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Prevenir, prevenir, prevenir

“Apesar da memória viva da COVID-19 (e dos seus mais de 13 milhões de mortes), a maioria dos países não está preparada para uma nova pandemia. Esta é a realidade cruel, em jeito de conclusão, dizem os autores deste artigo.”

Os dados para análise da semana: preparar o pior…

Esta semana alguém publicou uma lista completa das directrizes do CDC para se EVITAR uma próxima pandemia: uma tabela em branco.
Quando a pandemia COVID19 ainda está viva, um pouco por todo o mundo ocidental o facilitismo, face ao “inevitável Futuro”, instala-se. “Preparar o pior, esperar o melhor”. Regra básica da prevenção, mais uma vez esquecida.

A Ciência da semana: “FALHAS INTERNACIONAIS E VERDADES DESCONFORTÁVEIS, sobre o H5N1”

Este artigo, publicado no “The Lancet” desta semana, é o que vos trago hoje, para análise.
Se se perguntar a alguém de Saúde Pública se nos devemos preocupar com a gripe H5N1, essa pessoa dirá que, de facto, “sim, devemos preocupar-nos”. Há muito que uma pandemia de Gripe está no topo da lista de ameaças globais à Saúde, e a “gripe das aves” representa uma preocupação particularmente séria.
O H5N1 infectou mais de 800 pessoas desde que foi identificado (em 1996), com uma taxa de mortalidade superior a 50%. Desde 2020 tornou-se endémico nas populações de aves, desencadeando uma pandemia animal sem precedentes, afectando ainda (pelo menos) 26 espécies de mamíferos.
No entanto, embora os acontecimentos dos últimos 3 meses nos EUA possam (ou, esperamos, que não possam…) assinalar o início de uma pandemia global, no mínimo são uma lembrança (premente e indesejável) dos caprichos de uma gripe zoonótica, e da nossa contínua complacência colectiva perante tal.
Um surto sem precedentes de “Gripe das aves”/A (H5N1), altamente patogénica (a primeira infecção documentada em vacas leiteiras) foi relatado em 25 de Março de 2024, no Texas, no Kansas e no Novo México, aumentando o potencial de transmissão a pessoas.
Até agora, estão confirmados 3 casos humanos nos EUA, todos trabalhadores agrícolas, sendo que a terceira pessoa apresenta sintomas respiratórios.
Apesar dos apelos a uma maior vigilância, a resposta dos EUA tem sido lenta, e muitos outros casos passaram (provavelmente) despercebidos.
Tem havido resistência por parte da indústria pecuária americana, à volta dos testes e da prevenção, motivada pela falta de sensibilização (ou compreensão) sobre a mudança de práticas, e pelo medo de restrições comerciais, e perda de produtos. O “Departamento de Agricultura dos Estados Unidos” (USDA) e o “Centro de Controle e Prevenção de Doenças” (CDC) dos Estados Unidos estão a incentivar os produtores de laticínios a fornecer equipamentos de proteção individual e a oferecer serviços de lavandaria aos seus funcionários, mas o USDA foi acusado de ser lento a partilhar dados cruciais sobre a sequência do vírus, complicando o nosso conhecimento acerca do surto.
No Canadá, foram implementados sistemas de alerta precoce para detectar o H5N1 no leite.
O Reino Unido afirma que intensificou a sua resposta ao surto dos EUA mas, de acordo com um relatório do mês passado, ainda não está a testar as vacas, para detectar o vírus.
São necessárias medidas urgentes para conter este surto, incluindo:
melhores testes, vigilância e notificação de animais e produtos alimentares infectados;
vacinação das populações animais;
troca transparente de informação;
desenvolvimento e armazenamento de vacinas humanas;
e, promoção de medidas de protecção nos trabalhadores agrícolas.
Todos os países devem desenvolver a capacidade de testar, detectar e notificar infecções, casos e mortes acima dos níveis esperados, e partilhar esta informação. Os países que necessitam de assistência externa para reforçar a sua capacidade têm de ser apoiados.
Apesar da memória viva da COVID-19 (e dos seus mais de 13 milhões de mortes), a maioria dos países não está preparada para uma nova pandemia. Esta é a realidade cruel, em jeito de conclusão, dizem os autores deste artigo.

A Homenagem da semana: esperar (e desejar) o melhor

Estima-se que entre 15 a 20% de todos os cancros, em todo o mundo, tenham origem em agentes infecciosos, como o HPV, o Epstein-Barr ou os vírus da hepatite. Vários estudos têm investigado uma possível ligação entre o SARS-CoV-2 e o cancro, desde uma relação entre o aumento de cancros em fase avançada e a interrupção na prestação de cuidados médicos, até à possível activação de células cancerígenas latentes, pelo vírus. Num estudo no “The Lancet Oncology” (https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lanonc/PIIS1470-2045(23)00293-0.pdf), foi analisado um registo nacional de cancro dos Estados Unidos, e identificado um aumento significativo nos diagnósticos de cancro em estadio avançado, desde o final de 2020; a causa seria a interrupção na prestação dos cuidados de saúde, causada pela pandemia COVID-19, que levou a atrasos no diagnóstico e tratamento do cancro. O estudo sugere ainda que o SARS-CoV-2 pode desempenhar um papel na aceleração da progressão da doença, em alguns casos. Por outro lado, num artigo no “American Journal of Surgery” (https://www.americanjournalofsurgery.com/article/S0002-9610(23)00496-8/abstract), frisa-se o papel do atraso significativo nos diagnósticos e tratamentos cirúrgicos (resultado da pandemia de COVID-19), na gestão de cancros em estadios avançados. Um outro artigo, na “Breast Cancer Research” (https://breast-cancer-research.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13058-020-01360-0), avaliou a possibilidade de o SARS-CoV-2 poder activar células adormecidas do cancro da mama, contribuindo para a sua reactivação e progressão metastática. Por fim, um artigo (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10202899/?s=09#) avaliou os mecanismos potenciais pelos quais o SARS-CoV-2 poderia agravar vários tipos de cancro (como o cancro do pulmão, colorretal, pancreático e oral), colocando a hipótese de que o vírus pode alterar a capacidade do organismo em “destruir” tumores, e causar inflamação sistémica, que facilitaria a progressão da doença.
Numa altura em que o negacionismo se tornou num paladino anti-vacinas, estas investigações são fundamentais para se perceber a realidade deste mundo pós-COVID-19. E destruir boatos perigosos, repetidos insistentemente por gente incauta.

Mário Freitas*

*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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