“Assim e com muitas peripécias, mistérios, promessas e discussões, terminamos por ter esta autonomia que hoje existe e que está ainda longe de atingir as virtudes então programadas e prometidas por todos os responsáveis.”
Vamos comemorar este ano os cinquenta anos do 6 de junho de 1975.
Apesar de alguns terem tentado distorcer a História pelos mais diversos fins e interesses, o facto é que a grande maioria considera a data de 6 de junho, a mais importante para os Açores em tempos de democracia.
A revolução política que então se verificou, tendo como base os habituais abusos do governo de Lisboa, bem como o contexto político adverso que se vivia na capital – como a tomada do poder pelos comunistas – com a jovem revolução em vias de virar ditadura estilo soviética, provocou nas sociedades insulares o impulso coletivo de manifestar nas ruas todo o seu descontentamento e cansaço.
Com todo o espaço temporário que permite analisar os fatos à luz do arrefecimento histórico, ao longo das décadas que decorreram desde então, o fenómeno da independência dos Açores (e da Madeira, embora menos reivindicativa), foi analisado, discutido e debatido conforme as ideias e as ideologias de quem o fazia.
Se por um lado, algumas esquerdas políticas e intelectuais se afirmavam contra qualquer separação ou soberania insular, os centros optavam pelo meio-termo de se implantar uma espécie de autonomia político-administrativa. Nas extremas, ficavam os que viam no contexto, a oportunidade dos Açores serem completamente livres de quaisquer vínculos centralistas que muitas marcas negativas haviam deixado ao longo dos séculos.
Para as figuras políticas açorianas que já existiam do anterior regime, nomeadamente a de João Bosco Soares da Mota Amaral, deputado na Assembleia Nacional de Marcelo Caetano, os Açores teriam de ter um qualquer estatuto autónomo, governo próprio e outras regalias naturais. Embora nos inícios da revolução nacional, a sua posição fosse mais radical, acabou sendo convencido por Lisboa, de que um regime autónomo era a solução menos prejudicial para ambos os lados.
Assim e com muitas peripécias, mistérios, promessas e discussões, terminamos por ter esta autonomia que hoje existe e que está ainda longe de atingir as virtudes então programadas e prometidas por todos os responsáveis.
Ao longo dos anos, uma grande maioria de estudiosos do assunto estão de acordo que, sem os eventos à volta do 6 de junho de 1975, nunca teríamos este regime autonómico que hoje vivemos.
Mas os desejos de independência provocaram sérios danos em toda a política do retângulo ibérico que, a partir de São Bento, se tornou cada vez mais centralista e severa através de todos estes anos. Lisboa nunca soube conviver com governos autónomos. A própria Constituição portuguesa coloca inúmeros entraves ao desenvolvimento natural das Autonomias Insulares em aspetos que são elementares a todo o processo.
Foi instituído o Dia da Pombinha, como sendo um dia especial para o povo açoriano. De facto, o Espírito Santo faz parte intrínseca do açorianismo. Mas por ser religioso, deve ficar por isso mesmo.
Por outro lado, faz, sim, sentido de que o 6 de junho seja, de facto, o DIA DOS AÇORES. Foi através dele, como todos concordam, que foi adquirida a principal abertura de liberdade política, administrativa e social para o povo açoriano. E se os soberanistas continuam a celebrar este dia, isto não deve ser impeditivo do regime político em adotar a data de total concordância pela população. Esta é uma data política, como são o 10 de junho, o primeiro de dezembro e outras que se celebram a nível nacional.
Para nós, insulares, a autonomia começou a nascer a partir de 6 de junho de 1975. Sem estes importantes acontecimentos, teríamos, provavelmente, os tais três distritos separados da era clássica, com o governador-capitão-donatário das ilhas atlânticas.
José Soares*
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