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A Ironia da Avaliação: Entre Números e Educação

Avaliação de alunos, quem nunca ouviu falar? É a atividade predileta de qualquer docente, o ex-libris da profissão. Mas, falemos agora da verdadeira avaliação pedagógica, esta utopia que poucos compreendem e menos ainda sabem praticar. No papel, há leis e princípios que louvam a avaliação formativa em detrimento da sumativa. Ah, que belo sonho seria, se as pautas não se resumissem a números, médias e percentagens que ditam o destino de cada aluno, como se fossem peças numa linha de montagem.
As provas finais e os exames nacionais são o grande espetáculo da aritmética educacional. Soma daqui, subtrai dali, e temos o nosso veredito: aprovado ou retido. É a ironia no seu melhor, um espetáculo que define a transição de ciclo ou a entrada na universidade. No entanto, numa era que tanto apregoa a inclusão, há um longo caminho a percorrer. Falta a apropriação de conceitos e princípios por parte daqueles que estão no terreno, falta transformar aavaliação num instrumento pedagógico e não num mero julgamento.
Os critérios definidos pelos departamentos refletem a ineficácia de um sistema supostamente igualitário. A formação insuficiente dos professores resulta num cenário que se assemelha a um naufrágio, onde o comandante está perdido e os marinheiros sem audácia para enfrentar a viagem. Avaliar é analisar e interpretar a informação do processo educativo, acompanhar o percurso e a evolução dos alunos. Avaliar não é comparar alunos como se fossem mercadorias. “Este teve 5, então aquela aluna terá de ter 4.” Que lógica é essa?
É imprescindível avaliar com os alunos, envolvê-los, compreender o que planear, como planear, que aspetos priorizar, como diferenciar, que métodos utilizar para atender aos vários estilos de aprendizagem. Numa turma, onde cada aluno é único, como transmitir conhecimentos eliminando as barreiras possíveis? Defrontamo-nos com uma avaliação de poder que pouco traduz uma relação de apoio e aprendizagem.
A verdadeira avaliação pedagógica visa apoiar os alunos, acontece durante o ensino, permitindo ao professor ajustar o processo de aprendizagem, desenvolvendo-se em contexto de sala de aula e apoiando o processo de autorregulação dos alunos. No entanto, deparamo-nos com docentes subqualificados, currículos desatualizados nas universidades, e um sistema que não provê recursos humanos adequados às necessidades dos alunos. Como se tudo se resolvesse com as tão carismáticas medidas universais, ignorando por decreto as necessidades educativas especiais, como se estas não existissem.
Necessitamos de recursos especializados, bem formados e devidamente preparados para responder a esta realidade. Não necessitamos de um sistema que se acobarda e não toma medidas drásticas, nem de um sistema de supervisão conivente com este status quo. Precisamos de indivíduos sérios, justos, de caráter, que reconheçam as vulnerabilidades e encontrem soluções, apoiando alunos, professores e famílias.
A avaliação pedagógica deve ser o farol que orienta a educação, não uma simples ferramenta de controle. Chegou a hora de transformar a ironia numa realidade, onde a avaliação seja um verdadeiro suporte ao processo educativo e não uma sentença fria e desumana. A avaliação pedagógica, na verdade, deveria ser uma bússola educativa, não uma guilhotina académica. Peço desculpa pela franqueza e transparência, mas a crítica precisa ser dirigida aos nossos governantes, para que abandonem os seus pedestais e deem voz a este assunto.

Rita Simas Bonança *

  • Doutorada em Educação, Universidade Iberoamericana
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