A Ryanair enviou ao Governo de Luís Montenegro um plano “ambicioso” de expansão para Portugal que prevê a duplicação do número de rotas e do tráfego de passageiros até 2030, que envolve a instalação em aeroportos nacionais de novos aviões — num investimento de 1,6 mil milhões de dólares —, além da reabertura da base de Ponta Delgada e o reforço dos voos ponta a ponta para os aeroportos regionais de Açores e Madeira, bem como a redução da sazonalidade.
No entanto, os responsáveis da companhia querem a resolução de alguns problemas, como a baixa de taxas impostas pela ANA e mais slots.
Os gestores da companhia dizem que a rival Easyjet, que ganhou o concurso para os 18 slots que a TAP teve de ceder, não estão a usar toda essa capacidade no período do inverno.
E justificam uma estagnação do tráfego em Portugal com essa situação, mas também apontando o dedo a um aumento nas taxas cobradas pela ANA às companhias e que em 2024 variaram entre os 17% em Lisboa e os 6% em Faro.
“A decisão monopolista da ANA de aumentar as taxas aeroportuárias em até 17% a partir de janeiro de 2024 prejudicou o crescimento português, pois a Ryanair foi forçada a fechar a sua base em Ponta Delgada e reduzir a sua base na Madeira em 50% no verão de 2024, com risco de encerramento permanente da base”, alerta o CEO da Ryanair.
“Estes aumentos das taxas do monopólio ANA são impostos numa altura em que a maioria dos aeroportos europeus estão a reduzir as taxas para recuperar o tráfego pré-Covid e incentivar o crescimento. Estes aumentos das taxas aeroportuárias prejudicam o crescimento de Portugal, ao mesmo tempo que apenas enriquecem os bolsos do proprietário francês do monopólio ANA, a VINCI”, acrescenta.
Sobre o novo aeroporto em Lisboa, uma vez que o Governo decidiu fazer o novo aeroporto em Alcochete “ficamos satisfeitos”, apesar de ainda preferir a solução do Montijo para a nova estrutura aeroportuária de Lisboa — porque era mais rápida, afirmou o presidente executivo do grupo Raynair.
Numa conferência de imprensa realizada terça-feira em Lisboa, Michael O’Leary até não critica a data de 2034 para a abertura da nova infraestrutura, desde que se trabalhe para concretizar o projeto, mas defende que é necessário começar já a trabalhar na expansão da Portela. “Por favor aumentem a capacidade da Portela”. Se não, “como vamos crescer em Lisboa?”
O gestor da companhia de low-cost que é um dos principais operadores em Lisboa defendeu ainda as vantagens de uma solução de dois aeroportos para a capital, ainda que esta esteja prevista como transitória, e assegurou que a Ryanair tenciona voar para os dois aeroportos.
Mas manifestou uma preocupação que já não é nova com a extensão do monopólio da ANA à gestão das duas infraestruturas, defendendo que o Governo devia lançar um concurso para a operação do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete para haver concorrência.
A companhia aguarda uma audiência com o novo ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, para perceber qual a sensibilidade aos seus planos e propostas que incluem também uma rearrumação dos slots atribuídos na Portela a favor da Ryanair.
A guerra contra o aumento das taxas aeroportuárias aplicado pela ANA que “não tem qualquer justificação” e está em contradição com a política adotadas em destinos concorrentes de Portugal é uma velha causa da Ryanair. Nesta conferência de imprensa, onde esteve também o CEO da companhia Eddie Wilson, os gestores da transportadora low-cost voltaram a apelar para uma mudança na regulação económica da concessão dos aeroportos de forma a reduzir as taxas em função de aumentos de tráfego para incentivar as companhias a elevar a sua oferta.
Os gestores da Ryanair desvalorizaram ainda os efeitos positivos da introdução em maio do novo sistema de gestão do tráfego aéreo no aeroporto Humberto Delgado que, segundo a empresa de controlo aéreo NAV, iria otimizar aterragens e saídas de aeronaves e reduzir atrasos. “Não sentimos qualquer mudança ou melhora” na situação dos atrasos este ano, ainda que reconheçam que Portugal não é dos piores casos de demoras provocadas pela gestão do espaço aéreo.
Michael O’Leary, CEO da Ryanair, fez um apelo final: “Apelamos ao monopólio aeroportuário da ANA para tomar medidas e reduzir as suas taxas aeroportuárias excessivas. A decisão monopolista da ANA de aumentar as taxas em até 17% é absurda, quando a maioria dos outros estados da UE estão a reduzir as taxas para atrair investimento das companhias aéreas e incentivar o crescimento. A Ryanair é a única companhia aérea a crescer fortemente (até 35%) na Europa pós-Covid, e poderíamos duplicar o tráfego aéreo de Portugal para 26 milhões, criando centenas de empregos bem remunerados em Portugal nos próximos 6 anos. Mas, infelizmente, sem a ação da ANA e/ou a intervenção do Governo, Portugal perderá este crescimento para outros aeroportos de custo mais baixo da UE devido às taxas excessivas da ANA, que estão a forçar companhias aéreas como a Ryanair a cortar voos de/para Portugal. As ilhas regionais de Portugal já estão a perder, pois a Ryanair foi forçada a fechar a sua base em Ponta Delgada e reduzir uma das nossas duas aeronaves baseadas na Madeira, uma perda de 100 milhões de dólares em investimento, com a base atualmente em risco de encerramento graças às altas taxas da ANA”.