De acordo com o “Ciência Vitae”, (Plataforma Europeia de Registo Científico), a minha Grande Área e “Domínio de Atuação” é: “Ciências Sociais – Ciências da Educação” e “Humanidades – Filosofia, Ética e Religião”.
Há sempre imenso a dizer e escrever sobre o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, mas, antes de mais, é de salientar a autenticidade e integridade da sua Obra, por isso a leio, a revisito e, desde 1992/93 dou a ler e a estudar na Universidade dos Açores e, igualmente, através dos meios de Comunicação Social. A Figura do Professor Manuel Ferreira Patrício sempre me fascinou, antes de o ler e dar a ler. Quando e onde conheci o Professor Manuel Ferreira Patrício? Conheci o Professor Manuel Ferreira Patrício no dia 11 de março de 1991, quando me desloquei à Escola Secundária das Laranjeiras, em Ponta Delgada, para assistir a um painel sobre “Escola Cultural e Reforma Educativa”, porque eu era, entre outros, um dos professores, profissionalizados, alocados à referida Reforma Educativa e Curricular, experiência da qual guardo gratas recordações, em dinamismo de investigação, formação e docência, sempre atual, atualizável e atuante, com novas aportações. Foi uma experiência muito enriquecedora, com sentido formativo, mas também reflexivo e crítico. A Escola Secundária Domingos Rebelo, em Ponta Delgada era, na altura, a Escola Secundária, em S. Miguel, designada Escola-Piloto para desenvolver, numa fase experimental, a Reforma Educativa e Curricular. Na altura, a Escola Secundária Domingos Rebelo não tinha anfiteatro, daí termos ido para o auditório da Escola das Laranjeiras, onde o Professor Manuel Ferreira Patrício fez a sua brilhante Conferência, que caiu, como a boa semente, em terras certamente diferentes. A minha atitude de espírito foi de muita recetividade.
Como sempre faço anotações, com os termos rigorosamente expressos por quem profere uma Comunicação ou Conferência, se é do meu interesse e nela vejo autenticidade e forte empenho. Foi logo o que vi. Um Professor dominando muito bem as questões da Educação, da Escola e da Cultura e, no caso, uma comunicação expressa com muita vida, com muita vivacidade, dinamismo e convicção, traços identitários que o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício continuou a demonstrar ao longo dos anos, até ao fim da sua vida terrena, até à última vez que o vi. Era, notava-se, um Professor, também por vocação e missão, e, talvez por isso, também, sempre notei uma afinidade que se manteve forte ao longo do tempo, visto que, a nosso convite, o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício várias vezes se deslocou à Universidade dos Açores para participar em vários Colóquios, Encontros e Conferências.
No Professor Manuel Ferreira Patrício os Valores eram estudados e profundamente vividos, por isso Valem,- disso dava Testemunho, através da Palavra e do Exemplo, em Autenticidade e Verdade, e só assim são imprescindíveis para que uma Instituição, seja onde for, possa permanecer formativa e com vida. As Instituições, em geral, precisam de Professores de Referência com Auctoritas, como era o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, e a sua Obra, aí está, para ajudar a edificar as Instituição de Formação. Em termos fenomenológicos, digamos assim, o Professor Manuel Ferreira Patrício implicita-se, implica-se, naquilo que escreve. Por isso escreve em Verdade. No Prefácio do livro Lições de Axiologia Educacional afirma Manuel Ferreira Patrício:
“A estrutura deste livro é, por um lado, simples e clara; por um lado, exprime certos pontos de vista do autor sobre a educação, a escola e a vida. Não sou adepto da ciência neutra. Não me parece, com efeito, que a ciência seja alheia ao homem e à sua condição. Ao preocupar-se com o saber, o homem preocupa-se consigo próprio. Não há saber alheio às exigências profundas da vida. Assim, a comunicação do saber não deve ser assética, mas palpitante e arriscada. Um autor, ao escrever e publicar, revela a sua intenção de comunicar, de dialogar com o outro. Tem, pois, em vista contribuir para a formação humana de todos os interlocutores. A informação que possua, e faculte aos seus destinatários, deve o autor ordená-la para a formação de todos.” (Patrício, 1993, p.15).
Esta citação é de tal maneira importante, não apenas neste contexto e sobre este livro, mas revela uma atitude epistemológica, de reflexão e de investigação-formação, central no Pensamento e na Ação do Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, porque, à data de hoje, depois de longos anos de amizade e convívio com o Professor Manuel Ferreira Patrício, – de Saudosa Memória-, confirmo a profundidade da autenticidade destas afirmações. O Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício era um Homem Sincero e Genuíno, até ao fim, como Pessoa, Cidadão, Professor, Investigador. E neste momento que o qualifico, permanece, era – e é – Sincero, Homem de Verdade, no qual o Conhecimento estava – e está – vinculado à Verdade. Sem Verdade não há Educação, essa a mais grave e perigosa situação da Educação, isto é, está vazia de si mesma. Mas como dizia, ao afirmar do Professor Manuel Ferreira Patrício, invoco, aqui, outro Filósofo Genial, de Verdade, o Professor Doutor José Enes, que nos deixou escrito algo de muito Sério sobre o que é ser Sincero. Afirma José Enes, em Estudos e Ensaios:
“Sincero é o que vem de uma só vez ao crescer, o que nasce sem misturas, o que não é híbrido e se mostra são e escorreito, íntegro na inteireza do que é. Sincero é o que se mostra, sem rodeios nem ambiguidades nem equívocos, tal qual é. A busca da hermenêutica será tanto menor quanto mais sincero for o que se mostra.”. (Enes, 1982, p.92). Mas, aqui, Sincero, não deve ser atendido no “plano ético” [estrito], mas, aí, sim, no plano “ontoético”, no plano do ser. Continuando em Estudos e Ensaios destacamos:
“(…). A experiência da verdade, como vimos, surgiu na convivência humana e, aí, vigora, ao nível do senso comum, a lei moral entendida como normação reguladora das ações humanas. A verdade moral seria então apenas a que é contrariada pela mentira.
