O instituto OKEANOS da Universidade dos Açores confirmou ontem que está a estudar o fenómeno do arrojamento de meros no mar dos Açores desde as primeiras ocorrências.
“A nossa equipa do programa de monitorização costeira MoniCO tem registado dados sobre as ocorrências e recolhido exemplares com a colaboração da comunidade de utilizadores do mar; recolhido informação independente das pescas para avaliar o estado das populações naturais desta espécie; e monitorizado as condições ambientais a que ela está exposta”, explicam os investigadores do OKEANOS.
“Sendo esta uma situação que envolve análises epidemiológicas com possíveis implicações de saúde pública, o OKEANOS articulou também, desde o início, os seus esforços de estudo e monitorização ecológica com as autoridades regionais competentes na matéria (DRP, DRPM, DRV) para troca de informação e apoio na recolha de amostras para envio a laboratórios certificados”, sublinha ainda.
Enquanto se aguardam os resultados do diagnóstico por parte das autoridades, o instituto OKEANOS, “prosseguindo a sua missão de disseminar conhecimento científico ao público”, informa o seguinte:
- Os nossos estudos na zona costeira dos Açores mostram que, ao contrário de outras regiões, a população açoriana de mero apresenta tendências populacionais estáveis nos últimos anos. Não há qualquer evidência que estas ocorrências estejam associadas ao efeito direto da pesca.
- Já foram reportadas no passado situações comparáveis, envolvendo esta mesma espécie no Mediterrâneo, tipicamente associadas a surtos virais ou bacterianos, desencadeados durante períodos de aquecimento anormal do mar. Sabe-se que as doenças e patologias emergentes em espécies marinhas são muitas vezes desencadeadas por anomalias ambientais.
- Nos Açores, tem-se verificado uma substancial e persistente anomalia térmica do mar nos últimos verões, e muito especialmente durante o verão de 2024. O IPMA veio já reportar ser este o Verão mais quente dos últimos 80 anos na região dos Açores, com a temperatura da superfície do mar a atingir uns históricos 27,3º C e anomalias térmicas superiores a 2º C.
- Os habitats costeiros e as espécies neles residentes, incluindo o mero, estão especialmente sujeitos aos impactos destas ondas de calor visto que a camada mais superficial do oceano está anormalmente quente e atinge profundidades maiores que o habitual. A nossa rede de sensores tem registado consistentemente temperaturas superiores a 24ºC a uma profundidade de 25m.
- 95% dos meros reportados são animais maturos (>55 cm) encontrando-se no final da época de reprodução, sendo por isso também expectável, que estes indivíduos estejam particularmente vulneráveis durante este período, dada a energia que têm de dedicar à reprodução. Estas ocorrências, sejam ou não resultantes de infeções bacterianas ou virais, remetem-nos para o impacto que as alterações climáticas podem ter nos oceanos, afetando a sobrevivência de algumas espécies e, potencialmente, o desempenho económico de pescarias e a saúde humana. O OKEANOS alerta “para a importância da monitorização continuada desta situação, e para a necessidade de se desenvolver na Região Autónoma dos Açores mecanismos de alerta precoce para prever, detetar e atuar de forma planeada e concertada perante situações que venham a ocorrer num contexto atual de alterações globais em aceleração”. O OKEANOS afirma que “está naturalmente comprometido em contribuir para este esforço coletivo, pelo conhecimento científico que detém, pela forte ligação com todos os diferentes utilizadores do mar dos Açores, e pelo seu papel de apoio científico à administração e políticas públicas regionais”. O OKEANOS agradece “toda a inestimável colaboração prestada no terreno pela população na obtenção de informação e apoio à logística da equipa MoniCO, apelando ao reporte de arrojamento de meros ou de outras espécies nas plataformas disponibilizadas no WhatsApp MoniCO +351 916792709 (funciona apenas para mensagens e fotos) ou no formulário disponibilizado pelo GRA para o efeito”.