Edit Template

Saúde (do) Pública(o) (30) – A violência sobre os (+) frágeis ameaça a Saúde Pública

“A transição para um sistema de saúde mais digital e interligado é um tema crucial na Europa, com o objetivo de tornar os cuidados de saúde mais eficientes, acessíveis e baseados em dados.”

Os temas da semana: da cólera no Sudão e da decapitação de cristãos em Moçambique aos tratamentos termais em Portugal

Um assunto que tem merecido destaque é o surto de cólera no Sudão, quer pela sua gravidade, quer pelo contexto em que se insere. A Unicef, e outras agências da ONU, têm alertado para a situação, que coloca em risco a vida de centenas de milhares de crianças. Esta crise não surge isoladamente. O Sudão vive um conflito interno desde Abril de 2023, conflito que já provocou uma das piores crises humanitárias do mundo. A guerra causou a destruição de infraestruturas, incluindo hospitais e sistemas de saneamento, e forçou milhões de pessoas a fugirem das suas casas. O acesso à água potável e a condições de higiene mínimas é limitado, criando o ambiente perfeito para a propagação rápida das doenças.
A Unicef estima que 640 mil crianças com menos de 5 anos estão em risco. A cólera é particularmente perigosa para as crianças, podendo ser fatal em poucas horas, se não for tratada. A falta de acesso a serviços de saúde essenciais, e a vacinas, agravam a situação. A Unicef tem feito apelos urgentes ao governo, e às partes em conflito, para que garantam um acesso “desimpedido, sustentado e seguro” aos locais afectados, pois esta é a única forma de levar ajuda (sobretudo vacinas e soros de reidratação oral), para tentar conter a propagação da doença e salvar vidas.
Ainda em África, a situação no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, é de extrema seriedade. Os ataques perpetrados por grupos extremistas islâmicos, jihadistas, têm causado uma enorme crise humanitária na região. A violência é brutal e indiscriminada, atingindo essencialmente cristãos, alvo de perseguições e de inúmeras decapitações. Sucedem-se os relatos de ataques a aldeias e igrejas, incendiadas. A violência não se restringe a uma única comunidade, mas a perseguição religiosa é o mais chocante. Os grupos armados questionam as vítimas sobre a sua religião, antes de as assassinarem.
A violência constante forçou centenas de milhares de pessoas a fugirem das suas casas, criando uma grande população de deslocados. Estas pessoas enfrentam escassez de alimentos, falta de acesso a cuidados de saúde e vivem em condições muito precárias. Tudo isto dificulta o acesso das agências humanitárias. A Igreja Católica, através da diocese de Pemba, tem sido fundamental na prestação de assistência, mas os desafios são enormes e a segurança é uma preocupação constante. A violência em Cabo Delgado começou há vários anos, mas a intensidade e brutalidade dos ataques têm vindo a aumentar. As forças de segurança moçambicanas, apoiadas por tropas de países vizinhos e da comunidade internacional, estão a tentar combater os grupos terroristas, com sucesso limitado.
Já na Europa, o grande destaque da semana é a implementação do “Espaço Europeu de Dados de Saúde” (EHDS). A ideia é criar um sistema que permita a partilha segura e eficiente de dados de saúde a nível europeu. O investimento em “digital health” na Europa tem aumentado, crescendo o financiamento a startups e empresas de diagnóstico médico, soluções de gestão e tecnologias de investigação. A transição para um sistema de saúde mais digital e interligado é um tema crucial na Europa, com o objetivo de tornar os cuidados de saúde mais eficientes, acessíveis e baseados em dados.
Em Portugal aplaudo a decisão do Estado de comparticipar os tratamentos termais. A Portaria, publicada na semana passada, estabelece as novas regras para a comparticipação de tratamentos termais pelo Estado, que entram em vigor a 1 de Outubro. As principais novidades são o aumento do valor da comparticipação máxima anual por utente, que será de 110 euros (um aumento de 15 euros em relação ao valor anterior). O Estado comparticipará 35% do valor total do tratamento. Para ter acesso a este benefício, os tratamentos devem ser prescritos por um médico do Serviço Nacional de Saúde (SNS), através de uma prescrição eletrónica. Cada tratamento comparticipado deve ter uma duração mínima de 12 dias e máxima de 21 dias. É comparticipado um tratamento por utente, em cada ano civil. A lista de patologias que podem beneficiar de tratamentos termais comparticipados abrange várias áreas: doenças reumáticas e músculo-esqueléticas; do aparelho respiratório; doenças de pele, como urticária, eczema, psoríase; doenças metabólico-endócrinas, como a hiperuricemia (gota), obesidade, diabetes; doenças do aparelho digestivo. As águas termais, com as suas propriedades únicas, podem ajudar a diminuir a dor, melhorar a mobilidade e até reduzir o consumo de medicamentos, em certas patologias. Este tipo de tratamento é especialmente procurado no Outono e Inverno, com o objetivo de reforçar as defesas do organismo para os meses mais frios.

