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Saúde (do) Pública(o) (26)

Vacinação, o melhor escudo protector

O tema da semana: Sarampo, com muita força

A 8 de julho de 2025, decorrente do surto de sarampo nos Estados Unidos – que começou no condado de Gaines (Texas) – já se haviam registado 1288 casos confirmados, daquela doença. Este é o maior surto desde 1992, tendo sido já contabilizadas 3 mortes: 2 crianças no Texas e 1 adulto no Novo México, todos não-vacinados. Foram registadas ainda, até à mesma data, 162 hospitalizações.
Assim que o surto foi detectado em Gaines, as Autoridades de Saúde do Texas fizeram recomendações de vacinação imediata, especialmente nas áreas afectadas. Até fins de Março de 2025, mais de 200 casos foram registados, nesse condado e nos condados adjacentes (Terry, Dawson, Yoakum, Lynn, Lubbock, Dallam e Ector). A grande maioria dos casos — 96‑99 % — aconteceu em pessoas não vacinadas. Actualmente, o foco principal permanece no oeste do Texas, especialmente no condado de Gaines — onde mais de um terço dos casos ocorreram. Além do Texas, surtos activos foram registados em Nova Iorque, Geórgia, Illinois, Iowa, Kansas, Michigan, Montana, Novo México, Dakota do Norte, Oklahoma, Utah, Kentucky, Missouri.
Pormenorizando, o Texas é o epicentro, com cerca de 792 casos, dos quais 393 no condado de Gaines, mas foram atingidos mais 25 condados, destacando-se Terry (com 59 casos), Lubbock (47), Dawson (25) e El Paso (22). No Novo México ocorreram 81 casos, e 1 óbito confirmado; no Kansas, 72 casos. No Dakota do Norte, 23 casos, todos não-vacinados. No Ohio, 34 casos. Illinois, 8 casos (no sul do Estado). Iowa, 6 casos (ligados a um surto familiar em Johnson County). Geórgia, 6 casos (em Atlanta).
As crianças do grupo etário dos 5 aos 19 anos foram as mais atingidas (38 % dos casos), seguindo-se os adultos (com 20 ou mais anos), (32 % dos casos), e por fim as crianças até aos 4 anos (30 % dos casos). Apenas 2 % dos casos tinham 2 doses de VASPR.
A nível nacional, 13 % dos casos resultaram em hospitalização; 23% dos casos em crianças até aos 4 anos foram hospitalizados, 9% dos casos em crianças dos 5 aos 19 anos foram também hospitalizados, e 8% dos adultos. Três mortes foram confirmadas — todas em pessoas não vacinadas: 2 crianças no Texas (6 e 8 anos), 1 adulto no Novo México.
Certas comunidades religiosas, como os menonitas no Texas, e comunidades ultra‑ortodoxas judaicas em Nova Iorque, registaram surtos, devido à baixa cobertura vacinal. Verifica-se também que veículos de transporte, e viagens internacionais, facilitaram a propagação, como aconteceu em Denver, com um surto ligado a um voo da Turkish Airlines.
A redução das taxas de vacinação anti-Sarampo (VASPR), abaixo dos 95 % de cobertura (recomendado para se conseguir imunidade de grupo), foi um factor determinante para esta escalada dos números. Especial destaque para as comunidades com elevada relutância em relação à vacina (como os menonitas, no oeste do Texas). Existem regras de vacinação escolar em todos os Estados, mas algumas comunidades utilizam isenções religiosas para contornar as exigências.
O Secretário da Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., criticado muitas vezes pela sua posição “fluida” sobre as vacinas, envolveu-se muito positivamente nesta crise — visitou a zona afectada em Abril, inclusive incentivando a vacinação.
Em surtos desta natureza recomenda-se a Vacinação com a VASPR (3 doses); apenas 2 doses são 97 % eficazes, e mesmo 1 dose tem ~93 %. Crianças dos 6 aos 11 meses, especialmente se viajarem, devem receber 1 dose antecipada. Adultos sem prova de imunidade devem receber 2 doses, com um intervalo de 28 dias. Os profissionais de saúde, viajantes frequentes devem verificar o seu estado vacinal.
Por vezes, recorre-se ao “cocooning” (imunizar todos os contactos próximos de bebés ou pessoas imuno-deprimidas, que não podem fazer a vacina).
A Vigilância clínica é muito importante, para identificar rapidamente tosse, febre elevada, conjuntivite, erupções cutâneas, e assim isolar imediatamente.
Devem evitar-se voos, aeroportos, transportes públicos, se não se estiver completamente vacinado.
Resumindo, o surto de sarampo que começou no condado de Gaines escalou rapidamente, espalhando-se para dezenas de Estados, tornando 2025 o pior ano desde os anos 1990. A combinação de baixas taxas de vacinação, isenções de vacinação permissivas e desinformação sobre vacinas, contribuiu para esta grave crise de saúde pública. A resposta das autoridades focou-se na vacinação imediata, rastreio de contactos e campanhas comunitárias, especialmente nas áreas mais afectadas.
No que toca ao Sarampo, Portugal (e os Açores) estão em Nível 1, “tomar as precauções habituais”. As Recomendações do CDC para viajantes internacionais são para que todos os viajantes com 1 ano, ou mais, façam 2 doses da VASPR, e bebés com 6 a 11 meses tenham 1 dose. A vacina deve ser feita pelo menos 2 semanas antes da viagem; se faltar pouco tempo, deve-se tomar 1 dose imediatamente.
Após a viagem, deve ser feita a monitorização clínica, durante 21 dias, e contactar o médico se houver febre e erupção cutânea.
Devem lavar-se frequentemente as mãos, evitar a proximidade com pessoas doentes, e ficar em casa se estiver doente.
Apesar de tudo, o melhor escudo é sempre a vacinação completa e atempada.

