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Investigadores defendem monitorização e medidas de gestão para proteger garoupas após surto viral

Um estudo científico publicado este mês descreve o primeiro surto de necrose nervosa viral (VNN) em garoupas-verdadeiras (Epinephelus marginatus) selvagens no Atlântico Norte, com registos de mortalidade em sete ilhas dos Açores entre agosto de 2024 e janeiro de 2025.
A investigação confirma ainda, pela primeira vez, a presença do vírus na garoupa-ilha (Mycteroperca fusca), espécie endémica da Macaronésia.
De acordo com o trabalho liderado por investigadores do Instituto de Ciências do Mar – Okeanos (Universidade dos Açores) e do Istituto Zooprofilattico Sperimentale delle Venezie, laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), foram documentados 162 peixes (161 garoupas-verdadeiras e 1 garoupa-ilha) com sinais de doença ou já mortos.
Cerca de 65% dos casos ocorreram no grupo central (sobretudo Faial e Graciosa) e 35% no grupo ocidental (Flores e Corvo). Houve ainda referência a um caso em São Miguel, mas sem provas fotográficas ou amostras biológicas para confirmação.

Adultos grandes
entre os mais atingidos

Os investigadores sublinham que a maioria dos exemplares doentes eram adultos de grande porte, um padrão que agrava o risco para a sustentabilidade do stock: dos 69 indivíduos medidos, o comprimento médio foi de 74,1 centímetros (desvio-padrão de 20,3), com valores entre 20 e 110 centímetros, e aproximadamente 80% ultrapassavam o tamanho de maturidade sexual (L50) estimado em 57,1 centímetros.
Em campo, foram observados sinais típicos de VNN, como comportamento errático, natação em círculos, perda de equilíbrio, letargia, além de exoftalmia e opacidade ocular. Em necropsias a 40 carcaças, registaram-se frequentemente hiperinsuflação da bexiga natatória e ausência de alimento no trato digestivo.

Laboratório confirma vírus
e aponta “introdução recente”

As análises laboratoriais (incluindo reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa em tempo real) confirmaram o vírus da necrose nervosa (NNV) como causa principal da mortalidade. Todos os 24 espécimes testados (23 garoupas-verdadeiras e 1 garoupa-ilha) deram positivo por diferentes métodos laboratoriais, e o vírus foi identificado como do genótipo RGNNV.
A equipa destaca ainda a elevada homogeneidade genética das sequências virais (similaridades superiores a 99%), sugerindo uma única e recente introdução do agente patogénico no arquipélago, em vez de uma circulação antiga e endémica.

Calor excecional no mar
pode ter “desbloqueado” a doença

O surto coincidiu com uma onda de calor marinha particularmente intensa em 2024, quando a temperatura da superfície do mar nos Açores atingiu valores históricos. O estudo refere um máximo diário de 27,3 °C em agosto de 2024 e anomalias positivas que chegaram a +2,7 °C face às médias climatológicas.
Com base em séries de boias e sensores costeiros, os autores indicam que 2024 registou cinco ondas de calor marinhas, duas com duração superior a 100 dias. A mais intensa decorreu entre 12 de agosto e 20 de outubro (131 dias), e nas Flores foi registado um evento classificado como “extremo”.
O aquecimento não se limitou à superfície: houve registos relevantes também a 25 metros de profundidade, aumentando a exposição de espécies demersais como as garoupas.

Hipóteses para a origem:
tráfego marítimo e água de lastro

Apesar de os mecanismos de entrada do vírus permanecerem “incertos”, o artigo considera plausível uma introdução por via humana, destacando a água de lastro como vetor global de transporte de organismos e patogénios. O arquipélago, pela sua posição em rotas transatlânticas, tem registado intensificação de tráfego de navios, o que poderá aumentar o risco de introduções.

Alerta para gestão
e conservação

A garoupa-verdadeira é descrita como espécie “icónica” e classificada como Vulnerável à escala global e em perigo na europa pela lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Perante a mortalidade de adultos reprodutores, os autores defendem monitorização coordenada, sistemas de deteção precoce e medidas adaptativas, incluindo encerramentos temporários da pesca e a criação de refúgios climáticos em áreas marinhas protegidas para reduzir impactos e prevenir nova disseminação.

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