100+30+49+55+0+31+12 = 277 mortos na semana que intermediou esta minha crónica com a anterior, respetivamente, portanto, nos passados dias 29, dia 30, dia 31 de outubro, dia 1, dia 2, dia 3 e dia 4 de novembro. No sábado, dia 2, não houve mortos porque a ONU e a OMS conseguiram uma pausa humanitária para vacinação anti poliomielítica de crianças, processo esse que ainda assim foi violado por Israel, com o ataque de um drone sobre as filas de vacinação, o qual provocou 6 feridos.
Por dentro da frieza destes números, ninguém morreu de morte ou catástrofe naturais, ou por qualquer tipo de acidente. Todos, a esmagadora maioria civis e, de entre estes, uma maioria de mulheres e crianças, morreram porque foram bárbara e indiscriminadamente bombardeados por aviões, drones ou balas de um exército e milícias que invadiram o seu território (as Forças de Defesa de Israel, FDI), a partir do dia 9 de outubro de 2023, com o encargo vingativo de matar e destruir tudo o que lhes aparecesse pela frente, encargo que tem sido executado, e continua a sê-lo, com toda a diligência até aos dias de hoje, conforme os números apresentados em cima atestam, e como o total de 43.250 mortos ao fim de um ano (e mais 750 na Cijordânia, sob o ferro e o fogo dos colonos sionistas), cruamente confirmam… Isto sem contar, claro, com os 102.105 feridos, ou com alargamento das invasões ao território do Líbano.
Esta invasão genocida, instalando a lei do terror, comandada por um poder de extrema-direita (sionista) que domina Israel e que tem sido abundante e continuamente financiada, e militarmente guarnecida, pelos supremos defensores dos direitos humanos, os EUA (22,7 mil milhões de dólares em ajuda militar a Israel, num ano), com o apoio mais ou menos velado da UE e do Estado Português, foi encetada a pretexto de “liquidar” a resistência palestiniana em Gaza e libertar os reféns israelitas por ela capturados no ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 que, entretanto, ficaram nas suas mãos.
Sem que, até hoje, a resistência palestiniana em Gaza tenha sido eliminada ou que os reféns tenham sido libertados na sua totalidade, Israel, com a cumplicidade do mundo ocidental, ataca todos os dias, todas as semanas e todos os meses de forma criminosa, sanguinária e gratuita, os dois milhões de palestinianos que (sobre)vivem acantonados em tendas ou ao relento, tropeçando em corpos feridos sem possibilidades de socorro, vagueando entre escombros, aprisionados e acossados a tiro e à bomba, por todo o território de Gaza militarmente ocupado, sem água, eletricidade ou comida, com todas as respetivas infraestruturas, hospitais, escolas, habitações, e o edificado em geral sistematicamente destruído, cerca de 80% até à data.
Enquanto alegremente decorria e era profusamente publicitada a campanha eleitoral nos EUA e o despique entre dois cúmplices ativos e confessos deste genocídio, a semana que passou, além dos inquietantes números já citados, dá-nos mais informações igualmente preocupantes. No dia 29 de outubro dois prédios residenciais foram destruídos à bomba no norte de Gaza e todo o seu recheio humano massacrado (Beit Lahia, Jabalin, incluindo pelo menos 25 crianças e mulheres). Entretanto o parlamento israelita decretava ilicitamente o fim das atividades da ONU em toda a faixa de Gaza. Os restantes mortos da semana foram assassinados nas suas tendas de refugiados e pelo menos 46 no último hospital que ainda funcionava a norte (Kamal Adwan), estendendo-se o morticínio ao centro (campo de refugiados de Nuseirat) e ao sul (campo de Khan Younis).
Sobre esta falsamente chamada guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza, uma única boa notícia na semana em apreço: 52 países, até ao momento, assinaram uma carta enviada à ONU reclamando que sejam imediatamente suspensos os fornecimentos de armas a Israel.
Mário Abrantes