Há cada vez mais carros. Uma frase tantas vezes dita como ouvida. E é verdade. Ao longo das últimas duas décadas o parque automóvel tem crescido a uma velocidade muito considerável. Os números são esclarecedores: nos últimos dez anos, o parque automóvel dos Açores (incluindo os diferentes tipos de veículo, desde viaturas ligeiras a motociclos, etc) aumentou 43,4%, isto é, na última década entraram em circulação nas ilhas mais 57.533 veículos. Recuando duas décadas, existiam então menos 88.137 veículos.
Uma análise mais pormenorizada da situação é possível através do relatório “Parque automóvel seguro 2024”, da autoria da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundo de Pensões.
Aqui, por parque automóvel entenda-se todas as matrículas com seguro válido no dia 31 de Dezembro de 2024. Nas circunstâncias em que existe mais do que um registo da mesma matrícula, apenas é considerado aquele cuja data de reporte é a mais recente. Nestas contas não entram, portanto, as viaturas em circulação sem seguro válido e os veículos fora de circulação mas não abatidos oficialmente, bem como aqueles que, estando na Região, têm seguro com endereço fiscal no exterior, como será o caso de algumas empresas cuja sede não é nos Açores, nomeadamente algumas rent-a-car, entre outras.
Crescimento contínuo
e acelerado
Os números que a seguir se analisam são relativos ao ano de 2024, pelo que estão desactualizados. Mas sempre estariam, face ao presente fulgor do sector do comércio automóvel. Por exemplo, ao total de veículos em circulação nos Açores, podem, desde já somar-se os 2.720 vendidos no primeiro semestre deste ano…
Mas, de volta ao relatório acima referenciado. Em 2024, em Portugal, existiam 9.004.528 veículos, mais 3% que no ano anterior.
Nas nove ilhas da Região Autónoma dos Açores, podiam circular 189.796 viaturas (2,1% no parque nacional), mais 3,8% que em 2023. Na Madeira (e Porto Santo) estavam 198.794 automóveis ligeiros, motos e demais categorias (veículos agrícolas, ciclomotores, máquinas industriais, quadriciclos, pesados, triciclos e reboques), sendo certo que as categorias com mais expressão são as de veículos ligeiros e de motociclos.
Nos Açores, no ano de análise, existiam 158.010 ligeiros e 11.087 motociclos que, com as demais categorias, perfaziam, como já referido, um total de 189.796 viaturas. Em 2024, face a 2023, o parque automóvel cresceu 3,8% (mais 6.962 veículos). Nos últimos vinte anos, entre 2004 e 2024, entraram em circulação mais 88.137 viaturas, o que equivale a um crescimento de 86,6%.
Naturalmente, era na ilha de São Miguel que o parque automóvel tinha maior expressão numérica.
Os números por ilha
Em São Miguel, no final de 2024, estava habilitado a circular um total de 100.484 veículos, sendo destes 85.176 ligeiros e 4.448 motociclos. No concelho de Ponta Delgada estavam registados 49.046 viaturas ligeiras. Um ano antes eram 46.450, em 2014 eram 33.790 e há 20 anos atrás 26.723. Ou seja, ao longo das últimas duas décadas, Ponta Delgada acolheu mais 22.323 veículos ligeiros, isto é, mais 83,5%, próximo do dobro. Em 2024, estavam 3.370 motociclos em circulação. Uma década antes eram 1.743.
A Ribeira Grande, no ano passado, tinha, em todas as categorias, 19.801 veículos, o concelho da Lagoa 9.606, Vila Franca do Campo 6.499, a Povoação 3.702 e Nordeste 3.192.
Os números relativos a Santa Maria, necessariamente de menor dimensão, traduzem semelhante evolução que a verificada em todas as ilhas. Entre 2014 e 2024 o parque automóvel mariense cresceu 45,7%, passando de 3.465 para 5.049 veículos.
