Só na América (Great Again?), é possível que um puto de 20 anos consiga deitar mão a um rifle sofisticado para disparar a grandes distâncias, comprar munições e quase matar um ex-presidente e candidato a nova presidência.
Donald Trump quase caiu, vítima do seu próprio veneno: atingido num país em que é possível comprar armas e munições como quem compra gamas numa tabacaria. Princípio que ele defende com unhas e dentes e que possibilitou, com toda a facilidade, este ataque e tantos outros massacres, perpetrados por adolescentes, que têm acontecido nesta América de grandes contrastes.
Uma América que tem, lado a lado, uma elite científica, artística e intelectual de grande pujança e uma vaga de fanáticos, incultos e violentos. Não me admiraria nada se os duelos de revolver voltassem às ruas desse país, tão amado e tão odiado.
Um país em que dois idosos (78 e 81 anos) se enfrentam para a conquista da posição política mais importante de uma grande nação que nos habituamos a ver com como o farol do mundo democrático. Um cargo que exige um conjunto de competências alargadas e uma robustez física excepcional.
Não deixando de ter piada os ataques e o gozo que Trump faz dos putativos défices cognitivos de Biden. Faz lembrar que bem fala o roto do mal remendado. Numa total de respeito que põe de rastos a credibilidade da democracia americana, perante um mundo atónito.
Seria de esperar que que os americanos não estivessem perante uma escolha a que que, gritantemente, falta uma lufada de ar fresco que permitisse ambicionar uma viragem na política nos Estados Unidos, quer no plano interno quer no externo.
Chega a ser patético que o grande tema da campanha se tenha tornado nas vantagens eleitorais que Trump possa vir a ter em virtude de uma tentativa de assassinato, procurando elevar o candidato republicano a um patamar de herói.
O MAGA (make America Great again), o grande lema da campanha de Donald Trump tornou-se numa verdadeira religião, num dogma que não é questionado por milhões de cidadãos americanos. Um culto agora fortalecido pelas imagens de sangue na cara do candidato e por um punho no ar.
Não pondo em causa a rejeição de tal intolerável violência, não é possível dissociá-la do ataque ao Capitólio e às tentativas de assassinato do então vice-presidente americano que revelaram, de formas claríssima, o que faz correr o “guru” Donald Trump e o partido republicano que se tornou nesse verdadeiro movimento de culto.
Tudo o que a América e próprio mundo ocidental não precisavam. O debate sereno e elevado deu lugar a uma verdadeira novela mexicana com o lado democrata fragilizado e com grandes dificuldades para encontrar o antídoto para tal onda de violência, obscurantismo e intransigência.
O prognostico para o futuro do antigo farol da liberdade é deveras preocupante. Apenas um “milagre” poderá reverter tudo isto.
Oxalá que não impluda!
António Simas Santos