O uso de smartphones tem ocupado cada vez mais espaço nas nossas vidas e embora ofereça inúmeras vantagens, como a facilidade de comunicação e de acesso a informação, o seu uso excessivo pode trazer desafios significativos, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças e jovens. O acesso quase permanente e sem supervisão adulta, permite-lhes aceder a conteúdos que podem influenciar a maneira como percebem e interagem com o mundo, incluindo a sua compreensão sobre relacionamentos e sexualidade. Além disso, a exposição a conteúdos mediáticos, mesmo que não pornográficos, pode fomentar comportamentos e expectativas desajustadas. Outros riscos associados, relacionam-se com problemas de saúde física (sono, postura, obesidade, sedentarismo), e do desenvolvimento cognitivo e socio-emocional. Salientam-se alguns dados sobre o impacto do uso excessivo:
Cerca de 30% dos adolescentes apresentam sinais de dependência digital, revelando dificuldade em controlar o tempo de uso.
A luz azul dos ecrãs reduz a produção de melatonina, atrasando o sono e diminuindo a sua qualidade. Adolescentes que usam telemóveis antes de dormir dormem, em média, menos uma hora.
O uso excessivo de redes sociais aumenta a ansiedade e a depressão. Jovens que passam mais de 3 horas diárias nas redes têm um risco 35% maior de desenvolver sintomas depressivos.
Cerca de 60% dos adolescentes preferem interações digitais a conversas presenciais, reduzindo o desenvolvimento de competências interpessoais.
O uso do telemóvel durante os estudos reduz a capacidade de concentração e retenção de informação em cerca de 20%.
Os smartphones têm um forte potencial de adição e, portanto, deve ser ponderada a sua necessidade por parte de crianças, assim como supervisionada a sua utilização mesmo com adolescentes. A Organização Mundial de Saúde indica:
Crianças até 2 anos: Sem exposição a ecrãs.
2 a 5 anos: No máximo 1 hora por dia.
6 a 12 anos: Até 2 horas por dia, com supervisão.
13 a 18 anos: Uso equilibrado, sem interferir com sono, estudos e atividades físicas.
Assim, recomenda-se aos pais e educadores que procurem ser um modelo positivo, já que comportamentos modelam mais do que palavras. Sugere-se o estabelecimento de limites claros para o tempo de ecrã e o incentivo da autorregulação. Os conteúdos consumidos devem ser supervisionados através do diálogo e deapps de controlo parental. As atividades offline, como desportos, artes e hobbies ajudam a diminuir o tempo online e criam oportunidades de socialização presencial, fundamentais para o treino de habilidades sociais.
É fundamental promover uma Educação Digital que ensine a diferença entre conteúdos públicos, privados e íntimos, alertando para importância da segurança online, como apurar a credibilidade das informações e que estimule o desenvolvimento do pensamento crítico. Pais e comunidade educativa devem estar vigilantes e promover o diálogo sobre o uso consciente da tecnologia.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Joana Amen*
*Psicóloga Clínica e Vogal da Direção da Delegação Regional Açores da OPP