O Portugal de agora tem um Presidente da República débil que acompanha primeiro que tudo o resto, se não mesmo se dissolve nelas para sustentar a sua populista imagem, as perceções de uns e as pressões externas de outros (i.é, a “maria vai com as outras”), em lugar de ter fundamentalmente em conta a independência nacional a que se encontra constitucionalmente vinculado e a verticalidade de comportamento perante a realidade objetiva e concreta, que a maior parte das vezes conhece bem, mas que, em demasiados casos também, muito se esforça por omitir, desconhecer ou deturpar.
Contrastando infelizmente com as posições do nosso vizinho continental, a Espanha, um caso exemplar que retrata bem este comportamento ziguezagueante e indigno das obrigações constitucionais do atual PR, em benefício das perceções subjetivas e da sua submissão às pressões externas, é o caso da Palestina, a maior tragédia humanitária, deliberadamente executada a frio por outro humanos, que decorre desde meados do século passado e que continua a decorrer, assumindo neste momento uma expressão perfeitamente monstruosa e comprometedora de toda a humanidade.
Como muitos se recordarão, em outubro de 2023 num bazar diplomático qualquer, o sr. Presidente da República virou-se para o sr. Embaixador da Palestina, que se queixava da violência assassina de Israel sobre milhares de palestinianos inocentes, ripostando friamente que “os palestinianos é que começaram a guerra desta vez…” Em junho deste ano, na Feira do Livro em Lisboa, agarrou-se ao pescoço de uma ativista pró-palestiniana que exibia um cartaz a denunciar o genocídio em Gaza, para obrigá-la a ouvir a sua contestação. Mas esta semana, junto com os ventos, o seu discurso mudou de sentido e, perante a Assembleia Geral da ONU, afirmou com aparente convicção que: “O reconhecimento do Estado da Palestina é o reconhecimento da própria Paz, agora, hoje.” E que: “Amanhã teria sido tarde demais…”
Portugal virado para dentro não vai entretanto muito melhor, sendo que, com os votos dos pobres, os cuidadores dos ricos estão de traseiro cada vez mais solidamente assente nos poderes do Estado e das suas instituições, tendo levado o próprio Tribunal Constitucional a perdoar de forma definitiva multas multimilionárias de 225 milhões de euros, aplicáveis pelo crime de cartelização, a 11 bancos que operam em território português, os mesmos que, enquanto criminosamente “cartelizavam” entre 2023 e 2024, sacavam para si lucros líquidos de mais de dez mil milhões de euros.
No outro lado do país a única melhora(?) dos rendimentos com que as direitas governantes, apoiadas pelo IL e pelo Chega, compensavam os portugueses pelas perdas quotidianamente sofridas em todas as frentes (salários, habitação, energia, saúde, segurança social, transportes, ambiente e qualidade de vida) foi uma descida ocasional no IRS, um imposto que os mais pobres, devido ao seu já baixo rendimento, nem sequer tinham de pagar, restando aos outros que o pagam, tê-lo visto descer apenas num mês por ano e ainda por cima… resgatado no ano seguinte!
Mas, achando ainda não o suficiente e, em paralelo com um retrógrado e anti trabalhadores conjunto de propostas de revisão das leis do trabalho, propõem-se baixar novamente e de forma progressiva o IRC em benefício principal das grandes e muito grandes empresas, surripiando ao investimento público 4 000 milhões de euros só em 2028 e 2029 e, já agora que é tempo de regabofe, avançando a proposta do fim da derrama estadual para as 3 000 empresas do país com mais de 1,5 milhões de lucro por ano (muitas delas financiadoras do Chega, do IL e também do PSD e do PS), acrescentando assim, para ainda maior prejuízo do investimento público, mais cerca de 1 000 milhões de euros só num ano…
Mário Abrantes