A homenagem da semana: amamentação, Direito Parental Básico. RIP Dr Carlos Pavão.

Esta semana destaco a “Semana Mundial da Amamentação”, que decorreu de 1 a 7 de Agosto. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a UNICEF têm apelado aos governos e sistemas de saúde para que invistam no apoio à amamentação. A amamentação é crucial, pois actua como a “primeira vacina” de um bebé contra doenças, como diarreias e pneumonias. Recordo, da minha colaboração de muitos anos com o maior Hospital da Região, a enorme quantidade de agressões aos direitos parentais, nomeadamente na classe de enfermagem, perpetrados pelos “Conselheiros Acácios” com que nos vamos cruzando, na vida. Numa altura em que, sem grande necessidade, a ministra da Segurança Social abriu uma guerra – a propósito de um problema de pequena dimensão, sem se escudar devidamente em dados -, é tempo de recordar a importância deste acto fundamental, que constitui também um Direito parental básico. Se há abusos, que sejam demonstrados e criadas formas de os impedir, por exemplo atribuindo a todos os pais o direito a horário de amamentação até aos 3 anos da criança, sem necessidade de qualquer atestado médico, mas com critérios que levem a que a criança seja a beneficiária última da Norma.
À beira de entregar esta crónica, recebi, com profundo pesar, a notícia do falecimento do Dr. Carlos Pavão.
A sua partida deixa um vazio na comunidade médica, especialmente na pneumologia açoriana, onde o seu trabalho foi sinónimo de dedicação, rigor e inovação. Como profissional, o Dr. Carlos Pavão destacou-se pela sua incansável luta pela melhoria dos cuidados de saúde respiratória. Para além da sua carreira, a sua presença humana e a forma como se relacionava com os colegas faziam dele uma figura ímpar. A sua postura humilde perante os desafios mais complexos, fizeram dele um colega respeitado por muitos, nos quais me incluo. O seu legado perdurará na memória daqueles que tiveram o privilégio de o conhecer e trabalhar ao seu lado. À família e amigos, deixo as mais sinceras condolências. Que descanse em paz.

Mário Freitas*

  • Médico de Saúde Pública e de Medicina do Trabalho
Edit Template
Notícias Recentes
Em Julho…: Foram descarregados em lota 3 425,5 toneladas de pescado com um valor total de 9,7 milhões de euros, nos Açores
“Um mau acordo para empresas e cidadãos europeus” afirma André Franqueira Rodrigues
TAP anuncia 50% de desconto em segunda escala no país, Açores incluídos
Transinsular lança novo serviço e aumenta capacidade no transporte marítimo para os Açores
Câmara de Ponta Delgada reforça ATL e garante resposta a mais de 1300 crianças
Notícia Anterior
Proxima Notícia

Copyright 2023 Diário dos Açores