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Na semana das Festas do Senhor

Deixei a porta da varanda do meu quarto entreaberta para ouvir melhor, ao meio dia, os primeiros foguetes que assinalam a semana das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. E, à hora certa, depois do toque dos sinos, aí estavam eles a estralejar, despertando alegria, apesar do tempo carregado de humidade e de chuviscos ocasionais.
É sempre assim, desde que me entendo, e a tradição mantem-se, passando de geração em geração, concretamente na programação em cada ano feita pela Comissão das Festas, em que nestes dias se transforma a Mesa da Irmandade do Senhor Santo Cristo, agora até aberta à participação de elementos do sexo feminino, sinal dos tempos novos que dentro da Igreja Católica se estão vivendo.
Os foguetes ao meio dia ao longo desta semana são o sinal de que as Festas estão mesmo à porta. Mas não faltam outros, espalhados pelo Campo de São Francisco e ruas confinantes, onde os enfeites já se estão colocando e se experimentam as luzes, pelas lojas que vendem círios nas imediações do Santuário, e até um pouco por toda a nossa cidade, animada pela presença de tantos emigrantes vindos de propósito da América e do Canadá e porventura de outros destinos também, para pagarem as suas promessas ou simplesmente matarem saudades de parentes e amigos e ainda das nossas inesquecíveis Festas.
No Sábado, à hora certa, lá vai surgir o andor, trazido em ombros, com a Imagem tão querida de todos os micaelenses, ousaria dizer mesmo de todos os Açorianos, tal é a repercussão que tem tido, sobretudo nos últimos anos, o culto da comovedora Imagem em todo o nosso Arquipélago. É usual que seja lançada uma girândola de foguetes a assinalar tal momento, quando o Senhor Santo Cristo dos Milagres inicia a sua presença anual no meio do povo. Em algumas ocasiões notei a falta desse sinal, que avisa toda a gente, os que estão no Campo, a participar ou apenas a ver a Mudança, ou mesmo longe dele. Disseram-me que eram ordens do Aeroporto, onde aguardavam pela chegada ou partida de algum avião… Obtemperei então que o Aeroporto é que tem de saber que às 16.30h do Sábado da Quinta Semana da Páscoa sai à rua o andor e o mesmo no Domingo seguinte, o que é sempre assinalado com uma girândola de foguetes, devendo por isso abster-se de aceitar aterragens e saídas de aviões para essa hora! Que nós estamos na nossa terra e os que chegam ou partem têm de se adaptar às regras por nós estabelecidas, e não o contrário! Temo que seja preciso lembrar isto mesmo de vez em quando e a mais do que uma entidade, a ver se acabamos com os hábitos antigos de servidão!
As Forças Armadas costumam juntar-se, e bem, às homenagens prestadas à Imagem do Senhor. Saem do Castelo de São Brás os soldados e os seus oficiais e formam uma guarda de honra em frente ao Monumento ao Emigrante, executando a Banda Militar o Hino quando o andor pára em frente. Em tempos recuados a guarda de honra postava-se no lado sul da Matriz e ao passar da procissão apresentava armas e o seu comandante ajoelhava apresentando a espada. O que agora acontece está de acordo com a actualidade e não põe de modo algum em causa a laicidade do Estado, garantida no texto da Constituição.
As Festas prosseguem no Campo e nas áreas adjacentes. Desde há alguns anos uma parte das barracas foi passada para Canada da Doca e parece-me bem. Assim fica a Avenida Roberto Ivens aliviada e é possível passar por ela mais comodamente, desde que não deixem instalar-se lá os habituais vendedores de roupas e sapatos que devem estar a aparecer por aí para aproveitar também as Festas. Substituíram os antigos vendedores de louça da Vila, que ou deixaram de trabalhar ou morreram mesmo os mais velhos deles.
Ainda aparecem pelo Campo alguns vendedores de guloseimas de fabrico artesanal, algumas em formas bizarras. Mas quer-me parecer que foram substituídos pelos fabricantes de bolas de algodão doce e de milho de várias cores. Há ainda o caso dos balões, que são obrigatórios para os mais pequenos, convindo atá-los bem no pulso não vão os mesmos voar, o que acontece com regularidade e é vê-los irem subindo até desaparecerem levados pelas brisas que refrescam os arraiais. A cotação dos ditos balões, alguns deles com formas de animais, tem vindo sempre a subir, onerando as bolsas dos pais das crianças que por eles choram.
Este ano, por motivos de saúde, vou ver as Festas na televisão, fazendo assim companhia a minha Irmã. Conseguirei deste modo estar perto de todos os momentos mais importantes, desde a própria abertura do portão do Convento, donde sai o andor na tarde do Sábado e até ao seu regresso, já noite, no Domingo, depois da despedida no adro do Santuário, no fim da majestosa procissão.
(Em tempo: as eleições legislativas deram, como se antecipava, a vitória a Luís Montenegro e à AD. Perante a subida do Chega o derrotado foi o PS. Nos Açores ganhou José Manuel Boleeiro e a coligação eleitoral que lidera, que aumentou a representação parlamentar, voltando a incluir Deputado do Faial, repetindo-se o quadro nacional quanto ao resto. Parabéns aos vencedores e bom trabalho e boa sorte aos Deputados eleitos.)

João Bosco Mota Amaral*

  • (Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo
    Ortográfico)
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