As exportações para os EUA poderão sofrer rude golpe com a imposição de tarifas, numa altura em que as exportações de vários produtos açorianos estavam a aumentar, nomeadamente peixe, lacticínios e madeira.
De acordo com os dados do SREA consultados pelo nosso jornal, a exportação de peixes, crustáceos e moluscos, produtos que mais exportamos para os EUA, registaram no ano passado o valor de 3,2 milhões de euros, quando no ano anterior tinha sido de 2,6 milhões de euros.
Logo a seguir vem o leite e lacticínios, no valor de 2,58 milhões de euros, uma subida ligeira em relação ao ano anterior, que foi de 2,53 milhões de euros.
A madeira atingiu no ano passado 1,78 milhões de euros, acima dos 1,63 milhões de euros de 2023.
Os restantes produtos exportados dos Açores registam valores abaixo de 1 milhão de euros.
No total, no ano passado, exportamos para os EUA um total de 9,6 milhões de euros, acima dos 9 milhões do ano anterior (ver análise estatística do nosso colaborador Rafael Cota nesta página).
Recorde-se que os EUA são o principal parceiro comercial extracomunitário de Portugal, com o peso das exportações de bens para os EUA a representar 2% do PIB em 2023.
O Banco de Portugal (BdP) estimou o grau de exposição da economia e das empresas portuguesas ao mercado norte-americano, concluindo que os setores nacionais que se encontram mais em perigo face às tarifas alfandegárias da administração de Donald Trump são os do fabrico de têxteis, de fabricação de produtos minerais não metálicos (que inclui vidro, produtos cerâmicos e cimento), as indústrias das bebidas, dos equipamentos informáticos, de comunicações, eletrónicos e ótica e indústria do couro.
Em todos estes setores fortemente exportadores, a percentagem de empresas com exposição relevante ao mercado norte-americano varia entre 8% a 12%, detalha um estudo divulgado pelo Banco de Portugal. Entretanto, a Comissão Europeia anunciou a imposição de tarifas de 25% aos produtos dos EUA a partir de 16 de Maio (ver notícia na página internacional 13).
Tarifas de Trump sem grande impacto nos Açores
É quase seguro que a introdução das tarifas anunciadas por Donald Trump não terão grande impacto no caso dos Açores, que no último ano exportou para os EUA produtos no valor de cerca de 9,6 milhões de euros.
As exportações para a América são fundamentalmente, conservas de peixe, refrigerantes, ananás e carne, que se dirigem em particular ao mercado da saudade.
Os produtos poderão ficar mais caros para os imigrantes mas trata-se de uma quota pouco significativa.
Para os Açores eventuais penalizações serão compensadas pelo turismo, que não é afetado, e está em crescimento.
Segundo os analistas económicos, as tarifas que Trump está a implementar visam, fundamentalmente, diminuir o déficit externo dos EUA que é extremamente elevado e com perspetivas de crescer nos próximos anos, de acordo com as previsões dos analistas da própria Casa Branca conforme se pode ver no gráfico do “Office of Management and Budget, the White House”, que se publica.
A dívida dos EUA em relação ao PIB deverá atingir 124 % do PIB até o final de 2025, de acordo com os modelos macroeconómicos globais da Trading Economics. A longo prazo, a Dívida Federal Bruta dos Estados Unidos em relação ao PIB é projetada para oscilar em torno de 126 % do PIB em 2026 e 128 % em 2027.
A Agência do Congresso para o Orçamento tinha projetado, em Janeiro de 2020, que estes montantes só deveriam ser atingidos no orçamento de 2029, mas a dívida cresceu muito mais do que esperado, por causa da pandemia, que encerrou parte significativa da economia dos EUA.
Em 2023 já os Estados Unidos lideravam o ranking mundial com mais de US$ 33 triliões em dívida pública.
Num comentário feito recentemente por Catarina Castro, analista de mercados, na SIC, estas tarifas impostas por Trump, mais do que trazer um crescimento económico para os EUA “têm a ver sobretudo com a necessidade de redução do deficit externo”.
Por outras palavras, o “American Way of live” está a desaparecer, depois da pandemia e de outros fatores que fizeram cair a economia.
Agora o que Trump pretende é repor esses valores e voltar a repor o sonho americano. Segundo comentadores políticos terá sido muito por esta razão que muita gente votou em Trump.
No entanto, segundo muitos comentadores estas medidas não terão o efeito desejado e em muitos casos o Presidente dos EUA terá que aceitar as negociações propostas por outros países
Em 2024, as exportações açorianas para os EUA representaram 9,6 milhões de euros de acordo com o Serviço Regional de Estatística dos Açores.
Naturalmente que as tarifas terão algum impacto, todavia, os economistas consideram que os Açores a economia não será “tão afetada” devido ao crescimento do turismo que tem alavancado diversos setores e compensarão eventuais percas face às medidas de Trump.
por Rafael Cota*
*Especial para Diário dos Açores