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A ligação genealógica do escritor e poeta Luís Magalhães – A uma família Açoriana

“A ténue ligação familiar de Luís de Magalhães aos Açores, recai num primo que para cá veio casar e residir, tendo deixado aqui larga descendência, de nome Pedro Paulo Figueiredo da Cunha de Mello e Abreu, que casou com D. Maria Julieta de Lima Araújo,2 a qual, por sua vez, filha do industrial Pedro de Lima Araújo e de sua mulher D. Maria Adelaide Botelho.”

Passado um século sobre a visita dos intelectuais, cientistas, escritores e jornalistas continentais aos Açores, em 1924, trazidos no velho navio Lima, e promovida pelo Dr. José Bruno Tavares Carreiro, entre eles, veio o Dr. Luís Cipriano Coelho de Magalhães, ou simplesmente mais conhecido por Luís de Magalhães (1859-1935), jornalista, escritor, poeta, deputado e ministro.
Ao ler no jornal Correio dos Açores, do dia 27, deste final do mês de Setembro, vários artigos sobre a efeméride, o nome de Luís de Magalhães soou-me familiar, e a razão porque fui alertado prendeu-se-me pelo nome ter sido mencionado numa carta endereçada a um seu primo residente e casado nesta ilha com uma açoriana.
Levantada a curiosidade, fui consultar a fonte manuscrita, e depois impressa,1 onde a referida personagem era citada.
A ténue ligação familiar de Luís de Magalhães aos Açores, recai num primo que para cá veio casar e residir, tendo deixado aqui larga descendência, de nome Pedro Paulo Figueiredo da Cunha de Mello e Abreu, que casou com D. Maria Julieta de Lima Araújo,2 a qual, por sua vez, filha do industrial Pedro de Lima Araújo e de sua mulher D. Maria Adelaide Botelho.
Entre vários papéis de família, encontramos uma carta datada de 14 de Junho de 1924, de Maria Julieta, dirigida ao então noivo,3 Pedro Paulo, na qual se refere a vinda e partida de Luís de Magalhães, nestes termos:
‘’Que pesar tenho de só, agora saber que o Dr. Luís de Magalhães é teu primo. Se uns dias antes o tivesse sabido, e como tinha a probabilidade de, a ele, me aproximar ter-lhe-ia de ti falado’’.
E acrescenta:
‘’Que insinuante fisionomia a sua que tanto nos atrai! Crê que foi teu Exm.º Primo, assim como o Conde de Nova Goa quem melhores recordações deixaram entre nós. Sabes que disse ele das nossas manifestações ? ‘’julgo-me César entrando triunfante em Roma’’. Partiram já para as ilhas do Oeste e em poucos dias aí estarão’’.
Nada mais acrescenta.
A frase de Luís de Magalhães denota bem a impressão que levou da ilha, da maneira principesca e calorosa como fora recebido e aos seus companheiros, apanágio dos ilhéus, recebendo de braços abertos desconhecidos, tratando-os como seus iguais.
Por este pequeno excerto, ignoro se Maria Julieta, conheceu de perto ou não o escritor. Não podemos provar e ficamos com a dúvida, e como desconhecia o parentesco entre ela e o seu futuro marido, essa ligação não foi abordada, e certamente com muita pena de Maria Julieta.
Não conseguimos encontrar correspondência da parte de Pedro Paulo, em resposta à carta enviada nesse dia 14 de Junho para a sua noiva que nos pudesse elucidar em que grau de parentesco teria com o escritor e poeta Luís de Magalhães, se pelo seu lado paterno ou materno.
A informação, possivelmente teria sido dada pelo próprio Pedro Paulo, em correspondência trocada, após a partida da ilustre comitiva.
A maioria das pessoas ao esvaziarem as gavetas, o que fazem é deitar fora aquilo que acham supérfluo, e as cartas depois de lidas, acham-nas inúteis, tendo o seu prazo de validade, e sobretudo se caiem nas mãos de familiares pouco interessados do seu teor, a lixeira é o seu paraíso, esquecendo-se que, por vezes, são pequenos tesouros de informação que não deviam ser
desperdiçados. São documentos e fazem parte de uma estória. Da história humana.
Um século foi passado, mas a memória persiste em ressuscitar e homenagear vultos que se projectaram no futuro, lembrados hoje, vivos para sempre…
Este é um pequeno apontamento que nos informa e envolve uma personagem de grande relevo que passou pelos Açores, deixando uma grata impressão numa jovem sensível, e sem ter a menor ideia de que, este alguém ainda era aparentado com o homem que iria em breve casar, deixando uma carta com 16 páginas, relatando episódios da sua vida e da saudade do seu amor ausente. Um documento com mais de 100 anos, precioso.
Afinal, o mundo é pequeno, e todos nós acabamos por nos aparentar uns com os outros.
Uns querem-no ser, outros renegam, quer por questões de poder económico ou ‘’casta’’ social. Mas… todos são fruto ou ramos da mesma árvore, até ao dia que se juntam naquele ermo campo que Deus, a todos junta numa justa igualdade.
1Victor de Lima Meireles, Fry João Meyreles e outras ligações genealógicas, Ed. de autor, Ponta Delgada, 2004, pág. 288.
2Maria Julieta de Lima Araújo, neta bisneta pelo meu lado materno, do meu avô Manuel de Lima Meireles.
3Só casaram na freguesia de S. José, a 30 de Maio de 1925.
Tiveram dois filhos: Luís Filipe e Eduardo Jorge de Lima Araújo Figueiredo da Cunha de Mello e Abreu, ambos já falecidos e com descendência a viverem em Lisboa.

Victor de Lima Meireles

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