A homenagem da semana: “ser médico é, acima de tudo, um compromisso”

“Num tempo em que a saúde domina a atenção mediática, importa fazer uma pausa para refletir, com rigor e responsabilidade, sobre as soluções que realmente importam.
Vemos uma tendência crescente para julgar tudo e todos com base em análises rápidas, parciais e muitas vezes desenquadradas do todo, que é sempre mais complexo do que a simples soma das partes.
Disparam-se críticas fáceis, multiplicam-se discursos populistas.”
Esta semana o Prof Dr Paulo Santos publicou (mais) um magnífico artigo [em https://healthnews.pt/2025/07/12/a-vida-nao-cabe-num-post-liderar-pelo-conhecimento-ponderacao-e-responsabilidade/]. Começando com o parágrafo que reproduzi acima, destaco também a forma como termina o mesmo:
“Mais do que uma profissão, ser médico é, acima de tudo, um compromisso: com a verdade, com a prudência, com a dignidade humana. (…)
É um compromisso de responsabilidade para cada um e de obrigação para quem forma, regula, inspira e lidera os médicos.
A liderança faz-se entre o rigor e a autoridade: rigor alicerçado no conhecimento e autoridade expressa pela posição, ambos fundamentais, complementares e mutuamente inclusivos. Ser líder é saber, saber fazer e saber estar, definindo o padrão, a atitude e a meta.
É esta mesma liderança que tem de se afirmar na organização dos serviços de saúde:
Contra o erro, afirmamos a ciência.
Contra o simplismo, afirmamos a ponderação.
Contra o populismo, afirmamos a ética.
Contra a frieza, afirmamos a humanização.”
Quantas vezes tudo isto anda tão esquecido. Um bem-haja ao Prof. Paulo Santos, pela síntese brilhante. Oxalá todos o saibam ler.

Mário Freitas*

  • Médico, Coordenador Regional da Saúde Pública dos Açores
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