Abril para todos, todos, todos
“O grito de Liberdade continua a fazer eco em todas as quinas do mundo atual: Contra os saudosistas totalitaristas a tentar reviver esses negros tempos; Contra as discriminações; Contra os racismos inconcebíveis; Continuam as perseguições políticas em grande parte do globo.”
Chegados a esta Primavera, onde toda a Natureza se rejuvenesce, chegamos também aos 51 anos de Liberdade neste recanto insular paradisíaco e comemoramos, com toda a alegria, as benesses que continuam a brotar dessa fonte inesgotável de juventude, de mocidade perpétua, que é a liberdade de todos e cada um de nós.
Desde 25 d’abril de 1974 que o bem-fadado golpe militar, seguido do apoio dado pelo povo, serve de inspiração para comemorar a pacífica revolução florida, encarnada como o sangue de todos os que por ela caíram nas décadas que lhe antecederam e por todos os povos da terra, servindo de inspiração à revolta a todos os meios de discriminação, escravismo, colonialismo, perseguições políticas, humilhação de género, injustiça social enfim, toda uma agenda tenebrosa levada a cabo noutros tempos, noutras eras e noutros contextos, mas já então condenada pelo mundo democrático do globo.
Hoje, enquanto cidadão insular que acompanha desde então todo o progresso e percurso feitos, só posso continuar a congratular esse milagre popular espontâneo e inesquecível, dessa ‘revolução’ que foi apontada como exemplo e discutida em muitas academias do mundo. Mas o Homem é reciprocamente egoísta e rejeita aprender com a História – prefere repeti-la.
O grito de Liberdade continua a fazer eco em todas as quinas do mundo atual: Contra os saudosistas totalitaristas a tentar reviver esses negros tempos; Contra as discriminações; Contra os racismos inconcebíveis; Continuam as perseguições políticas em grande parte do globo.
Já vou para o oitavo Papa na minha existência. Era Pio XII quando nasci. O último dos Papas austeros, de aparência imperial. Nada fotogénico, embora fosse o primeiro Papa a aparecer na televisão e definia o cinema, a rádio e a televisão como “maravilhosas invenções técnicas”. Morreu em 1958. Depois dele, o grande João XXIII. Abriu o Concílio Ecuménico II mas não o encerrou. Isso seria para Paulo VI. Apesar de apenas 5 anos de Papado, João XXIII é dos mais famosos. Bondoso, simpático de figura paternal, fazia lembrar o nosso avô. O mundo adorava-o. Modernizou a Igreja Católica Apostólica Romana. Entre muitas coisas, as missas deixaram de ser em latim. Paulo VI teve de continuar o Concílio, mas muitas das ideias de João foram abandonadas pelos conservadores. Eram liberais demais… João XXIII já falava na discriminação de género e abriu portas à Mulher e à participação dos fiéis nos rituais.
Os 15 anos seguintes seriam de Paulo VI. Foi o primeiro Papa a visitar Portugal. Salazar beijou-lhe a mão. Durante o seu Papado, a Igreja foi pondo em prática as mudanças do Concílio de João XXIII. Já a Liberdade dava os primeiros passos em Portugal, quando morre Paulo VI em 1978. Segue-se o Papa do sorriso, João Paulo I. Abre grandes esperanças ao mundo católico, pela sua aparência modesta, simpatia e sorriso permanente. Mas dura pouco. Trinta e três dias depois, morre misteriosamente. Os cardeais ficaram perplexos, porque João Paulo I fora eleito para colmatar os 15 anos apagados de Paulo VI. Persistiram na sua agenda política e foram buscar o saudável polaco João Paulo II, que durou até abril de 2005. Foi uma escolha feliz, desta vez. Quase 30 anos de um Papado que recolocou o Vaticano e o Catolicismo no globo, imensamente viajado por este Papa. Depois dele, novamente a calmaria imperial vaticana com o alemão Bento XVI, conservador aristocrata. Forte teólogo, fraco nas relações públicas. Num ato de medo das repercussões que pairavam no ar sobre vários crimes cometidos pelo clero, dá um golpe na estupefação da crença católica mundial, ao renunciar em 2013, coisa que já não acontecia há 600 anos. É então que o Colégio Cardinalício necessita acalmar as hostes mundiais e vai pela primeira vez à América Latina elegendo o Cardeal Jorge Mário Bergoglio, que adota o nome de Francisco.
Se a História nos diz algo, é que o próximo Papa não será tão popular, tão simpático e tão virado para o Humanismo.
Felizmente que de vez em quando aparece alguém como Francisco, num mundo tão mediático e por isso tão minúsculo e onde se apreciam mais as qualidades destes condutores de Multidões e de Fés.
Com dois mil anos de experiência espiritual, os cardeais sabem quem eleger, no tempo certo de todas as épocas.
José Soares