Abril é o mês da liberdade. Em Portugal, comemoramos o 25 de Abril como o dia em que conquistámos o direito de sermos livres — de pensar, de escolher, de amar. Este artigo é um convite à reflexão sobre como o valor da liberdade, tão celebrado em Abril, pode e deve estar presente nas relações amorosas.
Quando se fala em liberdade dentro de uma relação, é comum pensar em falta de compromisso, individualismo. Mas liberdade não é o oposto de vinculação. Ser livre numa relação é ter espaço para se ser quem é — com as nossas ideias, os nossos desejos, os nossos sonhos. É poder continuar a crescer como pessoa, mesmo estando ligado a alguém. É ter voz, poder dizer sim e também poder dizer não, sem medo de represálias emocionais. Ser inteiros, sem perder a conexão.
E mais importante ainda: é poder escolher estar. Todos os dias.
Muitos de nós crescemos com ideias bastante românticas (e às vezes perigosas) sobre o amor. Mitos sobre amor e possessividade podem fazer-nos confundir segurança com controlo. A ideia de que “quem ama, cuida” pode, por vezes, confundir-se com “quem ama, controla”. Mas o amor não precisa de controlo para ser forte. Quando sentimos que só podemos estar seguros se o outro estiver “preso” a nós — emocional, física ou simbolicamente — isso diz mais sobre os nossos medos do que sobre o amor em si.
Uma relação onde me sinto seguro é aquela em que me sinto livre para ser quem sou. Isso implica respeito pelos tempos e pelos espaços de cada um, abertura para o diálogo e uma escuta genuína. Implica também aceitar que o outro é um ser autónomo, com vontades e necessidades que não são sempre iguais às minhas, e onde há um incentivo mútuo ao crescimento pessoal. E é nesse crescimento que o vínculo se fortalece. O amor deixa de ser uma gaiola dourada e passa a ser um lugar de encontro — entre duas pessoas inteiras, que escolhem estar juntas sem deixarem de ser elas próprias.
Claro que tudo isto é mais fácil de dizer do que de viver. A liberdade no amor exige maturidade emocional, autoconhecimento e, muitas vezes, coragem. Coragem para confiar, para deixar ir o controlo, para lidar com os próprios medos e inseguranças, que são legítimos. E, por vezes, precisamos reaprender a amar sem medo. E isso, tal como a liberdade, também se aprende.
Quando o medo entra, a liberdade foge.
O 25 de Abril lembra-nos que a liberdade é uma conquista. Uma luta que vale a pena, que se faz com coragem, com sacrifício e com esperança.
Amar com e na liberdade não é fácil. É, muitas vezes, um trabalho diário — feito de escuta, de respeito, de honestidade e de escolhas conscientes. Mas é nesse tipo de amor que podemos respirar fundo, sentir-nos inteiros, e construir relações onde nos sentimos seguros, pois relacionamentos com espaço para respirar crescem mais saudáveis.
Neste mês da liberdade, talvez possamos parar um pouco para pensar: sinto-me livre na minha relação? E o meu parceiro, sentir-se-á? Que espaço damos um ao outro para sermos quem somos? Como é que o amor que vivemos honra o valor da liberdade?
Afinal, o amor — tal como a democracia — não se impõe, não se controla, não se prende. E floresce quando há espaço para respirar.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Ana Santos*
*Psicóloga, Terapeuta Familiar e de Casal