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As rolas de Bruxelas

Quem se aventurou, no mês de Agosto quente e húmido, por estas ilhas fora, à procura de um bom repouso de veraneio, certamente que terá sido confrontado com as inúmeras preocupações de gente simples e resiliente, com muitas famílias a sobreviver à custa de uma humilde economia de subsistência, sem dispensar a sua pequena horta e criação de animais domésticos.
Tenho visto de tudo. E o que mais me arrelia nesta Região é assistir à impiedosa burocracia da nossa administração pública, que em vez de facilitar e simplificar a vida das pessoas, sacrifica-as até não mais poder com uma rede de complicações burocráticas e uma lentidão de decisões, num espírito incompatível com o que foi desenhado para a nossa Autonomia, que tinha como prioridade a livre administração dos Açores pelos açorianos.
A convicção popular é que, de facto, alguns estão-se administrando à larga e à francesa, à custa dos conhecimentos, da cunha e da clientela habitual dos “boys and girls”, enquanto o povo vai-se fartando desta casta de privilegiados.
A política regional é medíocre e os seus protagonistas, na generalidade, estão longe da realidade das suas comunidades.
Vi gente desesperada com mais de três meses por uma autorização para cortar uma simples mata de arbustos para construir a sua moradia (papéis a andarem de Serviços Florestais para o município e depois pendurados na Secretaria do Ambiente), pescadores sem poderem pescar porque a grua está sempre avariada e a Lotaçor não tem piquetes ao fim de semana, centros de saúde sem ar condicionado e outros sem o mínimo de condições para receber pessoas e vi muita gente desanimada e revoltada contra os “políticos de gabinete”, especialmente pelas leis absurdas que atribuem aos meninos imberbes de Bruxelas, sem querer saber das implicações na vida das pessoas.
O caso das rolas-turcas parece uma história banal de Verão, mas simboliza o inferno em que os políticos mangas de alpaca gostam de transformar a vida de tantas famílias rurais.
A produção da vinha, em várias ilhas, é chão que já deu uvas, porque alguém acha, sentado nos confortáveis gabinetes, olhando para a Grand Place, que o mundo rural deve ser infernizado pelas pragas ou impondo quotas à pobre gente que ainda pesca de modo artesanal, deixando os grandes armadores predadores dos países ricos a abocanhar todo o atum e outras espécies ricas.
Eles acham que a rola está para nós como o faisão ou o ganso em Bruxelas, sentenciando leis impraticáveis, sem contestação dos nossos políticos e governantes, todos vergados ao poder garoto do Manneken Pis.
Os meninos de fato reluzente e gravata às riscas, pasta preta e cabelo empastado de brilhantina, que nada conhecem do nosso mundo real, é que decidem como devemos viver e comer, pouco se importando com a nossa idiossincrasia insular e longe dos centros decisores.
Pior são os nossos mais próximos, que nem copiar sabem, muito menos adaptar leis e modelos à nossa maneira de viver e ao nosso bem-estar.
Atribuem, muitas vezes, a culpa a Bruxelas, mas é a incapacidade das nossas secretarias regionais que trava muitos sectores produtivos da nossa Região.
O retrato traçado, esta semana, pelos empresários açorianos, sobre o estado da nossa economia e a falta de estratégia orientadora da governação é o mesmo que vamos ouvindo por estas ilhas fora, com muita gente desiludida com o caminho que estamos a trilhar: burocracias em tudo, pagamentos em atraso em todo o lado, lentidão nas decisões, falta de planeamento em vários sectores, desentendimento entre departamentos, bairrismos doentios de regresso e por aí fora.
Bem diz o Tio João Tarimba, no alto da sua sabedoria, olhando o mar da Baía das Canas até S. Jorge: “Amigo, as piores rolas, a pior praga, está nos nossos políticos; é uma espécie cinegética com autoprotecção garantida”.
O povo é que se lixa!
Setembro, algures nas ilhas resilientes

Osvaldo Cabral
[email protected]

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