Edit Template

Ingratidão para com os heróis da pandemia e outras injustiças

A Covid 19 parece estar de regresso à ilha de São Miguel. Há doentes, alguns internados e em estado que inspira cuidados, segundo notícias divulgadas. Há natural preocupação, mas as autoridades de Saúde estão a tentar evitar alarmismos, que seriam muito prejudiciais, nomeadamente, para o turismo.
É oportuno lembrar que os grandes heróis da pandemia da Covid 19 nesta terra foram depois esquecidos. Uma vergonha! Refiro-me a médicos, enfermeiros e a outros profissionais de Saúde do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, que trabalharam arduamente e que salvaram muitas vidas com a sua dedicação, a sua competência e a sua solidariedade. Refiro-me, do mesmo modo e com igual justiça, aos especialistas e outros técnicos do Laboratório de Genética e Patologia Molecular, que funciona no HDES e que realizou milhares de testes à Covid 19. Também nesta unidade laboratorial deram tudo por tudo, ultrapassando o limite das suas forças, tantas foram as exigências, garantindo que os testes fossem realizados com rigor científico e em tempo útil.
Todos esses heróis serviram muito na tremenda hora de aflição, mas passada a pandemia, sensivelmente entre 2020 e 2022, foram esquecidos. Mereciam um reconhecimento público e uma homenagem por tão relevante trabalho prestado, mas dos poderes públicos não veio nada. Uma tristeza! Compreendo que seria impossível atribuir uma condecoração a todos individualmente, como muito mereciam, mas houve heróis que se destacaram mais e, portanto, eram representativos de todo um trabalho coletivo, mas nem desses se lembraram.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada ainda recentemente atribuiu distinções a uma série de personalidades de vários sectores. Mas para os heróis da pandemia não sobrou nada. A Assembleia Legislativa Regional também não há muito tempo distribuiu insígnias a várias personalidades, mas mais uma vez os heróis da pandemia foram ignorados, neste caso de todo o arquipélago. Nas duas situações houve condecorações mais justas do que outras…
Agora que a Covid 19 ameaça regressar com alguma força é que se vão lembrar dos heróis da Saúde, que muito fizeram e muito deram pelo bem comum. É sempre assim, infelizmente. A ingratidão é um mal terrível, muito pior ainda quando da responsabilidade dos poderes públicos. Os heróis da pandemia de modo algum deviam ter sido esquecidos. Foi uma falha imperdoável!
A terra açoriana tem que aprender a destacar mais e melhor os bons exemplos, aqueles que tudo fazem pelo bem da sociedade, quantas vezes no silêncio e no anonimato. As condecorações não devem distinguir apenas os “finos”, passe a expressão. Nós precisamos todos uns dos outros, desde o cientista até ao camponês. Nunca há uma condecoração para premiar o esforço, a honestidade e o trabalho de uma funcionária de um lar, de um trabalhador agrícola, de um pescador, de um pedreiro, de um padeiro e de um condutor de autocarros, entre outros, obviamente. Eu também gostaria que a Câmara Municipal de Ponta Delgada tivesse distinguido pelo menos um dos comerciantes do Mercado da Graça, em representação de todos, pela sua capacidade de trabalho e de resistência, face ao que têm sofrido de contratempos e prejuízos com aquele espaço encerrado para obras. Ninguém se lembrou disso. É pena!
Ainda recentemente houve um grande incêndio no HDES. Surgiram muitos aplausos aos corajosos bombeiros, mas dentro de algum tempo já poucos se lembrarão do seu esforço e da sua determinação contra as violentas chamas. De resto, os bombeiros de há muito que carecem não de esmolas, como muitas vezes tem acontecido, mas de justa compensação financeira, assim como de mais e melhores meios operacionais. É assustador e revoltante ver com alguma frequência na comunicação social bombeiros de todo o país a queixarem-se de falta de condições para o exercício do socorro. No caso dos bombeiros dos Açores, será que daqueles muitos milhões de euros que são com alguma frequência atribuídos à lavoura não podem ser “desviados” uns poucos milhões para as corporações? Espero que todos os que se dedicam à actividade pecuária, igualmente com muito esforço e muito trabalho, não fiquem aborrecidos com a questão, mas eles também precisam dos bombeiros. Eu diria, a propósito, que talvez seja necessário existir maior solidariedade entre os diversos sectores da sociedade açoriana, porque também aqui, repito, todos precisam uns dos outros.
Os bombeiros em geral, voluntários e profissionais, também têm sido vítimas de muita ingratidão. Lamentavelmente! Há uns tempos ouvi um antigo bombeiro voluntário dizer o seguinte: “Estive no combate aos fogos de 2017 em Pedrógão Grande. Por pouco não morri. Recebi uma compensação financeira miserável. Depois de quase 30 anos como bombeiro voluntário, desisti dessa missão. Os políticos, que recebem bons ordenados e chorudas reformas, que vão apagar os fogos. Já ajudei a apagar muitos, não vou apagar mais”. Isto é deveras emocionante! É mesmo! Oxalá um dia não ouçamos um depoimento semelhante de algum bombeiro que esteve a combater as chamas no HDES…

Tomás Quental Mota Vieira

Edit Template
Notícias Recentes
Jeremias Tavares cria peças de vidro através da técnica “Fusing - ”Os presépios e a bijuteria são os artigos mais procurados nesta época natalícia
Presépio com 300 bonecos de panos do Pico da Pedra é tradição com meia centena de anos
Francisco César apela a um Natal de empatia e união para enfrentar os desafios nos Açores
Neto de açorianos invade tops canadianos com versão de Silent Night
Bispo dirige mensagem de Natal a partir do Estabelecimento Prisional de Angra - “Humanizar todos os ambientes, servir toda e qualquer vida” para além “de cada erro ou fracasso”
Notícia Anterior
Proxima Notícia

Copyright 2023 Diário dos Açores