A verdade, porém, é uma experiência ontológica no autêntico sentido desta palavra: reveladora do ser na fala. O ser é aquele fundamento que a hermenêutica procura buscando-o na fala, que ora o mostra ora o oculta. É ele que nasce e nasce para mostrar-se e ao nascer se mostra e nasce mostrando-se. O ser, entretanto, para o homem e no mundo do homem, só tem uma via para se mostrar: vir à fala. A falam, que se tece de palavras, nasce aí. Nestas origens de assomo do ser, três coisas com-nascem inseparavelmente, numa com-nascença original e mutuamente originante: o ser, o conhecer e o falar. Delas, a mais originante é o ser: este é que gera e nasce”. (Enes, 1982, p. 92).
Vemos como em José Enes o Ser é central, nuclear, é a Essência geradora e também se dá a nascer, a ser. Por esta razão a Ontologia é, também, a disciplina Filosófica central, a par da Filosofia do Conhecimento e nesta a Fenomenologia. Ser e Conhecer, na Luz da Consciência e também no ser da própria consciência, é o fenómeno que luz à e na Consciência. A consciência tem sempre ser na sua constituição, ao mesmo tempo que é abertura ao ser. Daí a célebre afirmação de Husserl, “toda a consciência é consciência de…”. E quando falamos nas possibilidades e potencialidades da Educação, como essência, antes da sua concretização e realização, isto é, também, nos fundamentos que precedem a ação educativas, todas estas ideias, em essência, encontram sentido na seguinte afirmação de Gustavo de Fraga: “é a partir de uma fenomenologia eidética que a ciência da possibilidade precede a da realidade” (Fraga, 1966, p. 60). Em bom rigor, quando nos perguntamos: O que é a Filosofia? O que é a Educação?, nós estamos num caminho ontofenomenológico, procurando o Ser e o Conhecer, na luz da consciência e do mostrar-se na fala e na hermenêutica, principalmente nas zonas da “floresta negra” (de Heidegger), à procura de clareiras, de luz, de significação, de sentido, do eidos, da essência, que nos revela o ser… em que isto impeça de “repor as essência na existência”, como nos mostrou Merlau-Ponty, mas, na realidade é sempre a essência que procuramos na consciência que se dá em nós, mesmo que na projeção para a realidade exterior. Só a segurança dessa consciência, em dinâmica com o universo exterior, nos impede toda a alienação. A nossa vida é vida de consciência, em imanência e transcendência.
E estas reflexões da Filosofia da Educação não nos devem levar mais longe, e, a fundo, a compreender o que dizemos quando afirmamos “aprendizagens significativas”? Em Educação, e nas práticas educativas da Escola, o que queremos na realidade dizer com “aprendizagens significativas”? Na realidade, a Educação precisa de influxos profundos da Filosofia e da Filosofia da Educação. Ora, também as Metodologias de Ensino e as Didáticas têm de saber lidar, com propriedade, com os conceitos e com as práticas que levem ao entendimento do que é Ser, Conhecer e Falar. Vejamos o Relatório da UNESCO intitulado “Aprender a Ser”, que é um dos pilares do outro Relatório da UNESCO, Educação, Um Tesouro a Descobrir. Ora o Verbo Descobrir, como muitos outros verbos e vocábulos, têm uma Origem metafórica, tão presentes, de modo explícito, ou de modo implícito, muito, também, “o impensado”, a potenciar e a dar expressão, a partir das Obras do Professor José Enes as quais constituem referências inéditas para tematizar e aprofundar, com inovação, fundamentada, as Metodologias de Ensino e as Didáticas, a partir de novas e/ou renovadas aportações, questões, conceções e filões originais, muito úteis e fecundos para as questões do ensino e da aprendizagem tendo como fundamento questões da Ontologia, da Fenomenologia e da Hermenêutica, sendo certo que “Aprender a Ser”, entre outros, é um Desígnio que está muito longe de ser, ainda, um entendimento educacional fundamentado. Ora, as Questões da Ontologia interessaram, e muito, ao Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, na sua relação, íntima, com a Educação. Num artigo intitulado “Ontologia da Educação e Ontologia da Cidadania: Axiologia dos Desafios da Relação”, afirma Manuel Ferreira Patrício: “A educação há. Logo, a educação é. É o quê? Determinar esse quê, esse quid, é responder plenamente, e positivamente, à pergunta: “O que é a educação?”. Essa é a pergunta nuclear da, ou de uma, ontologia da educação. “ (Patrício, 2020, p. 9). Em interligação com o Genial Fenomenólogo, Gustavo de Fraga, entendemos oportuno transcrever as seguintes afirmações de Manuel Ferreira Patrício: “Pela análise fenomenológica somos levados ao coração da realidade a que damos o nome de educação. Toda a consciência é consciência de, como Edmundo Husserl mostrou para sempre.
(…)” (Conclusão em próxima edição)
Texto publicado, originalmente, na Revista Nova Águia. Revista de Cultura para o Século XXI. Nº 35, 1º semestre 2025, pp: 165-167. Lisboa: Edições e Atividades Culturais, Unipessoal Lda.
Emanuel Oliveira Medeiros*
Professor Universitário
Universidade dos Açores
- Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação
Centro de Estudos Humanísticos da Universidade dos Açores
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas