Ensinava-nos o meu pai que, entre muitas outras, há duas coisas que nos merecem todo o respeito: uma era o mar, e ele até nem sabia nadar; a outra é o fogo. Nunca saía da sua loja, depois de cada dia de árduo trabalho, que não passasse uma revista a todos os cantos, à procura de pontas de cigarro atiradas por desleixados. E desligava o contador da eletricidade, não fosse acontecer algum acidente.
Sabemos que há gente capaz de tudo. Por maldade ou por negócio, incendiários profissionais causam avultados prejuízos nas matas alheias ou nas florestas e parques do Estado. A lei, que, por vezes é madrasta, devia ser o mais implacável possível com tais sujeitos. Infelizmente, com frequência, tal não acontece, são muitos os interesses envolvidos, os prevaricadores conseguem escapar e continuar a queimar e destruir propriedade que não lhes pertence.
Acontece que estamos, todos os dias, a assistir através das pantalhas da televisão, a manobras incendiárias perpetradas pelo criminoso-presidente deste país. Armado irrisoriamente em bombeiro, no sentido de ser o melhor em tudo, – “eu faço, eu aconteço, num dia eu resolvo isso tudo”, o homem tem um instinto destruidor como não há igual. Deve ser por isso que quando ontem lhe perguntaram como se ia preparar para atamancar a dança das tarifas, ele afirmou que o fará “por instinto”, isto é, conforme lhe der na tola. É uma tática que usa há muito tempo: derruba o que está bem construído e, quando nota que se levantam vozes discordantes, volta atrás com as suas intenções e atua como se fosse o salvador, põe tudo como estava antes e enche o papo a dizer que ninguém faz nada tão bem feito como ele. Dizia um artigo de opinião que li por aí que não há constrangimentos que o amarrem; move-o a força da ganância, da avidez. É orgulhosamente ignorante, não sabe ler nem segue uma ideologia aceitável. Para além da cobiça, é difícil distinguir-se quanto do seu comportamento é resultado dos seus próprios desejos ou quanto é apenas fruto da manipulação de quem o rodeia. O resultado é uma mistura supertóxica e explosiva. Como ironizou o jornalista Chris Hayes, da MSNBC, Trump resolveu pôr fogo à casa, com a triste decisão de espalhar tarifas a torto e a direito, causando uma instabilidade nunca vista nos mercados mundiais, apenas com a ideia de ver a casa a arder. Mas, por diversas razões, decidiu apagar o fogo. E o que é que ganhou com a manobra? Praticamente nada… está a América agora como se fosse uma casa meio queimada. Great job, senhor presidente!
Tenho de acrescentar duas linhas para pedir desculpa aos briosos Soldados da Paz. Sei que já aconteceram casos de fogos postos por bombeiros, pessoas que nem deviam ser chamadas assim. A minha comparação com o Trump é com esses, não com os que arriscam a sua vida para salvarem as nossas. Infelizmente este incendiário tem à sua volta uma equipa de outros quejandos, tão mesquinhos e ainda mais deploráveis do que ele. O esforço destruidor deles todos (as) faz-se notar cada vez mais. Não há nenhum chefe de ministério ou de agência desta administração que não tenha sido convocado senão para dar cabo do que estava feito, nenhum anunciou medidas de progresso nos seus departamentos ou de benefício para o país. Tem sido um contínuo bota-abaixo, uma constante política de queimada generalizada.
Nem sequer a água de todos os mares será suficiente para debelar este terrível fogo-posto.
João Bendito