O Dia Mundial do Cancro do Pulmão, principal causa de morte oncológica global e nacional, é celebrado anualmente a 1 de agosto desde 2021 para sensibilizar e educar a população sobre esta doença: cerca de 5000 pessoas morrem diariamente em todo o mundo e perto de 14 em Portugal. O principal fator de risco é o tabagismo ativo, responsável por quase 80% dos casos, o que estigmatiza e conduz a menor apoio político e social. No entanto, aproximadamente 20% dos casos ocorrem em pessoas que nunca fumaram ou fumaram menos de 100 cigarros na vida. Se o “cancro de pulmão em não fumadores” fosse por si só uma doença, ocuparia o quinto lugar em mortes por cancro em 2023. Nesta população, as causas incluem fatores de risco ambiental, como gás radão, exposição passiva ao fumo do cigarro, amianto e poluição atmosférica, mas ainda há muito a ser descoberto.
Em grande parte, a causa desta elevada mortalidade resulta do diagnóstico tardio da doença, geralmente em estado avançado, quando já não é possível um tratamento de intenção curativa. Desde logo, isso deve-se à frequente ausência de sintomas na fase inicial e/ou à desvalorização das queixas, atribuídas ao tabagismo especialmente entre fumadores e ex-fumadores. Este atraso na busca por cuidados médicos é ainda agravado pelo medo do diagnóstico. Fica aqui o alerta para procurar o médico assistente perante os seguintes sintomas: tosse persistente por mais de três semanas, alteração súbita de uma tosse antiga, perda de peso inexplicável, falta de ar, dor no tórax, sangue na expectoração e deformação das extremidades dos dedos das mãos.
Para combater o diagnóstico tardio e melhorar o prognóstico desta doença, é crucial empreender políticas de saúde pública que sensibilizem a população e os profissionais de saúde sobre o cancro do pulmão e reforcem a prevenção do tabagismo. Uma medida urgente é implementar o rastreio nacional para indivíduos de alto risco (pessoas entre os 50 e os 80 anos, fumadores ou ex-fumadores há menos de 15 anos, com histórico de consumo de um maço por dia em pelo menos 20 anos) que consiste na realização anual de uma tomografia axial computadorizada (TAC) de baixa dose anual e reduz em cerca de 20% o risco de morte. Aqueles que não se enquadram nesses critérios devem evitar fumar e procurar ajuda médica se tiverem sintomas persistentes e/ou história familiar de cancro do pulmão.
Por último, é importante combater o medo do diagnóstico desta doença. A sua identificação precoce possibilita uma intervenção curativa, e, mesmo nos casos avançados, os novos tratamentos estão a melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos doentes.
As férias são um momento de convívio e partilha com familiares e amigos. Juntos somos mais fortes! Por isso aproveite para compartilhar a informação que acabou de ler. Com isso, estará a contribuir para melhorar a qualidade de vida dos que estão em risco e a fortalecer a união na luta contra esta doença através do rastreio precoce, porque “o cancro de pulmão não tira férias”!
Susana Simões *
- Pneumologista da Unidade de Pulmão da Fundação Champalimaud