A SATA, empresa estandarte dos Açores, é um marco crucial na história do arquipélago. O agora processo de compra e venda, carregado de debates e controvérsias, deve ser muito mais do que mera transação comercial: é um reflexo da complexidade de gerir património público, equilibrando interesses regionais e exigências do mercado global.
Historicamente, a SATA conectou as nove ilhas e o arquipélago ao mundo, encurtando distâncias e desempenhando um papel essencial na promoção do turismo e na mobilidade dos açorianos. Contudo, apesar do sucesso operacional, o modelo de gestão há muito que necessitava ser reconsiderado. Face aos desafios que foram acontecendo ao longo das décadas, a necessitar de mudanças flexíveis e de estratégia, os parâmetros da gestão, e que mais quiserem, tornaram-se obsoletos.
A venda da SATA, imposta por Bruxelas, é a derradeira oportunidade de garantir sustentabilidade a uma companhia que opera num mercado competitivo.
Não creio que tudo seja negro. Não tendo capacidade de expansão em mercados internacionais, onde será sempre aniquilada pela concorrência internacional, a SATA deve especializar-se nas rotas internas e/ou de alto valor.
Vêm aí novas oportunidades, talvez seja a derradeira descolagem para um futuro promissor. Se eu fosse o presidente Bolieiro, não deixaria de acompanhar nem por um minuto, mais os conselheiros especialistas, o processo de compra e venda da companhia.
Por outro lado, impõe-se questionar: o que se perde e o que se ganha com esta mudança? Há novos investidores que poderão trazer inovação e eficiência. Mas também há receios sobre a preservação da identidade regional: se a companhia tiver de passar de companhia regional de bandeira para companhia competitiva e sustentável no mercado aberto e global, pois então que seja.
Esta reflexão leva-nos a um ponto também muito importante que é o da gestão das empresas públicas daqui para a frente. Que lições vamos tirar daqui? Qualquer passo em falso, agora, agravará ainda mais a situação de garrote por que passamos, e afetará diretamente a nossa reputação nos mercados.
Luís Soares Almeida*