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Cesto da Gávea – O aniversário agropecuário (II)

Continuando o tema iniciado há 15 dias, registamos o sucesso que teve a celebração dos 50 anos da AASM-Associação Agrícola de São Miguel e que contou com a presença de José Manuel Fernandes, Ministro da Agricultura de Portugal. Trata-se de um antigo deputado ao Parlamento Europeu, para o qual foi eleito em 2009 e reeleito em 2014 nas listas do PSD, cuja delegação liderou, integrada no grupo político do PPE. É um profundo conhecedor dos meandros da política europeia, pelo que a sua presença no cinquentenário da AASM não foi surpresa, porque para além de um currículo notável, o atual Ministro do setor foi considerado em 2020 pela Overwatch ( uma organização que mede o grau de influência dos eurodeputados) como sendo o deputado português mais influente. Uma boa surpresa foi a dimensão da celebração, que terá envolvido cerca de 3.000 pessoas para as bandas de Santana, nas instalações da Associação Agrícola, o que merece o aplauso geral. A intervenção do Presidente Jorge Rita veio relembrar alguns dossiês antigos (caso da BSE, a doença dita das vacas loucas, de que fui relator no Parlamento Europeu) e outros que continuam atuais, como o das quotas leiteiras ou o uso de fitofármacos na agricultura. Em ambos tive intervenção direta nos anos 90, no caso das quotas leiteiras porque discordei da liberalização aplicada aos Açores; se tivéssemos conseguido uma quota regional limitada às 450.000 toneladas, certamente os preços do leite ao produtor estariam mais protegidos, porque tal quota poderia ter recebido apoio específico da União Europeia. Mas naqueles anos 90 do século passado, o exemplo invocado era o da Irlanda – onde hoje, pelo menos 2empresas laboram anualmente 4 vezes o total da produção leiteira açoriana, que em 2024 somou609.000 toneladas (32/33% da produção nacional), de acordo com os dados do SREA-Serviço Regional de Estatística dos Açores. Por sua vez, a tonelagem de leite produzido nas ilhas açorianas é cerca de 9/10 vezes menor que a da Irlanda, pelo que se queremos competir com estes e outros concorrentes nos mercados, a palavra-chave está na qualidade, não na quantidade. Temos todas as condições para isso, a começar pela qualidade das pastagens, uma preocupação antiga que exige menos uso de químicos, seja nas adubações ou no controlo de pragas, tal como estudámos há mais de 40 anos na Universidade dos Açores e defendemos depois, nas Comissões de Agricultura e do Ambiente do Parlamento Europeu. O que afirmo está patente nalguns dos relatórios que elaborei e foram aprovados em plenário do PE, nomeadamente sobre o controlo biológico e integrado de pragas ou a colocação no mercado de produtos fitofarmacêuticos (relator de parecer), ambos em nome da Comissão de Agricultura, de que fui sempre membro titular. Mas passaram décadas e tudo mudou, dos mercados à produção e à distribuição.
Tanto assim é, que a própria Associação Agrícola e o presidente Jorge Rita, aceitaram uma proposta de desenvolvimento de uma PLP-plataforma logística de Produção, destinada a modernizar os modos de produção agropecuária, especialmente na sua relação com as cadeias de distribuição e os respetivos mercados. O projeto, elaborado pela Creative Solutions, uma empresa do grupo açoriano Tetrapi, tinha e tem em conta vertentes do negócio agrícola geralmente negligenciadas, como sejam permitir um planeamento e desenvolvimento adequados, utilizando novas tecnologias de interligação entre os vários setores e agentes intervenientes, quer no espaço de ação virtual, quer no real, favorecendo uma inserção eficaz nos mercados. Com o aumento das capacidades tecnológicas, aumenta a necessidade de modernização das pessoas e dos processos, obrigando a um planeamento com bases estatísticas que permitam a modulação da produção face ao consumo, o que é possível através de plataformas logísticas como as apresentadas pela Creative Solutions. Em março de 2021, eu próprio escrevi o preâmbulo para o draft da PLP; em abril seguinte, participei numa reunião com Jorge Rita e o Conselho de Administração da AASM, onde estiveram presentes João Câmara (Tetrapi/Creative Solutions), Milton Moura e Paulo Menezes. Nessa reunião, recordo ter sido salientada a posição da então Ministra Ana Abrunhosa, que referiu a PLP como exemplo a seguir a nível nacional.Em2021, prosseguiramos trabalhos e reuniões preparatórias da PLP, em consórcio com a AASM, culminando em fevereiro de 2022 numa reunião com o Presidente do Governo Regional, que recebeu Jorge Rita e João Câmara no Palácio de Santana. Pelo longo caminho destes últimos 4 anos, ficou muito trabalho de muita gente dedicada ao setor agrícola açoriano, especialmente daqueles que deram corpo à PLP e continuam a considerá-la um instrumento modernizador da nossa agricultura, entre os quais também me incluo. De facto, quando vemos que dos objetivos da plataforma logística consta o aconselhamento e recomendação da cultura a produzir, com base na sua localização na época e no terreno, nas caraterísticas dos solos e nos indicadores de oferta e procura, podemos aferir como será melhorado o retorno económico. Veremos se os responsáveis sabem agarrar a oportunidade.

Vasco Garcia

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