Este é um tempo bonito de esperança e de renovação.
O mês de Maio é o mês do Espírito Santo e das aparições de Fatima, mas é também o mês das rosas e das temperaturas amenas que nos ajudam a esquecer as invernias que nos visitaram muitas vezes nos últimos meses.
No Pico, para além de todas as efemérides da época, temos o Fringe.
O Fringe é o maior festival de artes e letras dos Açores porque acontece em todas as ilhas e tem como diretor artístico um homem que faz a diferença por onde passa.
Terry Costa é o organizador e responsável por dezenas de eventos que preenchem um espaço artístico e cultural muito difícil de comparar com outros, uma vez que mantém todo o ano alguma atividade sem escolher a ilha ou os destinatários. Todos são bem vindos ao Fringe.
Pedras Negras é o encontro anual de escritores que reuniu, mais uma vez este ano, um leque interessantíssimo de escritores e outros artistas. A cabeça de cartaz foi Valter Hugo Mãe, um escritor incrível que se despiu de fantasias e se sentou conosco á mesma mesa de forma despretensiosa e assim nos falou de si, da sua obra, da sua vida, da sua relação com os livros e a escrita.
Homenageado no primeiro dia, o professor Eduíno de Jesus, um jovem com mais de noventa anos que todos quisemos abraçar. Que alegria ter na nossa companhia um poeta da sua envergadura!
O Pico recebeu e acolheu o Fringe de forma entusiástica. Alguns dos mais antigos lembram o tempo em que éramos poucos e olhados com alguma desconfiança. Que honra fazer parte dos pioneiros e ter a certeza de que valeu a pena acreditar.
Na Mirateca Artes, galeria Costa continua a sentir-se a magia da arte e a perseverança do Terry. Sentados no chão, ouvimos a Diana Zymbron falar de mulheres. Sem medo e sem complexos de culpa. Rodeada de mulheres livres e felizes. Que bom!
No auditório exterior vimos os jogos dos pintores a pintar em direto enquanto liamos poesía. Os nossos amigos Martim Cymbron, Raquel Alvernaz, Peter Adriens e Daniel Soares deixaram na tela memórias poéticas em forma de arte.
A Maria João Albuquerque dançou, encheu o palco para a evocação ao grande Dias de Melo
A feira das artes da ilha esteve patente no auditório com trabalhos lindos dos artistas locais.
O Vítor Teves criou um momento de provocação poética extremamente forte. Grata pela tua ousadia.
Henrique Levy apresentou -nos uma nova editora de poesia nos Açores.
De Lisboa veio a Marta que nos explicou o que é um agente literário e nos falou da sua já vasta experiência com autores diversos.
Do jornal de notícias, a Maria João. Atenta, experiente e encantada colocará o pico nas bocas do mundo quando começar a escrever sobre este evento.
Pedro Paulo Câmara voltou com a sua Violante de Cisneiros. Poeta de excelência está hoje a trilhar outros caminhos na investigação literária. Ainda assim, nalguns momentos, surgiram poemas na voz deste excepcional escritor.
Cães do Mar é nome de grupo de teatro da terceira. O Ricardo Ávila o Hélder Xavier e o João Félix presentearam-nos com a Balada de Portuguese Joe com direção artística de Ana Brum, texto de Peter Cann, música de João Félix e desenho de Silvia Fagundes.
Sara Lisanti apresentou Muta-Morfosi, uma performance silenciosa, nua e crua que analisa a metamorfose de um indivíduo, encerrado num santuário do próprio sofrimento, narrada através do processo de mudança de um réptil. Um momento difícil de definir mas muito intenso a nível do sentir .
“Teatro não é literatura”, situação, comédia e conflito foi o mote para um workshop prático para explorar técnicas de criação de personagens e diálogos em palco. Dirigido por Peter Cann, dramaturgo inglês com extensão biografia, o desafio colocado á nossa imaginação foi claramente hilariante.
A Mirateca Artes Galeria Costa é o lugar onde repousamos e integramos os nossos eventos.
Ao final do dia, o Cella Bar recebeu -nos para o último momento. Malvina Sousa, Pedro Almeida Maia, Sandra Fernandes e outros, apresentaram a sua obra ou, como Maria João Ruivo, disseram de sua justiça agradecendo e manifestando apreço por todo o evento.
Terry Costa faz o Fringe com base no que de melhor se faz na Europa e no mundo. Não se fica pela ilha á espera de inspiração. Corre o mundo e deixa-me levar por tudo o que vê fazer em destinos de referência sem perder a humildade, a simpatia e o infinito amor pelo Pico, pelas artes e pela cultura.
Os Açores precisam aderir a este tipo de eventos. Sem estarmos amarrados a nada. Sem complexos de superioridade, sem a filosofia de solidão que parece estar nalguns gabinetes de decisão. Há necessidade urgente de convidar os nossos políticos a sentarem -se em roda no chão, com todos, a fazer um urgente brain storming acerca do que nos falta para sermos uma região de referência na cultura e nas artes.
O Fringe não foi um fim de semana apenas. Como nas sábias palavras de Ary dos Santos….
foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Para o ano há mais!
Gabriela Silva