O suicídio continua a ser uma das principais causas de morte evitável em todo o mundo e os Açores surgem de forma particularmente preocupante nas estatísticas nacionais. Dados recentes indicam que a Região Autónoma apresenta uma taxa de suicídio consistentemente superior à média portuguesa. Entre 2001 e 2021, a taxa rondou os 14,7 casos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional se fixava em 8,9. Na ilha de São Miguel, o valor foi ainda mais alarmante, com 16,4 casos por 100 mil pessoas.
A realidade açoriana distingue-se por um conjunto de fatores que tornam este fenómeno mais complexo. O isolamento geográfico, as dificuldades no acesso a cuidados de saúde especializados, a escassez de profissionais de saúde mental e o estigma persistente em torno da doença mental e do suicídio são obstáculos bem identificados. Em ilhas mais pequenas, onde os serviços são limitados e a proximidade social pode aumentar o receio de pedir ajuda, a vulnerabilidade é ainda maior.
Nos últimos anos, têm-se multiplicado os alertas dos profissionais de saúde. Há um registo crescente de suicídios em idades cada vez mais jovens, incluindo menores de 18 anos, o que exige respostas urgentes e adaptadas. Ao mesmo tempo, reconhece-se que a abordagem não pode ser apenas clínica, os fatores sociais, económicos e culturais desempenham um papel decisivo. O desemprego, a solidão, o estigma e as dificuldades financeiras somam-se às fragilidades individuais. Portanto, a prevenção tem de ser pensada do ponto de vista comunitário. Requer o envolvimento das comunidades escolares, das autarquias e instituições, criando redes comunitárias que identifiquem sinais de alarme e ofereçam apoio imediato. É preciso combater o estigma da doença mental e transmitir que procurar ajuda não é um sinal de fraqueza, é um ato de coragem e de responsabilidade.
Face a este cenário, a Assembleia Legislativa dos Açores aprovou recomendações para a criação de uma Estratégia Regional de Prevenção e Combate ao Suicídio. Entre as medidas defendidas estão o reforço de profissionais da psicologia e da psiquiatria no Serviço Regional de Saúde, a capacitação dos/das enfermeiros/as para a deteção precoce de sinais de risco e a necessidade de sistemas de monitorização contínua, capazes de avaliar e responder com mais eficácia.
Esta semana, dia 10, inaugurou-se a Linha Nacional de Prevenção do Suicídio – 1411, disponível gratuitamente todos os dias, 24 horas por dia, com profissionais formados e capacidade de articulação com o SNS e o SRS. Para finalizar, deixo um apelo, sejamos mais atentos, mais empáticos e mais próximos uns dos outros. Um gesto de escuta, uma palavra de cuidado ou um simples “como estás?” podem fazer a diferença.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Joana Amen*
- Psicóloga clínica e comunitária
CP Nº6708