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FRANCISCUS

Assim jaz, sob uma lápide de mármore com essa simples inscrição, um homem que foi bem maior que a sua liderança de uma religião de grande proeminência e que viu o seu funeral se tornar num evento de escala mundial. Traduzindo em pedra, o espírito de humildade, proximidade e despojamento que marcou a sua vida e o seu pontificado.
“Francisco foi um papa que veio do fim do mundo e trouxe a primavera e o mundo dos pobres para o centro da Igreja”. O seu legado irá permanecer como um convite a uma Igreja mais simples, próxima, ecológica, missionária e aberta à escuta e ao diálogo, com paixão pela dignidade da vida e dos mais vulneráveis.
Em contraciclo comum mundo que ameaça virar, exactamente, para o oposto: ataques à democracia e ao sistema eleitoral, negacionismo climático e retrocessos ambientais, disseminação de informações falsas, discursos discriminatórios e polarização social, aumento das desigualdades para níveis nunca vistos.
Estando, ironicamente, presente no seu funeral, num elegante fato azul-marinho com a sua esvoaçante cabeleira loira, o grande expoente desse mundo que ameaça tornar-se num campo de batalha planetário e que renega, no essencial, tudo aquilo que Francisco pregou e lutou.
Mais uma vez, vimos o Vaticano transformado numa gigante feira de vaidades e centro de manipulações políticas, contrastando com as mensagens de um jesuíta que veio do fim do mundo para lutar pela liberdade, igualdade e fraternidade. Uma luz brilhante que veio devolver a esperança e a dignidade a todos os humildes e excluídos.
Um Homem que tocou crentes e não crentes e se tornou num símbolo da resistência de todos aqueles que ousam dizer não à tirania e à transformação do mundo num gigante centro de pugilato dominado pelas bandeiras da usura, das desigualdades e dos ataques sistemáticos à nossa casa comum que ameaça, simplesmente, ruir.
Para trás, deixou a pequena política e a luta do poder pelo poder e pugnou pela simplicidade e transparência. Buscou tornar a Igreja mais aberta e acolhedora, promovendo maior participação das mulheres na estrutura eclesiástica e nomeando cardeais de regiões periféricas, tornando o Colégio dos Cardeais mais global e representativo. Adoptando uma postura mais flexível e pastoral em relação a temas como homossexualidade e divórcio, chegando a pedir que padres abençoassem casais do mesmo sexo e divorciados recasados, algo inédito na história da Igreja católica.
Grandes passos que geraram e gerem feroz oposição dos sectores conservadores que o atacaram e atacam de forma intransigente e que apenas esperam e lutam pelo retrocesso a uma igreja desfasada do mundo e das pessoas. Foram dias que vimos de tudo: desde o fausto ultrajante do Vaticano e dos senhores do mundo até a grandiosas manifestações de esperança e fé.
Um momento de grande intensidade emocional e doutrinal que não deveria deixar indiferentes todos aqueles, crentes ou não, que acreditam num mundo de inclusão e equidade e que repudiam todas as formas de opressão e exploração e lutam por um planeta saudável que seja a casa de todos.
Obrigado, Francisco.

António Simas Santos

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