Comunidades pequenas como as nossas ilhas, profundamente dominadas pelas divisões políticas, precisam, cada vez mais, de consciências críticas.
A Autonomia açoriana está perto de completar 50 anos e se não houver consciência crítica no balanço que, necessariamente, terá de se fazer, é porque as forças dominantes pretendem reescrever a História.
Esse papel não pode ficar entregue apenas aos partidos. É preciso envolver a sociedade civil e chamar os pensadores da Autonomia, que ainda os há, para darem o contributo que precisamos na nova caminhada que se impõe.
O que os partidos vão mostrando, nos seus congressos, não aponta para bons sinais.
É raro ouvir consciências críticas, vozes que pensam pela sua cabeça, porque todos sabemos o que acontece quando alguém foge da linha obediente ao chefe.
Ainda há poucos dias tivemos exemplos, nos congressos regionais do PS e do PSD, com apenas uma ou duas vozes dissonantes da fila obediente à morrinha do costume.
Luís Garcia, provavelmente por exercer um alto cargo, que lhe dá estatuto de alguma independência consciente, espantou alguns colegas do partido ao alertar que nem tudo vai bem na nossa Região.
O Presidente do parlamento açoriano fez bem em acordar a sonolenta plateia para muita podridão que ainda reina na nossa sociedade e a urgência de uma governação mais dinâmica, que não esqueça as ilhas mais frágeis.
O que vamos assistindo, há algumas décadas, é uma espécie de tentação das chamadas “ilhas capitalinas” voltarem ao domínio dos antigos distritos, esquecendo as potencialidades de outras ilhas, com projectos metidos na gaveta dos adiamentos.
Os casos das ampliações das pistas do Pico e da Horta são inenarráveis.
O que se passou com o concurso das Termas do Carapacho é outra espécie de perseguição à potencialidade de outra ilha, como é a Graciosa.
E se formos por aí fora, nunca mais acabam as injustiças, como aquele critério estranho de apoio a cooperativas falidas numa ilha, mas que se deixa cair outra noutra ilha mais pequena.
São estes interesses escondidos, quase sempre por motivos de servir clientelas partidárias, que minam a confiança dos cidadãos nos políticos e na política.
As cúpulas dos partidos não gostam de pensamento crítico, mas é imprescindível – e politicamente saudável – que cada partido tenha os seus “grilos falantes”, caso contrário é o que se vê por todo o lado: um conformismo e unanimismo ululante que tolda as decisões e cria injustiças gritantes.
É porque as cúpulas se sentem conformadas nos seus gabinetes, rodeadas de assessores e conselheiros que só dizem (e até escrevem nos jornais) o que o chefe gosta de ouvir, que depois surgem as surpresas.
Saber ouvir a voz dos cidadãos, os observadores críticos e mesmo aqueles que têm pensamento diferente, torna um líder mais forte e mais bem preparado para enfrentar a realidade.
O que aconteceu, agora, nos Estados Unidos da América, é o expoente máximo da negação da realidade e da falta de leitura por parte do Partido Democrata e dos seus líderes.
Ignoram as vozes críticas, subestimam os adversários, dão ouvidos às elites urbanas, incluindo o pensamento dos comentadores em rebanho e, depois, são surpreendidos com o banho de realidade dos eleitores.
Por cá temos muitos exemplos deste género.
É ver, por aí, discursos, comunicados e comentários que não têm qualquer correspondência com a realidade.
Quem vive na bolha política, na maior parte das vezes, não tem noção de como vivem ou como pensam os cidadãos do chamado ‘país profundo’.
Basta assistir a umas horas de debate no parlamento regional.
É o suficiente para concluir que esta região precisa muito de “grilos falantes”.
Para aconselhar os muitos Pinóquios…
Osvaldo Cabral
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