Ainda no âmbito das ilhas com menor população, na Graciosa o aumento em 10 anos foi de 45,8%. No ano passado existiam 3.705 viaturas, mais 1.165 que em 2014.
O parque automóvel da ilha das Flores, em 2024, compreendia um total de 2.928 veículos, sendo destes 2.320 ligeiros e 223 motociclos. A variação percentual do todo do parque automóvel da ilha, face a 2014, era de +41,4%. O concelho de Santa Cruz apresenta um dado único no panorama regional: há 20 anos atrás existam mais viaturas que as 1.337 registadas no final de 2024. Eram então 1.489. O “fenómeno” teve evidente expressão em 2014, quando o número de registos era somente de 996!
Em São Jorge, no pretérito ano, podiam circular dentro da lei 8.276 veículos. Um ano antes eram 8.051 e em 2014 6.033. O crescimento registado entre 2014 e 2024 foi de 33,4%, o mais baixo de entre as nove ilhas dos Açores.
Por fim, no que concerne às ilhas com menos população residente, atente-se à realidade do Corvo, um verdadeiro caso para estudo. Há 20 anos, a rede viária corvina servia 82 viaturas de todas as categorias. Sessenta eram ligeiras. Em 2014 o número havia subido para 108 (87 veículos ligeiros). Em 31 de Dezembro passado eram já 251 no total, incluindo 174 ligeiros e 35 motociclos. Um crescimento de 132,4% em dez anos!
Por comparação, na ilha do Pico, o aumento do parque automóvel foi bastante mais moderado. Entre 2014 e 2024 cresceu 38,7%, passado de 9.128 para 12.669 viaturas. Em relação a 2023, o aumento foi de 2,5% (mais 316 unidades). O concelho com mais registos era o da Madalena, com 5691 veículos.
Na Horta, ou o mesmo será dizer, na ilha do Faial, o parque automóvel comportava, em 2024, 13.144 viaturas de todas as categorias, mais 2.894 que um ano antes e mais 3.338 que em 2014, diferença que se traduz num aumento de 34% em dez anos.
Por fim, os números adstritos à ilha Terceira. Em 2004 nela circulavam 25.326 veículos, número que passou para 31.916 em 2014. No final de 2024, o parque automóvel terceirense englobava um total de 43.290 viaturas. Na última década, o crescimento foi de 35,6%. Entre 2023 e 2024, o diferencial foi de 2,69%. No ano passado estavam registados em Angra do Heroísmo 27.910 viaturas, dos quais 1597 motociclos e 23.185 veículos ligeiros. No concelho da Praia da Vitória, dos 15.380 registos, 12.951 eram de ligeiros e 775 respeitavam a motociclos
Um parque “envelhecido”
Uma das características do parque automóvel português, e com total correspondência nas ilhas, é a elevada idade média das viaturas.
Se é bem verdade que, dado o constante desenvolvimento tecnológico, os automóveis, motos e afins, asseguram, hoje, uma vida útil mais prolongada que no passado, como comprovam as garantias concedidas pelos fabricantes, a idade, a rodagem, o desgaste, bem como a desactualização das tecnologias, são evidências incontornáveis.
O parque automóvel dos Açores é, se não velho, pelo menos, “maduro”. Assim o comprovam as estatísticas. No final de 2024, 61,5% das viaturas aptas para circulação tinha uma idade superior a dez anos, valor que corresponde a 116.697 veículos. A média nacional ainda era mais elevada, chegando aos 63,6%. Voltando aos números dos Açores, com idade entre os cinco e os 10 anos existiam 42.304 viaturas (22,3% do total). Portanto, veículos que se possam considerar como novos eram em percentagem muito reduzida: 3,5% tinha menos de um ano (6.595 veículos); 3,4% tinha 1 ano (6.495) e 3,3% estava com dois anos (6.269). Os restantes 6,1% estavam na casa dos 3-4 anos.
Rui Leite Melo