Um assalto às cadeias e outras instituições de Luanda, pelo MPLA, em 4 de fevereiro, e centenas de brancos e negros atacados à catanada por bandos ao serviço da UPA/FNLA no norte de Angola, em março seguinte, foram duas ações sangrentas, esta última de caráter abertamente terrorista, que surpreenderam o mundo, quando decorria o ano de 1961.Condenadas pela NATO, pela imprensa ocidental e rapidamente reprimidas com violência recíproca pelo regime fascista português, estas ações assinalaramos primeiros dias da revolta armada do povo angolano contra o domínio colonial sobre os seus legítimos territórios, a que se seguiram desenvolvimentos semelhantes na Guiné-Bissau, 1962, e em Moçambique, 1964. Uma guerra aberta em 3 frentes e mantida pelo exército português, a mando do regime fascista, que durou 13 anos e só terminou com a libertação das colónias e a restauração revolucionária da democracia no nosso país.
Centenas de civis e militares israelitas mortos, e mais de 200 civis raptados, na sequência de uma incursão armada, em 7 de outubro passado sobre Israel, da responsabilidade do Hamas, desencadearam da parte do governo sionista uma sangrenta reação militar sobre a Palestina. A ação de caráter terrorista do Hamas, condenada pelos principais aliados de Israel no Ocidente, foi de imediato retaliada pela intervenção militar do exército israelita a que se seguiu a invasão da faixa de Gaza, isto é, do que resta do território legítimo da Palestina a ocidente, com recurso a métodos criminosos de uma violência e gravidade extremos sobre os seus dois milhões de habitantes, aparentemente imparáveis, e só com paralelo no genocídio perpetrado pelos nazis contra os judeus.
Durante 13 anos, ações violentas, algumas particularmente sanguinárias, como as da UPA/FNLA, em 61, foram pretexto para classificar como terroristas, todas as ações desenvolvidas por todos os movimentos de libertação das colónias portuguesas. Nessa sequência, como já tinha acontecido com os massacres coloniais anteriores ao início da luta armada de libertação (S. Tomé, 1953, Guiné-Bissau, 1959, ou Moçambique, 1960), sucederam-se os massacres como o de Wiriamu, 1972, em Moçambique, e as mortes de milhares de civis sob patrocínio do regime colonialista.
Desde 7 de outubro passado, a pretexto da violenta ofensiva do Hamas, agravaram-se muito mais ainda todas as ações violentas do regime sionista de Israel contra o povo da Palestina e os seus movimentos de resistência que duravam desde a criação do estado de Israel em 1948, e que tiveram um primeiro agravamento depois da chamada guerra dos 6 dias em 1967, com a ocupação israelita da Cijordânia, condenada pela ONU e por quase todo o mundo, e o início da efetiva limpeza étnica e territorial dos palestinianos e da Palestina que se lhe seguiu até hoje, bem como a recusa por parte de potências, como os EUA e o Reino Unido, do reconhecimento pleno do Estado Palestiniano, com fronteiras anteriores à guerra dos 6 dias, conforme as decisões da ONU.
Mas se, no caso português, o direito (internacional) à independência dos povos das colónias acabou por prevalecer sobre o “conveniente” pretexto para negar esse direito com base no chamado caráter terrorista das ações militares de resistência à ocupação colonial, já esse direito, com base nos mesmos pressupostos, no caso da Palestina, continua a ser-lhe negado e, com uma gravidade bem maior que no caso português, já que as cúpulas do poder a Ocidente fingem não assistir (invocando o direito à defesa de Israel) à acelerada exterminação étnica dos palestinianos e ao desaparecimento físico da Palestina que estão em curso acelerado, não condenando nem impedindo de forma efetiva e consequente este vergonhoso e hediondo crime contra a humanidade a que o mundo assiste, e todos os dias está condenando nas ruas.
Mário Abrantes