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Nutrição, aproveitamento escolar e inteligência

Sobretudo em regiões com alimentação cronicamente deficiente, as crianças de famílias pobres tendem a apresentar um aproveitamento escolar insatisfatório. Os seus pares, que têm acesso a uma boa alimentação, manifestam um desempenho superior, incluindo resultados significativamente mais altos em «testes de inteligência».
Até há poucos anos, este fenómeno era atribuído a limitações intelectuais na perceção de observadores menos informados. Os testes de inteligência, como os Wechsler, administrados por psicólogos, são ferramentas culturalmente sensíveis, caras e complexas, cuja organização leva vários anos. Estes instrumentos servem para analisar o funcionamento cognitivo, os estilos de aprendizagem, a aptidão na adaptação ambiental e até o funcionamento neurológico. O Quociente de Inteligência (QI) é usado apenas em circunstâncias especiais, sobretudo para fins legais.
É importante enfatizar o papel de fatores genéticos nas habilidades de aprendizagem, mas os fenómenos sociológicos como o baixo desempenho académico em regiões subdesenvolvidas não se devem a deficiências intelectuais inerentes. Em vez disso, resultam de vários fatores ambientais, incluindo desnutrição, recursos educacionais inadequados, políticas desapropriadas e altos níveis de ansiedade.
Défices nutricionais durante períodos críticos do desenvolvimento cerebral podem afetar a função cognitiva. Ao mesmo tempo, a desnutrição está envolvida na origem de doenças que provocam o absentismo, frequentemente uma variável causal no baixo aproveitamento escolar.
A pobreza está na origem de níveis elevados de stress, muitas vezes devido à alimentação precária, habitação sem condições aceitáveis, ambientes inseguros e instabilidade familiar. A investigação científica confirma que a ansiedade excessiva prejudica a memória de trabalho e a função executiva, manifestando-se na pontuação obtida na avaliação da capacidade de resolução de problemas e processamento cognitivo.
As crianças em áreas empobrecidas frequentemente têm acesso limitado a uma educação de qualidade, com salas de aula superlotadas, professores com formação insuficiente e menos materiais educativos. Essa falta de estimulação e envolvimento intelectual afeta o seu desenvolvimento cognitivo, contribuindo para um menor desempenho nas avaliações quantitativas.
A primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento cognitivo. As crianças de famílias de baixos recursos muitas vezes não têm acesso a programas pré-escolares que forneçam experiências fundamentais de aprendizagem. A carência de oportunidades de aprendizagem precoce pode ter efeitos duradouros no QI e no desempenho académico.
Em muitas áreas empobrecidas, as crianças são expostas a toxinas ambientais como que podem causar danos neurológicos e prejudicar a função cognitiva. A exposição ao chumbo, por exemplo, está diretamente associada a QI mais baixos em crianças, particularmente em áreas urbanas com infraestrutura precária e moradias desatualizadas.
A introdução de programas de alimentação escolar como forma de mitigar os efeitos da desnutrição no desenrolamento das competências cognitivas tem obtido êxito em alguns países. Esses programas, sobretudo quando oferecem refeições ricas em nutrientes, podem ajudar a melhorar a saúde física das crianças, aumentar a sua capacidade de concentração e ampliar seu desempenho académico.
Por exemplo, países que implementaram programas de alimentação universal (como Finlândia e Suécia) ou programas direcionados para populações carentes (como o Programa Nacional de Alimentação Escolar do Brasil) viram melhorias nos resultados de saúde e cognitivos para crianças em comunidades pobres. Estes programas destacam o impacto positivo que uma nutrição adequada e apoio social podem ter na reversão de algumas das desvantagens cognitivas associadas à pobreza.
Um dos principais desafios em algumas regiões é o estigma associado a refeições gratuitas ou subsidiadas. Quando apenas os alunos mais pobres são visados, a participação pode ser baixa devido ao constrangimento social. Programas de acesso universal, ajudam a eliminar isso, normalizando a participação de todos os alunos, independentemente da condição socioeconómica.
Pontuações de QI mais baixas observadas em populações empobrecidas não são reflexivas da capacidade inata, mas consequentes de fatores externos modificáveis. A desnutrição, o stress e a falta de acesso a educação de qualidade exigem a intervenção apropriada dos governos e das autoridades responsáveis ao nível local.
Intervenções nutricionais e políticas inclusivas que proporcionem a todas as crianças acesso a refeições equilibradas podem ajudar a contrariar estas desvantagens, melhorando os resultados físicos e cognitivos e ajudando as crianças a atingir o seu pleno potencial. Ao abordar as barreiras nutricionais e sociais, tais programas podem contribuir para reduzir a lacuna no desempenho académico e QI entre crianças de diferentes origens económicas. Contribuem também para uma sociedade mais justa e equitativa, cuja estabilidade e conhecimento reforçam a qualidade de vida e a segurança nacional.

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