Vivemos num tempo onde as exigências, internas e externas, são constantes. Espera-se que sejamos produtivos, resilientes, disponíveis, saudáveis, bons pais, bons parceiros e, de preferência, perfeitos. Perante tantas exigências, por vezes, juntamos um pouco de autocriticismo e temos o cocktail perfeito para o adoecimento mental. O resultado? O surgimento de os sintomas como depressão, ansiedade, burnout e uma sensação de inadequação permanente.
Tendo a consciência que não está sob o nosso controlo a opinião dos outros em relação a nós, só nos resta recorrer a um recurso psicológico muito negligenciado, mas profundamente poderoso: a autocompaixão. Mas, afinal, o que é autocompaixão? Trata-se de ter pena de nós mesmos? De sermos condescendentes ou piedosos? Não, muito pelo contrário. Aautocompaixão, neste contexto, é a capacidade de oferecermos a nós próprios a gentileza e compreensão que ofereceríamos a um amigo que estivesse em sofrimento.
Trata-se de aceitarmos as nossas falhas, dificuldades e limitações com honestidade, sem julgamento. Implica ter coragem de enfrentar o sofrimento, permitindo-nos senti-lo plenamente, mas com o compromisso de aliviá-lo.
A autocompaixão também envolve prestar atenção ao tom da nossa voz interna: será que utilizamos um tom acolhedor, como faríamos com alguém de quem gostamos, ou, pelo contrário, somos duros e críticos? Será que estamos mesmo a ser os nossos próprios melhores amigos? Ou será que somamos mais uma voz destrutiva no meio de tantas outras?
Outro ponto crucial é a capacidade de parar e viver o momento presente, pois é o único instante que realmente temos sob controlo. Esta prática é um antídoto contra a ansiedade que muitas vezes sentimos por nos preocuparmos excessivamente com algo que pode nunca chegar a acontecer.
Aautocompaixão vai além do simples ato de “ser gentis”. Ela exige que imponhamos limites quando necessário, acolhendo as nossas emoções sem negá-las ou subestimá-las. É ter a capacidade de reconhecer que, por vezes, também precisamos de ajuda e que devemos procura-la junto de amigos, familiares ou terapeutas.
No fim de contas, somos os únicos responsáveis pelo nosso próprio cuidado. Às vezes, aprender a ser um aliado de nós mesmos é um dos atos de coragem mais difíceis, mas também os mais transformadores. E, quem sabe, este pode ser o primeiro passo verdadeiro para a construção de uma saúde mental mais sólida e equilibrada. Ao nos tratarmos com compaixão, abrimos as portas para uma vida mais autêntica e mais tranquila, onde podemos, finalmente, ser quem realmente somos — com todas as nossas imperfeições.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Clara Ferreira Rita*
*Psicóloga