O dilema suicida
A durabilidade de um órgão de comunicação social, para além dos graves condicionamentos financeiros atuais, reside na sua credibilidade. A exigência dos tempos assim o ordena. A despesa de cada folha escrita é tal, que começa a por em causa se é justificável a sua execução.
Tendo a escrita sido a primeira forma de comunicação humana fixa e estável, já os egípcios a praticavam em pedra e papiro, já lá vão cerca de 3,300 anos.
“… Os egípcios desenvolveram um sistema de escrita hieroglífica. Através de sinais, chamados hieróglifos, representavam ideias e conceitos. Os hieróglifos mais antigos eram sinais ideográficos. Cada sinal representava o objeto que ilustrava e tinha que ser lido no contexto em que era utilizado. Por exemplo, uma figura humana podia significar “homem” ou “poder”.”
A escrita cuneiforme foi o sistema sumério há cerca de 3600 anos. A escrita era, então, dominada por um grupo reduzido da população. Muito poucos sabiam da arte de escrever e por isso eram chamados de escribas.
Escrever – ou pintar caracteres – tornou-se a voz da liberdade para muitos que através do pensamento escrito, registavam a sua versão histórica de contextos, tempos, ideias, culturas, etc..
Na passagem dos tempos, as lideranças e os poderes foram reconhecendo a importância do registo histórico organizado através da escrita e rodearam-se de escribas. Depois descobriram a importância de ter a seu lado estes escribas, para manipular vontades e ideias.
Nos nossos dias, em Portugal existe a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
O simples facto de ser necessária uma entidade reguladora e fiscalizadora expõe a suprema importância dos registos escritos, televisivos e radiofónicos.
No desenvolvimento de conceitos como ética, deontologia e outros, as sensibilidades apuraram-se, em paralelo aos regimes democráticos, direitos humanos e individuais, o que obrigou os escribas a terem disciplina regimental – segundo o regime e cultura de cada povo – e estarem por essa forma controlados na sua forma de escrita. Muito embora o apelo à ‘liberdade de imprensa’ seja constante, está encoberto pelo manto da hipocrisia fundamental e necessária de, em nome da paz social, não se poder ser ‘completamente livre’ na escrita quotidiana em periódicos, revistas e muito menos na comunicação instantânea como sejam a televisão e rádio.
Nos tempos que correm, todos os cidadãos são escribas – ou pretendem sê-lo – numa constante invasão do direito individual pelas redes sociais. Este fenómeno leva à impotência dos órgãos e instituições fiscalizadoras, as quais demonstram não estarem à altura desta sociabilização da escrita em todo o mundo.
Ainda existem 760 milhões de analfabetos no mundo, segundo a UNESCO, sendo que por exigência religiosa, as mulheres sejam o maior número, por estarem impedidas ao ensino em muitos países. Uma discriminação religiosa, que não estando escrita em nenhum dos livros sagrados, passa pela maioria das religiões e sua interpretação maliciosa, facciosa e controladora.
A India, com a maior população do mundo (um bilião e quatrocentos cinquenta e um milhões 1,451 – censo de 2024) possui cerca de 300 milhões de analfabetos e ocupa o primeiro lugar. Em segundo surge a China com 55 milhões de analfabetos. Seguem-se o Paquistão com 49 milhões; Bangladesh 45 milhões; Nigéria 41 milhões; Etiópia 39 milhões; Egito 19 milhões; Brasil 19 milhões; Indonésia 18 milhões e República Democrática do Congo com 18 milhões. Estes são os primeiros dez. Portugal tem uma taxa de alfabetização de 96,78% em 2021, o que o coloca numa posição favorável no contexto mundial.
José Soares