uma publicação de Trump, a ausência de dados críticos como a mediana salarial prejudica qualquer análise e avaliação das políticas públicas e dos resultados obtidos.
Pois bem, apesar de termos valores da média salarial para 2024 nas bases de dados do INE e do SREA, a verdade é que, desde dezembro de 2022, a mediana salarial não é publicada. Nessa data, os valores líquidos para o salário médio na RAA eram de 1.273,71€, enquanto a mediana era de apenas 938,51€ e o terceiro quartil situava-se nos 1.208,60€. Isto significa que metade dos açorianos ganhava menos de 938,51€ e que 75% da população auferia menos 65,11€ do que a média salarial. E como será em 2024? Não sabemos, porque não há dados estatísticos disponíveis.
Numa época em que enfrentamos uma crise habitacional sem precedentes, como podemos perceber o que são preços acessíveis à compra de habitação e a respetiva taxa de esforço das famílias, se não sabemos o que 50% ou 75% da população aufere? E, na mesma linha de pensamento, como podemos identificar o Índice de Gini, avaliar o impacto da inflação ou perceber se os aumentos salariais estão a acompanhar as necessidades da população?
Se o SREA e o INE conseguem calcular médias salariais, é evidente que têm acesso aos dados para calcular medianas — o que nos leva a questionar o motivo para a sua não publicação. Será um lapso, desorganização ou simplesmente falta de prioridade? No final, a imagem que passa é a de uma estratégia política para controlar a narrativa e evitar críticas que exponham as falhas governativas, deixando a oposição sem ferramentas para contestar os discursos oficiais.
Nas palavras do saudoso Alexandre Soares dos Santos, filantropo e fundador da Pordata, «não há maior defesa contra a manipulação nem arma mais eficaz contra as propagandas e ilusões do que o poder dos dados rigorosos e independentes.» E acrescentava que «se o conhecimento não pode ter limites, também o autoconhecimento de um país os não tem.»
Sem dados, não há análise séria — apenas propaganda. Uma região que não mede corretamente os seus problemas está condenada a nunca os resolver. Se o governo esconde ou negligencia dados essenciais, como podemos confiar que as suas decisões são baseadas na realidade e não apenas numa estratégia de comunicação populista?

Carlos Caetano Martins *

  • Engenheiro Técnico Sénior
    Dirigente Iniciativa Liberal – Açores
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